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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 30-12-2006

    SECÇÃO: Cultura


    As Lutas Liberais no Concelho de Valongo (IV)

    Concluímos, nesta edição, a publicação da “Comunicação” sobre as lutas liberais que se travaram no concelho de Valongo, durante o Cerco do Porto (1832-1833), e que estão directamente relacionadas com a criação do concelho de Valongo, que comemorou no passado dia 29 de Novembro, os primeiros 170 anos de existência. Recordamos a fundação deste Município e o almoço que a vereação valonguense ofereceu na Travagem (Ermesinde), à Rainha D. Maria II, que assinou o decreto que o fundou.

    4. A CRIAÇÃO

    DO CONCELHO

    DE VALONGO

    Esta Guerra terminava na Primavera de 1834 com o triunfo de D. Pedro e dos Liberais. O Absolutismo estava definitivamente afastado do poder em Portugal (mas não as guerras civis, que ainda haviam de flagelar o Reino, de Norte a Sul, com os Levantamentos da “Maria da Fonte” e da “Patuleia”).

    Mas voltemos ao triunfo de D. Pedro, à vitória da causa liberal e, sobretudo, aos seus efeitos. Interessa-nos aqui, particularmente, o caso de Valongo.

    Diz-se na região, que D. Pedro IV, na conjuntura destas guerras, ao atravessar a localidade, «estranhara que ela fosse ainda simples freguesia, dado tratar-se de tão grande povoado, situado em local agradabilíssimo e importante pelo seu comércio e indústria» (António Russo Cabrita e Maria Margarida Silva, Monografia do Concelho de Valongo, p. 50).

    Ora, pouco tempo após a derrota de D. Miguel e dos Absolutistas, foi criado o Concelho de Valongo (29 de Novembro de 1836), como justa homenagem e gratidão ao povo valonguense por ter ajudado os liberais durante a Guerra.

    Nessa data, o concelho de Valongo ficou com 6 freguesias: Valongo, Alfena e Asmes (S. Lourenço de Asmes, isto é, Ermesinde), todas três do concelho da Maia; Campo e Sobrado, ambas do extinto concelho de Aguiar de Sousa; e Gandra, que pertencia ao concelho de Paredes (menos de um ano depois, a freguesia da Gandra foi reintegrada no concelho de Paredes, de acordo com o Decreto de 27 de Setembro de 1837).

    A primeira Comissão Administrativa foi presidida por José Dias da Silva e a primeira sessão da Câmara teve lugar no dia 3 de Março de 1837, na Sacristia da Igreja Matriz de Valongo. O 1.º Executivo deste Município foi eleito em Dezembro de 1837.

    No Decreto de 6 de Novembro de 1836 – publicado apenas no dia 29 de Novembro de 1836 – que determina a criação do município de Valongo, a Rainha (D. Maria II) refere, expressamente, que esta terra lhe merece gloriosa recordação por ter sido daí que D. Pedro IV, seu pai, dirigiu a vitoriosa Batalha da Ponte Ferreira.

    4.1. ALMOÇO

    Rainha D. Maria II
    Rainha D. Maria II
    DA RAINHA

    D. MARIA II

    NA TRAVAGEM

    Vinte anos após as batalhas que ali tiveram lugar e 16 sobre a criação do concelho de Valongo, D. Maria II e o seu séquito, ao regressarem de uma visita ao Minho, pela estrada de Guimarães ao Porto, foram obsequiados com um almoço na Travagem (Ermesinde), oferecido pela vereação do novo concelho valonguense.

    O Diario do Governo, do dia 24 de Maio de 1852, na primeira página, publica uma carta do Governador Civil do Porto, Visconde de Podentes, dirigida ao Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Reino, Rodrigo da Fonseca Magalhães, relativamente à visita que a Comitiva Real (Rainha D. Maria II, seu marido com o título de Rei, D. Fernando II, e os príncipes, que, mais tarde, viriam a ser reis de Portugal, D. Pedro e D. Luís) fez ao Norte do Reino, e onde se faz referência ao almoço que foi oferecido a Suas Majestades, nesta cidade, no lugar da Travagem.

