Subscrever RSS Subscrever RSS
Edição de 31-03-2024
  • Edição Actual
  • Jornal Online

    Arquivo: Edição de 15-02-2006

    SECÇÃO: Arte Nona


    O caso singular de José Carlos Fernandes

    foto
    O português José Carlos Fernandes é um caso à parte na Banda Desenhada portuguesa.

    Nascido em Loulé, no Algarve, em 1964, abandonou a carreira de engenheiro do ambiente no Parque Natural da Ria Formosa para se dedicar inteiramente à Banda Desenhada, na qual se iniciou em 1989.

    Se a Ecologia ficou a perder, a Banda Desenhada, pelo menos, ganhou muito.

    José Carlos Fernandes trouxe para a BD portuguesa uma profundidade a que, até aí, não estávamos habituados.

    No seu caso estamos diante de um excelente desenhador, sem dúvida, mas sobretudo de um excelente desenhador de BD, onde os recursos gráficos ficam ao serviço da melhor forma de desfiar as estórias.

    Os temas deste autor metem a mão, numa linha crítica pouco habitual, sobretudo entre nós, em questões como a publicidade e a informação, a sociedade de consumo massificada, o quotidiano fastidioso.

    Mas a par desse olhar crítico, a BD de José Carlos Fernandes é surpreendentemente erudita, com referências e citações cruzadas de vários domínios das artes, sejam naturalmente as artes plásticas, sejam a literatura ou a música.

    Vem toda esta conversa – que nunca seria, aliás, inoportuna – a propósito da edição de “A Arte de José Carlos Fernandes – Antologia 1991-2005”, publicada pela Licensing Consultants em colaboração com a Panini Comics (sendo a edição portuguesa a cargo da Devir) na sua “Série Ouro – Os Clássicos da Banda Desenhada”.

    A antologia espraia-se por generosas mais de 200 páginas, incluindo obras a preto e branco – “On the Road”, “Lua de Papel/Linha do Destino”, “Amnésia Internacional”, “Evasão”, “Grandes Superfícies”, “Prémios Sensacionais”, “Ilusão”, “Lou Velvet: O Papagaio de Brutoslawsky”, “Satélites”, “O Sangue dos Anjos”, “O Tempo Contado”, No Primeiro Dia de Outono”, “O Direito à Infelicidade”, “A Mecânica das Almas” e “Polka para o Fim do Tempo” – e obras a cores – Todo o Sal do Mar”, Sweet Little Sixteen”, “Índice de Matérias”, “Um Verão sem Fim”, “Pessoas que Usam Bonés-com-Hélice” (excerto), “Somos Todos Filhos de Caim” e “O Último Combate do Tigre”.

    Presente ainda, ocupando mais de 50 páginas da antologia, “Pior Banda do Mundo” e, finalmente, algumas estórias apenas com argumento de José Carlos Fernandes – “O Crash Eólico” e “A Acção Destruidora dos Cegos” (desenhos de Miguel Rocha) e “Um Boi no Telhado” (desenho de Roberto Gomes).

    É pois uma preciosa edição esta de que agora vos damos conta, dada à estampa em 2005, e que foi produzida contando com a colaboração de muitos dos responsáveis por edições anteriores das obras do autor.

    Outros aspectos que merecem a atenção: a crítica acerada – e sobretudo o humor – como o que perpassa, por exemplo, em “Grandes Superfícies”, a atmosfera poética presente em “Índice de Matérias” ou em “O Sangue dos Anjos” – que inclui, aliás, um excerto de “As Elegias de Duíno e Sonetos a Orfeu”, de Rainer Maria Rilke –, em “O Tempo Contado” – inspirado num poema de Heiner Müller, “Vaso Coronário”, em “No Primeiro Dia de Outono”, com uma pequena citação inicial de outro poema de Rilke, “Dia de Outono”, das “Elegias de Duíno...”.

    Também a divagação ou o desvio são aflorados por José Carlos Fernandes, numa técnica levado ao seu cume pelos situacionistas, mas antes já por dadá.

    E muito mais nos há-de dar o algarvio...

    Por: LC

     

    Outras Notícias

    · Oporto’s postcards

     

    este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu
    © 2005 A Voz de Ermesinde - Produzido por ardina.com, um produto da Dom Digital.
    Comentários sobre o site: [email protected].