Invasão?
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Fotos URSULA ZANGGER |
... Não será por acaso que o ENTREtanto é uma estrutura teatral subsidiada pelo Ministério da Cultura. Mas esse cartão de visita é coisa de somenos. Realmente há muitas e muitas companhias teatrais por esse país fora, mesmo subsidiadas – e incluímos nisso Lisboa e Porto – que gostariam de chegar perto da companhia residente do concelho de Valongo.
“Invasão” – a sua mais recente produção, tomando por tema as Invasões Francesas de há precisamente 200 anos – exprime bem essa volúpia de fazer teatro que se vem revelando em cada uma das peças que vão sendo levadas à cena, de uma forma a um tempo rigorosa e apaixonada, engenhosa e altamente insidiosa, na construção do gosto (lenta lentamente) do público do município, e na reposição de uma verdade além da conveniência dos poderes estabelecidos.
É certo que esta peça assenta muito no texto do dramaturgo – que conta a estória de um professor de História próximo da jubilação – e cuja fidelidade aos acontecimentos do passado lhe exige mostrar aos seus alunos não apenas uma Napoleão arrogante (isso aqui e fácil), mas também um D. João VI acobardado, uma D. Maria I néscia e beata, além de outras personagens que representam muito bem o estado das relações das pessoas entre si e destas com o planeta (como são o Índio Comelambe, o Feijão Escurinho, ou o Piolho de Cabeça Real).
Nâo. O que é certo é que a peça assenta sim, e muito, no trabalho do encenador, que faz o(s) actor(es) mover(em)-se num muito disciplinado espaço habitado, e onde aqui surgiu um tapete que se transforma no chapéu de Napoleão, ou um mobiliário desconcertante e prático, de onde se pode extrair uma coroa real do bico de um fogão, ou usar o frigorífico-lavatório-bar, ou a sanita amovível sob o mesmo fogão, para tornar mais evidente a finitude, impureza e vulgaridade mesmo das mais “imponentes” na pose majestades reais, ou para distanciadamente gozar com o tropicalismo alusitano do actor.
Ou por outra. Certo certo é que a peça assenta na versatilidade octópica, na sereníssima atitude reflexiva e atemporal, ou na universalidade humana vermelha-preta-amarela, ou na verve erudita/popular, ou nas várias decantações de ser monarquicamente imbecil, ou nas reencarnações sucessivas experimentadas, isso sim, magistralmente, pelo actor.
Dê-se uma vista de olhos à ficha técnica. E por fim, agora, quem quiser... leia isto como se fosse hoje... Quê?!
FICHA TÉCNICA
Criação, dramaturgia, encenação e interpretação:
Júnior Sampaio;
Cenografia: Vítor Sotto Mayor;
Adereços e figurinos: Júlio Waterland;
Música: Carlos Araújo;
Desenho de luz: Hélder Simões;
Produção executiva: Amélia Carrapito e Sofia Leal
Por:
LC
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