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    Arquivo: Edição de 30-10-2005

    SECÇÃO: Cultura


    Ágora homenageou Paredes

    Com um espectáculo realizado no passado dia 14 de Outubro no Fórum Cultural, e a abertura de uma exposição dedicada àquele singular génio musical, a associação cultural Ágora homenageou Carlos Paredes. O espectáculo, "Variações sobre uma Guitarra", que teve entrada livre, foi composto por um conjunto articulado de exibições de música (belíssimo concerto de Rocha Ferreira, guitarra portuguesa, e Manuel Valdrez, guitarra clássica), bailado, canto, balada coimbrã e poesia.

    Fotos URSULA ZANGGER
    Fotos URSULA ZANGGER

    A coluna vertebral do espectáculo de homenagem levado a cabo pelo Ágora foi a recriação da música sem paralelo de Carlos Paredes, autor e intérprete de um instrumento até aí menorizado e que ele elevou à categoria de instrumento de concerto, como tem sido apontado por muitos críticos musicais.

    Para essa recriação estiveram em palco Rocha Ferreira e Manuel Valdrez, músicos cujo projecto se tem vindo a solidificar e que ofereceram ao público ermesindense um concerto notável de virtuosismo e rigor, que atravessou toda a noite, constituindo também por isso um enorme desafio de resistência e concentração aos intérpretes, já que a música de Paredes, que iam interpretando, ia dando lugar aqui e ali a vários apontamentos, como se fossem comentários, ou achegas, dos outros intervenientes na sessão de homenagem ao mestre. As "Variações", "Fantoche", "Melodia n.º 2", "Verdes Anos", "Dança Palaciana", "António Marinheiro", "Montanha e Planície", "Raiz", "Canção" foram alguns dos temas ouvidos no Fórum.

    Em cena estiveram a bailarina Vanessa Fernandes (do Balleteatro do Porto), que em dois apontamentos coreografados acompanhou os músicos que interpretavam Paredes, o canto coimbrão, que esteve a cargo de três cultores do género (Joaquim Andrade, Carlos Pimentel e Julião Santos), que em intervenções breves deram ali uma pincelada do ambiente de Coimbra a que o mestre esteve também muito ligado, o canto – com a belíssima voz e o sentido estético refinado da jovem Catarina Ferreira, iniciada assim ao lado do seu pai, o guitarrista Rocha Ferreira –, e finalmente, pontuando aqui e ali as várias intervenções de ”Variações sobre uma Guitarra”, a poesia de Carlos Carranca, que tendo aqui como mote aquele instrumento, constituía parte inseparável do espectáculo bem concebido pelo Ágora.

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    Para dizer os textos, e além do convidado mas já habitué nas sessões de poesia do Ágora, António Sousa, estiveram os elementos da Oficina das Letras da associação Álvaro Mendonça, Carlos Faria e Cláudia Almeida. Fernando Fernandes, que esteve anunciado, não pôde estar presente devido a uma questão de saúde. A voz límpida e bem colocada de Álvaro Mendonça sobressaiu, ao lado da expressividade de Carlos Faria, mas esta foi a fracção do espectáculo que menos se aproximou da perfeição, já que os textos ficaram um pouco esmagados entre a corrente da interpretação musical, e sem tempo para serem devidamente respirados e pesados, palavra a palavra.

    O décor de cena revelou uma solução engenhosa, com todos os artistas – músicos, bailarina, cantores e diseurs – ao mesmo tempo em palco.

    Os músicos à direita baixa tinham entre si, a uni-los, a presença de uma guitarra, numa simbologia perfeita da presença do eterno Carlos Paredes. Atrás e em diagonal relativamente a eles, duas mesas com o grupo de cantores e o grupo de diseurs em cada uma.

    Presença

    de Coimbra

    Carlos Faria, presidente da Direcção do Ágora, fora a sua performance de diseur, fez também as honras da casa, apresentando o espectáculo, fazendo os agradecimentos (incluído aquele, caloroso, que fez à forma como "A Voz de Ermesinde" tem acompanhado a vida desta nova associação) e apresentando o primeiro convidado da noite.

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    Joaquim Pimentel, companheiro de Paredes nos Galifões, república da eterna Coimbra, fez soar o toque de início do espectáculo, trazendo ao palco do Fórum o testemunho de quem conheceu o mestre de perto.

    Dele citou curiosas frases. «Eu era mau acompanhador», terá dito Paredes, mas o certo é que, na continuidade do seu avô, Gonçalo, e do pai, Artur Paredes, o músico e compositor sem par começou logo desde muito cedo, praticamente evoluindo por si, ainda com seis anos, a acompanhar o pai. Depois das primeiras posições ensinadas por este, começou logo a mostrar um talento fora do comum que se havia de revelar depois outra coisa que não apenas talento, o génio. Naturalmente desdizendo a proverbial modéstia do genial criador de "Variações em Ré" ou de "Verdes Anos".

    Na prisão (por ser, sem hesitação, opositor do regime de Salazar) terá construído um instrumento, peça por peça, que ainda existe, assegurou Joaquim Pimentel.

    Já quanto à exposição agora apresentada no Fórum Cultural de Ermesinde, concebida e organizada pela Associação José Afonso, e agradecendo--se evidentemente toda a boa vontade desta, era ao contrário do belíssimo espectáculo do Ágora, graficamente pobre, ainda assim modesta homenagem ao gigantesco génio criativo de Paredes – dir-se-ia talvez como ele quisesse...

    O público aplaudiu de pé.

    Por: LC

     

     

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