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    Arquivo: Edição de 28-02-2006

    SECÇÃO: Arte Nona


    A Comuna de Paris agora contada pelo traço de Tardi

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    Tendo por argumento o romance de Jean Vautrin (editado em 1999), o francês Jacque Tardi, adaptou à Banda Desenhada “Le Cri du Peuple” – O Grito do Povo, obra que foi editada em três volumes (“Le Cri du Peuple” – Les Canons du 18 Mars, L’Espoir Assassiné e Les Heures Sanglantes, sob chancela da Casterman, com data de 2002.

    O livro, com o enredo denso que lhe deriva da proveniência directa de uma obra literária tendo por base este cenário, tem muitos e variados motivos de interesse. O primeiro – não poderia deixar de ser – resulta da ambiência histórica em que a acção decorre, toda ela situada nos heróicos tempos da Comuna de Paris. Cruza as estórias de personagens dos meios populares (ou mesmo as do bas fond) da capital francesa com as dos rebeldes que entretanto tinham hasteado as bandeiras da revolta social e da esperança então feita palpável naqueles dias memoráveis de Paris. Algo de que, vagamente, sentimos o perfume, naqueles dias que navegaram o país de Abril, depois da queda do colonial-fascismo português.

    Essa atmosfera épica, capta-a Tardi no seu trabalho – em preto e branco puro, fazendo muito lembrar Hugo Pratt em certas vinhetas mais panorâmicas, pese embora o maior peso da cor (o preto) em Tardi.

    Aparentemente contraditória surge esta combinação do carácter épico/dramático da história e das fisionomias bufas, de opereta, que o quadrinista manteve de outras obras em que uma brisa de humor ligeiro aflora os quotidianos dessas personagens de episódios ora truculentos ora excessivos, pela violência, pela artimanha, pela cilada ou crime – lembremos que Tardi é, entre outras coisas, um mestre do policial na Banda Desenhada, se bem que o grosso da obra deste autor seja sobretudo importante pela determinada perda da inocência em matérias de enfrentamento social ou político. Aliás poucos autores fizeram tantas vezes como Tardi estes temas saltarem para as páginas dos seus livros, ficando a sua conhecida Adèle Blanc-Sec uma espécie de nata mais superficial mas, neste caso, menos espessa. (Mas cuidado, que provavelmente também não é de todo inocente a escolha de um herói feminino – que nada tem de pin up ou de visíveis atributos de sedução.)

    Em Tardi há uma outra característica, de que esta obra é, aliás, exemplar, que é a da aproximação ao real ser feita não através do realismo na imagem – o quadrinista nunca o busca – mas, antes pelo adensamento do enredo dos argumentos que, muitas vezes, procura através da adaptação de obras literárias – fê-lo, por exemplo, com autores contemporâneos como Léo Malet (como em “Brouillard au Pont de Tolbiac”), o caso presente de Jean Vautrin, Daniel Pennac (como na novela “Le Sens de la Houppelande”), do dramaturgo Daniel Prévost (como em “Sodome et Virginie”), e mesmo com autores já bem distantes do século passado, como Céline, de quem ilustrou os romances “Voyages au Bout de la Nuit”, “Casse-Pipe” e “Mort a Crédit”.

    O herói da obra de Tardi não é Antoine Tarpagnan – não o será provavelmente também o de Vautrin (cuja obra-mãe desconhecemos), mas o povo de Paris, compreendendo-se aqui não apenas o seu proletariado, mas todas as camadas populares mobilizadas para a frente de combate que deveria impedir – antes de serem derrotadas pelos exércitos de Thiers – o regresso do rei e do antigo regime de privilégios para alguns.

    Personagens de circo, polícias, prostitutas, traidores e tantos outros, todos marcam encontro em “Le Cri du Peuple”.

    Por: LC

     

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