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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 30-07-2005

    SECÇÃO: Destaque


    "A VOZ DE ERMESINDE" NA FEIRA DO LIVRO DO CONCELHO DE VALONGO

    Um balanço da Feira

    De 8 a 17 de Julho, o Parque Urbano de Ermesinde acolheu mais uma edição da já tradicional Feira do Livro desta cidade. Com o intuito de fazer um balanço sobre o evento, A Voz de Ermesinde fez um pequeno resumo do que de mais importante aconteceu durante os nove dias do certame, ouvindo ainda as opiniões dos expositores presentes em relação ao que foi, para si, esta 12ª edição da Feira do Livro de Valongo. Opiniões estas que de uma maneira geral foram em quase tudo semelhantes, ou seja, a adesão do público em relação a anos anteriores foi maior, algo que, no entanto, não se viria a reflectir no número de vendas efectuadas que, segundo a maioria dos livreiros, se pautou pelo péssimo.

    Foto Ursula Zangger
    Foto Ursula Zangger
    O evento deste ano teve início na noite de 8 de Julho, marcada pela presença do presidente da autarquia, Fernando Melo, que efectuou uma breve passagem pelos 17 stands participantes, deixando em todos eles uma mensagem de boas vindas e de votos de felicidades, inaugurando desta forma a 12ª Edição da Feira do Livro de Ermesinde. Para o segundo dia estava marcado aquele que foi, talvez, o primeiro grande momento cultural desta edição da Feira do Livro, o lançamento das obras poéticas de Aurelino Costa e Alexandre Teixeira Mendes, ambas apresentadas pelo editor Alberto Augusto Miranda. Evento este que teve a chancela da Associação Cultural ÁGORArte, mais conhecida por Ágora, e que reuniu à sua volta um razoável contingente de público adepto da poesia. O nosso jornal também cativou muito público até junto do certame, através da realização de duas palestras protagonizadas pela investigadora e pedagoga Maria Emília Traça, a primeira ocorrida no dia 11, intitulada de “Um Livro é um Animal Vivo”, e destinada ao público juvenil, enquanto que a segunda ocorreu três dias depois (dia 14), “Em roda da Literatura Popular”. Paralelamente a estas palestras A Voz de Ermesinde procedeu à entrega de prémios relativos a dois concursos por si promovidos, nomeadamente “Um Conto de Natal”, e “Quadras Sanjoaninas”. Pelo meio destes dois eventos assinados pelo nosso jornal, a Associação Cultural Ágora voltou a entrar em acção, tendo promovido uma conferência com o conceituado escritor Manuel António Pina. Até ao final do evento há apenas a destacar a presença inesperada, uma vez que não constava do programa oficial da Feira, do escritor Leopoldino Serrão, que promoveu junto do stand da sua editora, a Ausência , o seu último livro, “Grandes Discursos Políticos”. Aliás, um dos aspectos negativos desta Feira foi precisamente a quase ausência de nomes ligados à literatura, uma vez que exceptuando as iniciativas de A Voz de Ermesinde, da Associação Cultural Ágora e à última da hora, da Editora Ausência, que trouxeram até ao certame alguns nomes ligados ao mundo das letras, a Feira do Livro não recebeu qualquer escritor(a).

    No mínimo uma situação inexplicável, ou não fosse este evento uma Feira do Livro, um local onde não só se deve promover o livro, mas também o seu autor, e por isso nada melhor do que trazer o próprio criador da obra ao local para dialogar com os seus leitores. Aspecto este importante e que merece, sem dúvida, a reflexão quer da parte da organização, quer por parte dos expositores, e a ter muito em conta para as próximas edições. Aspecto positivo a frisar foi a adesão de público ao evento, um número superior ao de anos anteriores, provando deste modo que a mudança de data da Feira foi uma aposta acertada por parte da organização. Uma última referência para a presença dos andarilhos e dos mimos, que protagonizaram momentos de diversão e magia junto do público.

