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    Arquivo: Edição de 28-02-2006

    SECÇÃO: Crónicas


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    Matemática, para que serve?

    Muitos responderão simplesmente: serve para nos dar cabo da cachola e mais nada. Atrasar o fim do curso e a entrega do canudo que nos irá dar hipóteses de emprego, dirão outros. E para ser um executivo, um Ministro, um Secretário de Estado e depois obter um tacho de administrador, conduzir um grande BM e ter o futuro garantido com opulentas reformas, para que serve o raio da matemática? E para ser um ás de pontapé na bola, um treinador que ensina a metê-la no meio de dois postes, pago como um xeque árabe, para que serve tanta equação? Ou ser uma pessoa famosa a debitar bem como aqueles da Quinta ou do Big Brother, para que servem os logaritmos?

    E os milhentos que pensam que para beber uns copos, um scotch do "naice", andar de boteco em boteco a ver as novidades do mercado, engatar umas chavalas, estonar largo uns guitames, saçaricar numa discoteca, destrocar algum metal, umas "cinquentolas" ou umas "centolas" para que serve tanto cálculo? Quem seria o sádico que inventou semelhante coisa que só serve para complicar a vida à gente? Tás a manjar, ó malandro? Os grandes matemáticos, aqueles que passaram a vida a gatafunhar algarismos e fórmulas no quadro, nunca foram ricos e, muitas vezes, maravam da mona com os fusíveis queimados de tanto matutar! Ricos eram aqueles para quem eles trabalhavam, os que tinham o "suminho dos guitames", as "gaitas" na carteira e que não sabiam "nestes" de teoremas nem de Pitágoras!

    O certo é que, no contexto actual de economia de mercado, em que o dinheiro que tudo compra, é o supra-sumo e o ser rico é a finalidade suprema, a mentalidade, os valores que se incutem na juventude, também têm muita influência no insucesso da matemática e de outras ciências exactas que actualmente não passam duma seca. De nada vale mudar métodos de ensino se as mentalidades e os valores não forem mudados. E isto não poderá ser feito sem mudar também o contexto, ou seja o cenário em que nos inserimos. Mas há algo que se poderia fazer.

    RUI LAIGINHA
    RUI LAIGINHA
    Em 1996, estava eu num curso de informática, já com 60 anos, era o mais velho entre um grupo de gente jovem. Uma menina, ao meu lado, olha para o PC, com ar de fastio, e diz: – Que chatice!

    Eu viro-me para ela e pergunto-lhe: – Não gosta de computadores, para que veio para o curso? – Porque preciso de arranjar emprego, diz ela.

    Ela foi aprender algo que ainda não sabe para o que serve. Ainda não sentiu a utilidade daquilo, só sabe que é necessário para o emprego que pretende, daí o seu enfado. Mas um jovem bancário que frequentava o curso e a sua mulher também empregada, aprendiam com gosto e avidez todos aqueles programas, porque reconheciam a sua utilidade, pela experiência vivida no trabalho.

    Penso que o ensino, em Portugal, no que diz respeito a certas disciplinas de aplicação prática como a Matemática, a Física ou a Química, estas mais atraentes, padecem da falta de motivação dos alunos, simplesmente porque não sabem para o que aquilo serve na vida prática. A Matemática não é Filosofia nem Literatura, embora se integre na Filosofia para demonstrar certas teses e teorias. É uma ciência precisa, que faz parte das chamadas Ciências Fortes, que precisa de ser aplicada para despertar interesse pelos instruendos.

    O aluno aprende matemática, toda aquela charada de algarismos, letras, sinais e chega a professor sem saber para o que serve aquilo na vida prática, porque, salvo raras excepções, nunca a aplicou nem precisou de a aplicar. Uma pequena percentagem que segue o campo da investigação científica vai necessitar desses conhecimentos e esses sim dão valor ao que aprenderam e até querem saber mais. Ninguém gosta de aprender nada sem conhecer a sua utilidade prática e eu que estou longe de ser um pedagogo mas já senti isto, deixo esta achega aos pedagogos, aos docentes para que a tenham em consideração e alterem o conceito de ensino deste tipo de ciências.

    Penso que, tanto quanto eu sei e se for bem implementado, sem vícios, o Projecto de Bolonha vai dar um empurrão àquilo que eu sempre pensei sobre o Ensino, a nível superior, que irá dar lugar ao Conhecimento que os estudantes terão que afirmar e provar ao longo do Curso. Assim, os alunos deverão ser postos perante os problemas científicos ou do dia a dia que necessitem dos conhecimentos de matemática para serem resolvidos, caso contrário as equações, os conjuntos, os logaritmos, a trigonometria, o cálculo diferencial, infinitesimal, tensorial, a geometria de Euclides, de Riermann etc., serão uma grande seca, sem qualquer interesse, para a grande maioria ou seja os tais 80%.

    Por: Reinaldo Beça

     

     

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