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    Arquivo: Edição de 30-07-2006

    SECÇÃO: Editorial


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    É tempo de férias

    Mais um ano lectivo está a chegar ao fim, embora esteja convencida que muita tinta ainda vai correr…

    É sempre um tempo muito difícil e cansativo esta fase de avaliações, de recursos, de constantes reuniões, de inscrições, de organização de horários e turmas para alunos e professores, muito pais não têm essa noção e pensam que os professores terminadas as aulas entram em férias. Sei por experiência que não é verdade, e rendo as minhas homenagens aos milhares de professores que se encontram neste momento a desenvolver um trabalho fundamental para que em Setembro haja nas escolas condições de trabalho, quer para professores quer para alunos.

    Mas hoje é de férias que vamos falar, desse tempo em que alteramos os nossos ritmos do dia a dia, mesmo aqueles que ficam em casa. É sempre um outro tempo que normalmente dedicamos a outras actividades, por vezes fisicamente cansativas, mas que normalmente é feito com muito gosto e prazer.

    Ao longo da minha vida tive vários tipos de férias, mas duas coisas foram marcantes para mim quando era muito pequena, a família toda junta na Maia e na festa de S. Lourenço em Ermesinde e as viagens.

    Mais tarde, durante muitos anos, as minhas férias tinham sempre início após o S. Lourenço.

    O S. Lourenço era a “Festa”, pretexto para juntar a família, a festa imiscuía-se de tal forma com o funcionamento normal da casa, eram os foguetes e o fogo preso que ficavam lá guardados na casa da eira e onde, nesses dias, era expressamente proibido entrar, a chave era escondida e só o fogueteiro e o meu pai a ela tinham acesso, eram as bicicletas dos músicos que se guardavam no coberto, era o toque de alvorada com a família toda muito aprumada para ouvir os músicos a tocar na eira, era o mata-bicho, aguardente, vinho do Porto, regueifa, queijo e pão-de-ló.

    E as mulheres e homens das farturas numa roda-viva à volta do tanque e das torneiras. Eram os homens dos carrosséis e carrinhos de choque, que ocupavam os terrenos em frente e que nos ofereciam senhas que distribuíamos pelos amigos.

    De manhã muito cedo chegavam os homens dos melões e melancias, o avô encarregava-se de as escolher a preceito e lá ia dizendo: uma melancia tem que tocar como o toque num sapato, o melão quer-se pesado e perfumado!...

    O tanque de pedra enchia-se de água muito fresquinha para receber os melões, as melancias e as garrafas de vinho.

    Dois ou três dias antes da festa já era uma grande confusão na cozinha. As massas das sobremesas eram preparadas em alguidares de louça e os ovos batidos à mão.

    O almoço era servido em mesas compridas debaixo de uma ramada de uvas brancas, ladeadas de trepadeiras e arbustos muito verdes e salpicados de onde a onde por umas rosas muito perfumadas.

    No dia da feira das sementes lavradores e compradores guardavam os sacos lá em casa.

    Mais um pretexto para conversa, muitas das vezes eram pessoas que apenas se viam ano a ano.

    Era o tempo das grandes brincadeiras, na Maia com os meus primos, e na praia com colegas e amigos.

    Cresci e de tenda às costas fui acampando aqui e ali por esta Europa fora.

    Foram os tempos das grandes descobertas, de querer conhecer tudo, de perceber como este país era pequeno e atrasado, tudo era novidade.

    Ficou-me sempre uma grande vontade de viajar e conhecer, mas hoje prefiro viajar noutras alturas, em Agosto apetece-me estar só com os meus amigos, parar, interromper todo o tipo de rotinas, apreciar a natureza, contemplar o céu estrelado, andar horas a pé meditando na vida, apanhando ideias soltas e dando-lhes consistência.

    É tempo de descoberta interior, de prestar maior atenção ao mundo que nos rodeia.

    Não aceito que a sociedade de consumo comande o meu descanso…

    Por: Fernanda Lage

     

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