Poetas de Abril
A poesia está intimamente ligada a Abril de 1974 e com ela Zeca Afonso.
Para além da Grândola Vila Morena, transformada em “hino” do 25 de Abril, Zeca Afonso – o poeta, compositor e cantor – ficará para todo o sempre como o símbolo da Revolução.
“A Voz de Ermesinde” não podia deixar de lembrar Zeca Afonso neste 25 de Abril, vinte anos depois da sua partida, porque o Zeca não morreu, ele permanece entre nós através da sua música, da sua poesia, do seu exemplo de coerência, de lutador, de seriedade para com os outros e para consigo próprio.
E é através de Zeca Afonso que homenageamos todos os poetas de Abril, todas as mulheres e homens deste país, que fizeram da sua escrita uma arma, que encheram este país de vozes que desceram à rua, que fizeram da revolução uma festa, que em festa denunciaram e falaram ao povo em discurso directo, compreensível e belo.
E porque a voz é deles, devolvamos-lhe a palavra.
CANTO MOÇO
Somos filhos da madrugada
Pelas praias do mar nos vamos
À procura de quem nos traga
Verde oliva de flor no ramo
Navegamos de vaga em vaga
Não soubemos de dor nem mágoa
Pelas praias do mar nos vamos
À procura de manhã clara
Lá do cimo de uma montanha
Acendemos uma fogueira
Para não se apagar a chama
Que dá vida na noite inteira
Mensageira pomba chamada
Mensageira da madrugada
Quando a noite vier que venha
Lá do cimo de uma montanha
Onde o vento cortou amarras
Largaremos p'la noite fora
Onde há sempre uma boa estrela
Noite e dia ao romper da aurora
Vira a proa minha galera
Que a vitória já não espera
Fresca, brisa, moira encantada
Vira a proa da minha barca.
Zeca Afonso
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Pintura VIEIRA DA SILVA |
ABRIL DE SIM ABRIL DE NÃO
Eu vi Abril por fora e Abril por dentro
vi o Abril que foi e Abril de agora
eu vi Abril em festa e Abril lamento
Abril como quem ri como quem chora.
Eu vi chorar Abril e Abril partir
vi o Abril de sim e Abril de não
Abril que já não é Abril por vir
e como tudo o mais contradição.
Vi o Abril que ganha e Abril que perde
Abril que foi Abril e o que não foi
eu vi Abril de ser e de não ser.
Abril de Abril vestido (Abril tão verde)
Abril de Abril despido (Abril que dói)
Abril já feito. E ainda por fazer.
Manuel Alegre
Por:
Fernanda Lage
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