MOSTRA INTERNACIONAL DE TEATRO
As catacumbas da psique
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Foto URSULA ZANGGER |
Se não tivéssemos gostado, di-lo-íamos com a mesma frontalidade com que nas páginas de “A Voz de Ermesinde” já uma vez comentámos uma produção do Baal 17, curiosamente também uma peça de Nelson Rodrigues, “Beijo no Asfalto”. Desta vez, a produção conjunta com os brasileiros da Vupelculae Produções Artísticas, evita, e bem, uma adaptação forçada, mantendo um registo seguro e contido, que situa a peça integralmente no contexto brasileiro, escapando a uma eventual armadilha “requerida” pelo noticiário criminal português.
Teatro pobre, com um piano como único adereço cenográfico digno de registo, a peça vive sobretudo do texto e da representação, e é um monólogo intenso, com uma torrente de texto que tem que ser esgrimida de um só fôlego.
As marcações estão perfeitas – há uma sincronia absoluta a ser exigida pela interpretação da Valsa n.º 6 de Chopin, que dá o nome à peça.
Telma Saião tem um desempenho irrepreensível, tanto mais notável quanto a uma jovem actriz como ela é, seria desculpável um pequeno deslize, que não tem, na dicção de tão caudaloso texto.
Movimentação muito precisa em palco, excelente recriação da personagem da adolescente tresloucada e, aqui e ali, do médico que a segue.
Verdade se diga que o texto de Nelson Rodrigues é meio caminho andado (mas sabe-se no que, por vezes, uma encenação menos cuidada pode dar; aqui esse perigo estava dificultado pelo conhecimento muito bom que o encenador deve ter do texto, pois é filho do próprio dramaturgo). Excelente, cheio de subentendidos, de insinuações, e retratando as voltas delirantes da (des)razão da protagonista.
Ficha Técnica
Texto: Nelson Rodrigues
Encenação: Nelson Rodrigues Filho
Interpretação: Telma Saião
Por:
LC
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