MOSTRA INTERNACIONAL DE TEATRO 2009
Malabarismos... com a mente dos espectadores
Momento do MIT muito especial, que deixou rendidos todos os espectadores sem excepção, verdadeiramente fascinados pela multiplicidade de competências de Sebastián de Guz. «Actor, comediante e co-fundador do Circo Xiclo, na Argentina», conforme o apresentava o programa, mas os malabarismos mais fascinantes foram aqueles que o artista realizou ao manipular com grande destreza os seus espectadores para os pôr também ao serviço da comédia.
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Fotos URSULA ZANGGER |
Em “Niño Costrini” Sebastián de Guz mostrou-se um artista soberbo e exímio em várias artes dos malabares, do mimo, do equilibrismo. Do seu espectáculo o mínimo que se poderia dizer é que é a luminosa concretização de anos de trabalho e adestramento do corpo, por certo trabalho intenso, meticuloso, continuado. Só assim foram possíveis as acrobacias que executou quinta-feira, dia 19, na sala do Fórum Cultural.
Mas Guz é muito mais que um polifacetado artista de circo, ele é um comediante, com uma capacidade mimetista de, como um camaleão, se adaptar às vicissitudes do ambiente à sua volta.
E fá-lo com uma rapidez e uma desenvoltura desconcertantes, “obrigando” o espectador a fazer o que ele quer, manipulando os seus gestos, para obter o efeito cómico que sempre pretendeu. Revelou assim não só um sentido do burlesco, como uma capacidade notável de ler a psicologia dos espectadores presentes e “antecipar” as suas respostas.
O espectáculo de Sebastián de Guz constrói-se com base numa paródia idiomática em que a palavra (sussurrada e tendencialmente castelhana é, além do mais substituída por uma entoação metálica e distorcida, mas muito aguda. Não sabemos que efeito isto teria num público de língua espanhola – no português funciona bem –, mas cremos que seria igualmente bem sucedido, pois muitas vezes as palavras são antes substituídas por monossílabos, onomatopaicas (como o «tic-tac, tic-tac, tic-tac» que surge várias vezes durante da peça), gestualidades e muitas outras sugestões dos sentidos.
Só na parte final do espectáculo o artista abandona este registo para fazer um apontamento mais explícito, em que se revela a muita preocupação com o planeta e o repúdio do fascismo.
Longe de ser um monólogo, Guz recruta os partenaires do seu espectáculo entre o público, recorrendo aos mais variados pretextos.
Ele intima-os à participação, queiram ou “não”.
E depois ele executa espectaculares exercícios de malabares e transforma-se na Estátua da Liberdade, ele equilibra-se no cimo de várias cadeiras empilhadas, ele propicia encestamentos em estranhas tabelas na testa e, por falar em testa, ele brinca com os casais de namorados (?), introduzindo-se maliciosamente e fazendo aparecer figuras como triângulos. Depois esferas, como quando jogou com o globo. E aos seus espectadores amestrados, como se sabe, de modo obrigatório nas artes da domesticação, ofereceu recompensas, chupas-chupas argentinos...
FICHA TÉCNICA
“NIÑO COSTRINI” (humor, circo e... muito mais).
Criação e interpretação de Sebastián de Guz
(Argentina) . Duração: 50 minutos.
Por:
LC
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