Quando eu sair...
Quando sair,
Hei-de encostar a porta de mansinho
Sem olhar para trás, sem despedidas,
Como se me tivesse enganado no caminho.
Por detrás daquela porta, não há nada:
Nem ruas, nem casas, nem lareiras acesas,
E o sol já deixou de brilhar faz tempo.
Há pessoas, apenas, - ou serão espectros? -
Que passam e sorriem para mim,
A fútil cortesia para um quase desconhecido
Que certamente não voltarão a encontrar;
Uma imagem como de um sonho,
Que se desvanece no ar como estrias de fumo,
A realidade está algures
É para lá que eu vou.
O vento sopra forte,
Arrastando consigo as folhas que não li
Palavras que nunca escreverei.
Procuro suster o vento. Que ilusão!
Já nada importa, nem sequer as lembranças
Quando tudo estiver consumado,
Nada mais restará
A não ser as folhas ressequidas
Como tantos dos sonhos que vivi.
Por:
Nuno Afonso
|