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    Arquivo: Edição de 30-07-2005

    SECÇÃO: Destaque


    A Nau Catrineta

    Lá vem a nau Catrineta

    Que tem muito que contar!

    Ouvide, agora, senhores,

    Uma história de pasmar.

    Passava mais de ano e dia

    Que iam na volta do mar

    Já não tinham que comer,

    Já não tinham que manjar.

    Deitaram sola de molho

    Para o outro dia jantar;

    Mas a sola era tão rija

    Que a não puderam tragar.

    Deitaram sorte à ventura

    Qual se havia de matar;

    Logo foi cair a sorte

    No capitão general.

    - Sobe, sobe, marujinho,

    Àquele mastro real,

    Vê se vês terras de Espanha,

    As praias de Portugal.

    "Não vejo terras de Espanha,

    Nem praias de Portugal;

    Vejo sete espadas nuas

    Que estão para te matar".

    - Acima, acima gajeiro,

    Acima ao tope real!

    Olha se enxergas Espanha,

    Areias de Portugal

    "Alvíçaras, capitão,

    Meu capitão general!

    Já vejo terra de Espanha,

    Areias de Portugal.

    Mais enxergo três meninas

    Debaixo de um laranjal:

    Uma sentada a coser,

    Outra na roca a fiar,

    A mais formosa de todas

    Está no meio a chorar".

    -Todas três são minhas filhas,

    Oh! quem mas dera abraçar!

    A mais formosa de todas

    Contigo a hei-de casar.

    "A vossa filha não quero,

    Que vos custou a criar".

    - Dar-te-ei tanto dinheiro,

    Que o não possas contar.

    "Não quero o vosso dinheiro,

    pois vos custou a ganhar!

    - Dou-te o meu cavalo branco,

    Que nunca houve outro igual.

    "Guardai o vosso cavalo,

    Que vos custou a ensinar".

    -Dar-te-ei a nau Catrineta

    Para nela navegar.

    "Não quero a nau Catrineta

    Que a não sei governar".

    - Que queres tu, meu gajeiro,

    Que alvíçaras te hei-de dar?

    "Capitão, quero a tua alma

    Para comigo a levar".

    - Renego de ti, demónio,

    Que me estavas a atentar!

    A minha alma é só de Deus,

    O corpo dou eu ao mar.

    Tomou-o um anjo nos braços,

    Não o deixou afogar.

    Deu um estouro o demónio,

    Acalmaram vento e mar;

    E à noite a nau Catrineta

    Estava em terra a varar.

     

     

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