Mestre Fintas (II)
Esta croniqueta destina-se a falar, novamente daquele amigo - meio palmo de altura dos seus treze anos - e de um aspecto da sua multifacetada personalidade.
É que, além de mestre na arte de fintar, ele é, igualmente, mestre na arte de apostar e comerciar. De tudo faz negociatas, sendo objecto mais específico desta actividade a comida.
- Se comer o arroz, não como a sopa. Se comer o bife não como a fruta. Se comer a fruta não como o arroz. E assim sucessivamente até apanhar um "lapote" de quem primeiro sentir a paciência esgotar-se.
De seguida vêm as apostas. Tudo lhe serve. O que importa é ganhar umas "massas" para estafar nas múltiplas solicitações que o mercado de consumo lhe põe diante dos olhos.
- Aposto que como a sopa em cinco segundos. Aposto cem "paus" em como sou capaz de comer este papel. Aposto quinhentos "paus" em como vou comer o frasco da maionese.
- Comes nada...
- Sou "homem" para isso!
Não comeu porque uma mão se levantou mais alto que a aposta.
Mas, estas férias, apanhou um compincha tão louco quanto o próprio mestre Fintas - o autor desta página. E foi o fim da picada na loucura dos desafios:
- Se fores pedir pipocas àquela "boazona" dou-te cem "mecos". Mas se meteres o dedo no "ceguinho" e o lamberes, dou-te quinhentos "mangos".
Aqui a coisa complicou-se - era a empresa gigantesca para tão miserável paga.
- Não, não! Por esse preço como eu um caracol vivo. Para fazer isso, faço-te um mínimo de setecentos e cinquenta "paus". Queres? É pegar ou largar.
- Isso é que era bom! São quinhentos e nem mais um centavo.
- Ai não queres? E dás quinhentos "dele" se eu "escupir" uma "bisga" na mão e comer?
O negócio não se fechou.
Depois, ao longo daqueles dias de férias, foram saindo o cardápio e o respectivo preçário, há muito estabelecidos, para as empresas gigantescas a que sempre se quer abalançar. Na vida de mestre Fintas tudo se passa em grande, tudo tem que ser ciclópico ou não há nada para ninguém.
Perante mestre Fintas até o demónio se torna num rapaz simpático e inofensivo que ele destronará, mal chegue ao lado de lá do mundo.
- Sou "homem" para isso! Queres apostar!
Por SÍLVIA MARIA GONÇALVES
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