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    Arquivo: Edição de 30-07-2006

    SECÇÃO: Cultura


    Centro Cultural Taborda em “cruzeiro” pelo Douro

    O Centro Cultural Alberto Taborda encerrou as suas actividades deste ano lectivo com a organização de um belíssimo cruzeiro no Rio Douro. Cerca de 40 associados aderiram à iniciativa e deram por muito bem empregue o seu tempo e dinheiro. A jornada, cheia de imagens de encanto, permanecerá, por certo, largo tempo na memória de quem a viveu.

    Fotos CAT
    Fotos CAT
    Foi no passado dia 8 de Julho. Partimos da Estação de Ermesinde cerca das 9,30 horas, rumo à Régua. Muitos puderam voltar a saborear a, cada vez mais rara (para a maioria), viagem de comboio, na bastante mais reduzida Linha do Douro.

    Recordemos que, até Barca de Alva, esta Linha Ferroviária tem 203 quilómetros de extensão, desenvolvendo-se a sua maior extensão na margem direita do rio Douro. Actualmente, as composições só circulam até ao Pocinho. Trata-se de uma notável obra de engenharia do século XIX, concluída em 1887, após 12 anos de intensos e difíceis trabalhos, vencendo-se inúmeros acidentes naturais, facto perfeitamente comprovado pelos vinte e seis túneis e trinta pontes que nela se construíram.

    Pouco depois do Marco de Canaveses, o comboio aproximou-se do Rio, e os viajantes puderam começar a desfrutar duma soberba paisagem: águas calmas no Rio, e nas margens, os vinhedos a “vestir” os montes desde o cume até ao Rio, salpicados aqui e ali de aldeias e de apreciados palacetes.

    Era o Alto Douro Vinhateiro que se “descobria” à medida que o comboio avançava, cada vez mais aquecido por um Sol de Verão! Com toda a sua exuberância, apresentava-se ante os nossos olhos a Região Demarcada do Douro, a mais antiga área vitícola regulamentada do mundo.

    A natureza assume aqui uma monumentalidade que não deixa ninguém indiferente. O vale do rio Douro, antigamente feito de encostas íngremes e solos pobres e acidentados, foi-se modificando, diríamos mesmo, domando com a acção ancestral e contínua do Homem, que soube adaptar o espaço às necessidades agrícolas de tipo mediterrâneo que a região suporta.

    Esta relação, confidente e contínua, entre a acção humana e a natureza permitiu criar um ecossistema único, onde as características do terreno são aproveitadas de forma modelar, com transformação da paisagem em socalcos sucessivos, preservando-a da erosão e permitindo o cultivo da vinha. Vinha generosa que produz o tão apreciado e famoso vinho do Porto, representando, ainda hoje, o principal vector da economia local. A essa colossal actividade e querer humanos, se deve aí a fixação das populações desde a longínqua ocupação romana.

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    E foi nestas cogitações inspiradas pelo horizonte que se chegou à Régua. O relógio marcava quase 11,30. Apressadamente deslocámo-nos para o cais, onde um barco nos esperava, para nos trazer de regresso até ao Porto.

    Na recepção éramos convidados a apreciar um “Porto”, ao mesmo tempo que nos íamos acomodando no lugar que nos estava reservado. Minutos depois, o barco largava para uma viagem, rio abaixo, que duraria cerca de 6 horas.

    Mas, nem se deu pelo tempo. Enquanto nos íamos ambientando ao novo meio de transporte, de cujas vidraças, se podia admirar, num deslumbramento constante, rio e margens, o almoço ia sendo servido.

    Servido o cafezinho, subiu-se ao convés, espraiou-se o olhar em redor, enquanto se trocavam impressões. E, de ambos os lados, uma extraordinária beleza paisagística desfilava para nós. Pouco tempo depois, aparecia-nos o primeiro obstáculo no rio – a Barragem do Carrapatelo. Inaugurada em 1972, possui a maior eclusa na Europa, com 35 metros de profundidade. O nome desta Barragem vem da Casa do Carrapatelo (famosa pelo facto de ter sido assaltada pelo Zé do Telhado) que se situa na margem direita do rio Douro. Alguns minutos depois era como se estivéssemos a flutuar já num socalco do próprio rio, 35 metros abaixo, no sentido Oeste.

    E a viagem prosseguiu, sempre com as mesmas vistas para as vinhas em socalco, as Quintas a meia encosta, onde se produz o tão famoso vinho do Porto e as igrejas que justificam as seculares romarias que se realizam um pouco por toda a região.

    Aqui e ali, cruzávamos com barcos de recreio, motas de água, iates em passeio, pescadores junto às margens. E a paisagem sempre um enorme atractivo. Das cercanias serranas que delimitam o vale, de que o Rio é o meio, admira-se a beleza da giesta selvagem, a videira domesticada, uma ou outra cerejeira, laranjeira e castanheiro que pintam em vários tons de verde a tela que nos cerca.

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    Entretanto, surge outro enorme degrau no leito do rio – a Barragem de Crestuma-Lever, que serve para aproveitar, desde 1985, os caudais do rio Douro e dos seus afluentes. O nome provem de Crestuma e de Lever, duas localidades vizinhas. Esta barragem tem 25,5 m de altura e 470 m de comprimento. O desnível vencido é, desta vez, apenas de 14,10 metros.

    Poucos quilómetros além achar-se-á o Porto. Adivinha-se por aldeias maiores. Admira-se o Palácio do Freixo, que Nazoni virou para o rio. Surgem depois as pontes: primeiro a do Freixo, depois a de S. João, mais adiante a de D. Maria, a seguir a do Infante. A de D. Luís também já não tarda, avisando-nos que a nossa meta está próxima.

    Eram cerca de 18h quando chegámos ao Cais de Vila Nova de Gaia. Uma bandeira de Portugal agigantava-se perto, a lembrar o Mundial na Alemanha. Daí a duas horas a equipa anfitriã receberia a portuguesa, que se reservaria para o 4.º lugar da competição.

    Mais uma memória a reter, juntamente com aquelas que os nossos olhos interiorizaram o dia todo!

    Por: MAD

     

     

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