SECÇÃO: Arte Nona

Desenho JUANJO GARNIDO

“Blacksad – os bastidores do inquérito” (conversas ao estirador)

Editado originalmente pela Dargaud, em França, em 2001, posteriormente em Portugal pela Asa, este livro é uma viagem ao universo da criação de “Blacksad”, herói da dupla Juan Díaz Canales/Juanjo Garnido. Para quem quer conhecer melhor a Banda Desenhada, do ponto de vista criativo e artístico, trata-se de uma excelente proposta que desvenda aqui muito do que foram as técnicas, as preocupações, os cuidados e os caminhos dos autores deste moderno herói.

Juanjo Garnido, desenhador e Juan Díaz Canales, argumentista, têm entre si a separá-los a distância de Madrid a Paris, onde o primeiro, também de origem espanhola, se instalou.

A uni-los têm, contudo, uma «bela amizade» (Garnido), o que torna mais fácil a discussão do projecto. Isto e outros aspectos do trabalho que levou à criação do gato detective, é o que ocupa as páginas de “Blacksad – os bastidores do inquérito...”, um fascinante projecto da Dargaud onde podemos encontrar entrevistas com os dois autores e criadores deste policial realista em que as personagens são uma grande variedade de formas animais humanizadas (ou se, isto for uma manifestação de especicentrismo, formas humanas animalizadas), story boards, estudos, esboços, e muitas pranchas, em diversas fases de trabalho. Tudo isto acompanhado de anotações e comentários dos autores, que se tornam extremamente pedagógicos e reveladores da riqueza desta arte narrativa. Eis um exemplo disso mesmo, numa das várias pranchas reproduzidas no livro e acompanhada, como em muitos outros casos, do seu esquisso: «Esta prancha foi construída como um só movimento contínuo de câmara. Temos de início um plano cerrado sobre Statoc, em seguida um zoom que retrocede até às costas de Blacksad, até que a câmara gira em seu redor (perfil do braço), aproxima-se de Statoc e, finalmente, fixa-se na sua retaguarda».

A personagem de Blacksad tinha sido há mais de uma dezena de anos criada por Juan Díaz Canales, mas quando este a apresentou a Juanjo Garnido , este propôs-lhe desenvolver a ideia inicial e, em vez das estórias curtas que Díaz Canales inicialmente previra, realizar ums série de álbuns mais ambiciosos. Na entrevista os dois falam ainda da escolha arriscada de cruzar o género policial com a fábula, da influência do cinema na série. Por outro lado introduzem-se no livro questões como a da pesquisa cromática, a da planificação “cinematográfica” das pranchas e as influências dos autores. Um livro para aprender e compreender a BD.

Por: LC