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    Arquivo: Edição de 30-12-2005

    SECÇÃO: Arte Nona


    Caim: recordação em tempo de memórias bíblicas

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    E, já que estamos em tempo de abundantes e repetidas referências bíblicas, que tal falarmos de “Caim”, um título muito evocativo, certamente, mas que, afinal, não tem uma correspondência directa com os tempos de Adão e Eva?.

    Com argumento de Ricardo Barreiro e desenhos de Eduardo Risso, “Caim”, editado em Portugal pela Vitamina BD Edições, já em Maio de 2002, remonta a uma ideia do argumentista concebida em 1987.

    Mas, curiosidade bem interessante, a edição original, também de 2002, é da Strip Art Features, editora criada em 1972 em Sarajevo, na Bósnia Herzegovina, ex-Jugoslávia, por Ervin Rustemagic.

    Em 1984, “Strip Art" ganhou o prémio de melhor revista de BD do mundo, no festival de BD de Lucca.

    Como se isto já não fosse pouco, em termos de interesse público, acrescente-se, pelo meio uma guerra fratricida, que levou, de uma forma terrível, o editor a ver a sua editora a ser consumida totalmente pelas chamas.

    Nesse incêndio pedeu-se uma quantidade enorme de originais de BD, contando-se entre os autores atingidos pela catástrofe os norte-americanos Doug Wildey, Joe Kubert, Warren Tufts, Sergio Aragones, George McManus, Alex Raymond, Alfredo Andriola, Charles Schultz, Mort Walker, John Prentice, Al Williamson, Gordon Bess, Bud Sagendorf, os argentinos Arturo del Castillo, Alberto Breccia, Ernesto Garcia Seijas e Carlos Meglia, e também muitos autores europeus, como André Franquin, Maurice Tillieux, Hermann, Martin Lodewijk, Pierre Tranchand, Philippe Bercovici, Giorgio Cavazzano, Attilio Micheluzzi, John Burns, Ronald Embleton, Ferdinando Tacconi, Jacovitti «e muitos muitos outros»...

    Por isso, também esta referência, em tempos a que é usual associar o apelo à solidariedade e à paz.

    Ervin Rustemagic viu-se obrigado a viver, depois, num quarto de hotel da capital bósnia com a sua família e, por fim, terminada a guerra, a refazer a sua editora em Celje, na Eslovénia.

    Mas não era propriamente da Strip Art Features que queríamos falar – tratou-se aqui apenas de uma deambulação mais que obrigatória – mas da obra de Ricardo Barreiro e Eduardo Risso.

    Desenho a preto e branco, também a fazer recordar as manchas de Comès ou um certo traço satírico em Manara, a obra gráfica de Risso parece não iludir a marca incontornável da escola argentina, que produziu autores tão significativos como o próprio mestre Alberto Breccia, e Hugo Pratt, José Muñoz, e muitos muitos mais cujo traço nos espanta.

    Mas voltemos a “Caim”. O lugar da acção situa-se numa Buenos Aires pós--apocalíptica, só que o argumento de Barreiro traz para o lugar central da cena o confronto entre classes sociais e o poder de fogo do Estado. Este poder de fogo expressa-se, pelo menos, em duas formas principais: o terror e o controlo da comunicação social. Para impedir o triunfo de uma revolta popular, o poder faz rebentar uma central nuclear, espalhando assim a morte, a doença, as mutações e a degeneração genética. É neste cenário de fundo, dantesco, que surge a história de Caim, um de dois gémeos (veremos depois que seriam três), abandonados à nascença para ocultar o que não se sabe bem. Encontrado no lixo por um grupo de marginais sem dinheiro, é salvo da morte e entregue a um gang organizado que o vai alugando no papel de filho de pedintes. Caim cedo irá acabar num reformatório, onde conhece novas humilhações.

    Depois de um tumulto, dado como quase morto, é submetido a experiências de implantações cerebrais simbióticas para que possa ser reutilizado. Aparentemente a operação falha e Caim é dado como morto.

    Literalmente despejado na rua, uma oportuna trovoada faz soldar uma ligação cerebral defeituosa e Caim volta a renascer.

    Começa aqui outra parte da estória (que inclui um memorável confronto entre as claques do Boca Juniors e do River Plate).

    Por: LC

     

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