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    Arquivo: Edição de 30-11-2007

    SECÇÃO: Destaque


    MOSTRA INTERNACIONAL DE TEATRO

    A inteligência física posta ao serviço de uma ideia de teatro

    Mayleh Sanchez, venezuelana, e Fernanda Justina e Ana Amélia, brasileiras, a primeira paulista, a segunda carioca, conheceram-se em Paris e foi aí que, juntas deram corpo à aventura da Fábrica Teatro, em 2005, embora todas elas estivessem já ligadas antes, ao teatro. Na ideia da “fábrica” como construção humana colectiva, está também presente o arsenal de ferramentas como a dança, a música, a criação audiovisual e a literatura, e, evidentemente... o teatro.

    Foi Fernanda, no concreto, quem dirigiu, no Centro Cultural de Campo, o trabalho de formação desta edição do MIT, com a oficina de investigação “Poética e Linguística do Gesto” proposta pela companhia. A ideia era «desenvolver a inteligência física do intérprete, que o levará a a uma autonomia pessoal dentro da criação (...) através do estudo das diferentes possibilidades do corpo enquanto matéria dramática». No final poder-se-ia então atingir, através de uma «linguagem gestual própria e simbólica», o reconhecimento das «dimensões culturais e poéticas do gesto».

    Foto FÁBRICA TEATRO
    Foto FÁBRICA TEATRO
    Presente no MIT, a companhia trouxe a Ermesinde “Fábrica n.º 7” («duas operárias trabalham numa modesta fábrica de feijões, situada numa pequena aldeia do interior do Brasil; um dos últimos redutos artesanais da época, que sobrevive sob a ameaça de desparecer, devorada pelas grandes e novas indústrias»), peça com encenação de Mayleh Sanchez, interpretada aqui por Fernanda Justino e Ana Amélia.

    Fotos URSULA ZANGGER
    Fotos URSULA ZANGGER
    Mas vamos debruçar-nos, sobretudo, sobre a oficina de formação “Poética e Linguística do Gesto”. Num dos quatro dias em que decorreu a oficina, fomos falar com a sua orientadora. Com uma grande disponibilidade para nos acolher e falar quer desta, quer da própria companhia, Fernanda Justina adiantou que o trabalho desta visa contar as estórias fazendo valer a linguagem transformada do corpo, através de uma pesquisa e reinvenção das suas potencialidades como comunicador, para além do registo realista e quotidiano pobre. A escolha incide sobretudo sobre temas de ordem social, deixando claro a actriz que está aí presente uma questão de sensibilidade ou postura ideológica, mas afirmando também, ainda mais claramente, que a companhia fazia primeiro arte e não política.

    O grande trabalho da companhia – a que entretanto se juntaram outras figuras com a mesma origem latino-americana, que ajudaram a reforçar ainda mais o seu imaginário base – incide na pesquisa gestual, aliando assim uma perspectiva estética e ideológica.

    A OFICINA

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    Quanto à oficina, Fernanda definiu-lhe como objectivos: aprender e pôr em prática técnicas de criação, escrita gestual e composição, descobrir e usar o corpo,o gesto e o espaço cénico como meios de expressão e criação teatral, elaborar uma linguagem gestual simbólica e própria e reconhecer as dimensões culturais e poéticas do gesto.

    Para isso, a Fábrica (e Fernanda Justina) elaboraram uma Linguística do Gesto recorrendo a ferramentas idênticas às da palavra – a gramática (técnicas), os verbos (acções), os adjectivos e substantivos (imagens) e a semântica (significação a dar ao gesto). Destinada a um público amplo (actores, dançarinos, pessoas que que estudam ou questinam a dramaticidade do gesto, profissionais ou amadoras), a oficina estava a ser muito bem sucedida no juízo da actriz, que via nos seus formandos muita humildade e disponibilidade para trabalharem as dimensões propostas.

    Quanto às técnicas e exercícios preparatórios, de teatro e dança, elas consistiam, por exemplo, no desenvolvimento da força do centro do corpo, nas qualidades do movimento, na consciências das ideias de peso e contra-peso, temperatura, motores corporais, portés, manipulação corporal (marionetas), manipulação inventiva de objectos, contacto e ritmo.

    No trabalho de “Fábrica n.º 7”, a companhia citava Octavio Paz: «Podemos inventar modelos de desenvolvimento mais humanos e que correspondam àquilo que somos?».

    Pareceu-nos bem voltar a citá-lo agora, mas também a propósito do corpo e do gesto, ao ver a oficina proposta pela Fábrica Teatro e aqui conduzida de Fernanda Justina.

    Por: LC

     

     

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