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    Arquivo: Edição de 10-07-2008

    SECÇÃO: Especial


    XV FEIRA DO LIVRO DO CONCELHO DE VALONGO

    Os meninos de Maria Lurdes dos Anjos

    Foto MANUEL VALDREZ
    Foto MANUEL VALDREZ
    Mais do que propriamente a sua poesia, aquilo que nos encantou em Maria Lurdes dos Anjos foram as histórias que contou dos seus meninos quando, com 18 anos de idade, foi colocada numa escola de Perosinho.

    Menina vinda de uma família onde o essencial nunca faltava – “menina burguesa”, disse dela própria (os pais tinham um pequeno restaurante) –, a jovem professora descobriu aí o verdadeiro mundo à sua volta, quando com estranheza via os petizes da sua sala, cerca de 80, sem calçado, tolhidos de frio, a usar de estratagemas velhos como o mundo para se aquecerem – até «faziam xixi para cima dos pés», e andavam com uma lata cheia de brasas a abanar para estas não se apagarem. Estas latinhas ficavam depois ao seu lado enquanto recebiam as suas aulas, depois de terem tratado os animais.

    Ainda melhor ideia teve deste seu mundo recém-descoberto, quando, ao escrever uma carta ao presidente da Câmara a pedir melhor condições para as crianças, que andavam assim descalças e desprotegidas, teve como resposta vir um jipe da GNR buscá-la para se explicar.

    Era assim o país de Salazar, tão admirado pelos saudosistas – dizemos nós, comentando as palavras desta humana humana.

    A escritora lembrou ainda as proibições que se faziam à entrada das vendeiras de pés descalços no Porto.

    Assim, disso sabendo, estas iam – duas a duas – de Ermesinde sem calçado e, chegadas à Areosa – limite e fronteira da grande cidade – calçava uma uma alpercata no pé esquerdo e outra outra no pé direito, e assim, com uma desculpazita esfarrapada, lá tentavam convencer a guarda a deixá-las passar. O calçado era caro nessa altura.

    E fazendo uma comparação com estes tempos de tanta sobriedade, para dizermos o menos – comentava a autora: «Agora os meninos não são felizes, porque lhes falta aprender a palavra não».

    Maria de Lurdes dos Anjos falou também um pouco do Porto onde nasceu e que ama profundamente, «granítico, nobre e leal».

    Antes o Orfeão de S. Mamede actou, e depois Jorge Vieira e os elementos da Ágorarte leram os seus poemas.

    Por: LC

     

     

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