    O teor da carta é o seguinte:

    «Governo Civil do Districto do Porto / Ill.mo e Ex.mo Sr. = Tenho a honra de participar a V. Ex.ª, que tendo Suas Magestades e Altezas saído hoje de Santo Thyrso ás oito horas da manhã, e tendo-se dignado acceitar um bem servido almoço que tinha feito preparar, e lhes ofereceu na ponte da Travage a Camara de Vallango (sic), a sua entrada se verificou nesta cidade pelas duas horas da tarde, dirigindo-se Suas Magestades á Real capella de Nossa Senhora da Lapa, aonde assistiram a um solemne e pomposo Te-Deum, preparado e dirigido pela irmandade da mesma capella, no qual celebrou S. Ex.ª o Bispo da diocese. (...) / Deos guarde a V. Ex.ª / Porto 18 de Maio de 1852, ás quatro horas da tarde. = Ill.mo e Ex.mo Sr. Rodrigo da Fonseca Magalhães, Ministro e Secretario de Estado dos negocios do Reino. = Governador civil, Visconde de Podentes».

    5. CONCLUSÃO

    Pelo que fica dito, ainda que de forma necessariamente sucinta, resulta a certeza de que toda a região valonguense foi directamente afectada pela situação de Guerra Civil em que o “Grande Porto” se viu envolvido, entre o Verão de 1832 e o de 1833.

    E, apesar das fontes serem contraditórias, no que respeita às descrições dos movimentos militares e, sobretudo, na contagem das vítimas que ia fazendo, também se torna evidente que os primeiros combates foram bastante violentos e provocaram grande número de mortos e de feridos, de parte a parte.

    A vida das gentes que então aqui viviam, ligadas na quase totalidade à vida agrícola, também foi significativamente perturbada. A fome e as doenças mortais: cólera e tifo iam ceifando vidas.

    As famílias foram seriamente afectadas e até a taxa de natalidade baixou significativamente, por exemplo, no caso da freguesia de Ermesinde, até 1831, registavam-se uma média de 43 nascimentos, que, durante os anos da Guerra, baixou para cerca de metade, apenas 23.

    Mas o mais importante, é que os liberais saíram triunfantes, o País pode, com algum atraso e depois de novas dificuldades e lutas internas, modernizar a sua estrutura política e rumar a um futuro de maior esperança para a qualidade de vida dos portugueses de então.

    Por: Manuel Augusto Dias

    BIBLIOGRAFIA:

    - "A Gazeta de Lisboa", vários números, 1832.

    - "A Voz de Ermesinde", várias edições, designadamente as 337 (12 de Julho de 1988), 338 (Agosto de 1988) e 339 (Setembro de 1988).

    - Beça, Humberto, Ermezinde, "Monografia Historico-Rural", Porto, 1921.

    - Cabrita, António Russo e Silva, Maria Margarida C. F., "Monografia do Concelho de Valongo", 1973.

    - Chronica Constitucional do Porto, vários números, 1832.

    - Diario do Governo, de 24 de Maio de 1852.

    - Dias, Manuel Augusto e Pereira, Manuel Conceição, Ermesinde, "Registos Monográficos", 2 volumes, Ermesinde, 2001.

    - Dias, Manuel Augusto, “A Batalha da Ponte Ferreira” in Boletim Municipal, Valongo, Janeiro de 1985.

    - Dória, António Álvaro, "Movimentos Políticos do Porto no Século XIX".

    - Martelo, David, "Cerco do Porto 1832-33 – A Cidade Invicta", Lisboa, 2001.

    - Martins, Oliveira, "Portugal Contemporâneo", Lisboa, 1881.

    - Mattoso, José (direcção de), "História de Portugal", quinto volume (o Liberalismo), Círculo de Leitores, 1993.

    - Medina, João (direcção de), "História de Portugal" / Dos tempos pré-históricos aos nossos dias, volume X [Portugal Liberal (I)], Ediclube, 2004.

    - Owen, Hugh, "O Cerco do Porto contado por uma Testemunha - O Coronel Owen", Porto 1915.

    - P. Januário dos Santos, "Alfena - Ontem e Hoje", Edição da Paróquia de Alfena, 1984.

    - Santos, Eugénio dos, "D. Pedro IV - Liberdade, Paixões, Honra", Círculo de Leitores, Rio de Mouro, 2006.

    - Silva, Domingos Oliveira, "O Convento da Mão Poderosa" (dissertação para a Licenciatura em História), Porto, 1971.

    - Soriano, José da Luz, "História do Cerco do Porto", vol. I, Lisboa, 1846.

     

     

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