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    Arquivo: Edição de 20-09-2008

    SECÇÃO: Crónicas


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    Viajar de comboio

    Os comboios deixaram de estar nos hábitos de viajar. O TGV e outros vão mudar esses hábitos. Quem diria que o Metro do Porto iria tomar o lugar dos eléctricos?

    É um transporte seguro, tranquilo e dá para conversar. Os acidentes da linha do Tua foram únicos. Iria dizer que, por número de passageiros, é o mais seguro.

    «Andar de carro ou autocarro não dá gozo» – diz a Maria Rosa, nos passeios programados. As vias rápidas não deixam ver os seres integrantes das paisagens. O deslumbramento das cerejeiras e amendoeiras em flor, no vale do Douro, só o comboio o proporciona.

    Num sábado, após o pequeno- almoço tomado em Sampaio Bruno – comprado o jornal, entrar numa carruagem, em S. Bento, a caminho do Pinhão, ouvir o comboio a apitar, ao entrar no primeiro túnel, já o pensamento voa a caminho do Reino Maravilhoso de Miguel Torga!

    Os quintais de S. Bento a Campanhã, ladeando a linha férrea, mostram as vivências portuenses. São painéis de ruralidade, onde as laranjeiras e as couves parecem acenar aos intrusos; o tap…tap e os apitos correspondem à saudação!

    Vila Nova de Gaia deixa uma saudação especial, lembrando:

    – O vinho generoso é armazenado em Gaia, antes de ter o nome de Porto!

    Estação de Campanhã! – outras linhas, outras plataformas, altifalantes dando informações; gentes que vêm e gentes que vão…

    Os vidros das carruagens, pouco limpos, não deixam identificar as paragens. Não conseguimos ler qualquer placa, nem a da estação de Contumil.

    Em Ermesinde, os letreiros assinalavam bem o local. O movimento das gentes era de um grande centro urbano. O antigo dormitório do Porto não existe mais; pelo contrário, enquanto da carruagem se apearam meia-dúzia de pessoas, entraram três vezes mais, em rumo contrário à cidade do Porto.

    Caíde é uma estação da última geração – tudo funciona à grande!

    Passado o túnel do Juncal, onde tanto fumo se apanhava, quando não fechada a janela (mais nas vindas do que das idas para o Porto) e era no tempo de comprar “água e bilha, por quinze tostões”, começa o tal Reino. É o deslumbramento! Com Tormes, lá no alto, as águas do Douro parecem um lago. Se o José Fernandes, descrito por Eça, tivesse de subir à Quinta recusar--se-ia. A idílica paisagem levava-o a abancar num restaurante à beira-rio, e pedir um arroz de favas.

    Quando o rio começa a estreitar, observamos pequeninas ondulações, a caminho da Ribeira e da Foz.

    Os raios luminosos espelham no rio. A deslocação lenta aparece a fruta-cores, lembrando a procissão dos andores da Senhora da Pena, e a cadência da Música da Portela! Nas curvas do rio, o treluzir da água, em pequenos cachões, parece uma chuva de estrelas!

    Se as tainhas e os barbos falassem, viriam protestar o barulho da passagem do comboio, quando este parece beijar o rio! Como no Sermão do Padre António Vieira, de bocas abertas, iam implorar:

    – Não façam barulho, ainda estamos em retiro de férias!...

    Na cosmopolita cidade do Peso da Régua, meio comboio ficou vago. Saíram os grupos turísticos de visita ao Douro Vinhateiro e um regresso de barco. Que bom! voltar a ouvir as vendedeiras:

    – Rebuçadinhos da Régua!

    Quando o comboio partiu, a caminho do Pinhão, o jornal, “arreliado” por não ter sido aberto, caiu do parapeito da janela. Mandei-o ter paciência, pois a paisagem ainda ia ser mais tentadora, e uma máquina de vapor da linha turística do Corgo deu uma baforada de fumo negro. Passada a ponte, admirámos o leito do rio virgem até à barragem de Bagaúste. Se não tivesse sido perfurado, não teríamos o Douro navegável até ao Pinhão – erro das cotas das barragens!

    Procurar a saída obrigatória, por fora da estação (utilizada para fins turísticos), foi o terminar da romaria com um foguete de lágrimas!

    Por: Gil Monteiro

     

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