    A VOZ

    DOS LIVREIROS

    Foto Manuel Valdrez
    Foto Manuel Valdrez
    Após este breve resumo do que foram os nove dias da Feira do Livro a nível de actividades culturais, chegou a altura de ouvir alguns dos intervenientes directos no evento, mais concretamente os expositores. Um a um, A Voz de Ermesinde percorreu os 17 stands com o intuito de ouvir os livreiros, para também eles fazerem o balanço da sua participação na Feira. Como em qualquer tema ou assunto, as opiniões divergiram de uns para outros, houve quem achasse que o evento foi bem organizado, outros houve que discordaram desse ponto de vista. De um modo geral todos concordaram que este ano o público aderiu em maior número à Feira, algo que, no entanto, não se traduziu num número de vendas maior, como era esperado por muitos. Este foi, aliás, um aspecto comum focado pelos livreiros, ou seja, o fraquíssimo número de vendas que foram efectuadas em nove dias de actividade.

    Para Elizabete Oliveira, do stand da Licultura, o número elevado de pessoas a frequentar a Feira deste ano não se traduziu na quantidade de livros a vender, «estávamos claramente à espera de vender muito mais do que aquilo que vendemos. O espaço em si era muito bonito, a organização foi boa, o número de expositores também era razoável, e o produto a vender, de um modo geral, também era bom. Por tudo isto, esperávamos vender bem mais. Só que o que se viu foi as pessoas a passarem, a verem os livros, mas não a comprarem. É o reflexo da crise que o país atravessa». Quem já esperava esta fraca onda de vendas foi Manuel Branco, da Casa Branco, que na Feira representava as editoras Livros do Brasil, e a Platáno Editora. Na opinião do expositor, quem vier para um evento destes com a intenção de ganhar dinheiro, pode ficar em casa, pois as pessoas hoje em dia não querem saber dos livros para nada. Justificou a sua presença na Feira, simplesmente, como uma forma de publicitar a sua casa comercial, nada mais. «Por dia vendia uma média de três livros, e já não foi mau, não esperava muito mais. Posso até dizer que se vendeu um pouco mais do que em relação ao ano passado, mas mesmo assim não foi nada de especial. Em relação ao resto, e em particular à organização, acho que tudo correu bem. Apenas quero fazer uma chamada de atenção para os estacionamentos junto à Feira, ou melhor, à falta de estacionamentos. Acho que todos os expositores deveriam ter um lugar cativo para estacionar os seus carros durante o evento. Pois não tem lógica termos de estacionar os carros longe do local, isto quando temos de carregar e descarregar material», queixou-se Manuel Branco.

    Presente na Feira pelo terceiro ano consecutivo esteve Manuela Flores, a representar a Saudiforma, especializada em livros da área da saúde. Péssimo!, foi este o comentário que fez a livreira para descrever o balanço de vendas do seu stand, salientando, no entanto, que este facto é um pouco compreensível, pois a Saudiforma oferecia ao público livros específicos da área da saúde, e a maior parte das pessoas queria encontrar outro tipo de literatura.

    Já Tina Rodrigues, da Crerital, optou por abordar o aspecto da convivência salutar que durante os nove dias de Feira existiu entre todos os expositores. «Gostei dos colegas de todos os stands. Sem excepção, todos foram espectaculares, é tudo boa gente. Adorei o lanche/convívio que organizámos no penúltimo dia da Feira, foi um momento de convívio muito bonito entre todos. Foi a única coisa que valeu. O resto, nem vale a pena falar, pois as vendas foram uma miséria, as pessoas passavam junto do meu stand e nem se aproximavam, antes pelo contrário, até fugiam, só para não cair na tentação de comprar algo. Mas é compreensível, pois as pessoas não têm dinheiro, estão em crise. Em relação à organização também não foi lá grande coisa, pois deveria haver espectáculos de maior qualidade para animar um pouco mais a Feira», considerou. Aspecto da organização que também mereceu algumas críticas da parte de Delmar Ribeiro, da Delmar Representações, que opinou que deveria haver uma maior animação junto dos stands, nomeadamente com a presença de mais escritores, factor este que em seu entender poderia ajudar um pouco mais às vendas, que no seu caso também não foram grande coisa. Uma presença habitual neste certame tem sido o Alfarrabista João Soares, que referiu que, no seu caso específico, o aspecto da procura a determinadas obras foi maior que o número de vendas efectuadas. Ponto este que o deixa satisfeito, pois recebeu algumas encomendas para obras que não expôs na Feira, mais concretamente enciclopédias, e que tiveram alguma procura pelo público em geral.

    POUCO INTERESSE

    PELA CULTURA

    Foto Manuel Valdrez
    Foto Manuel Valdrez
    Para Manuel Almeida, da Marina Editores, o destaque vai para o local onde a Feira foi realizada, que na sua opinião é muito bonito e agradável. Para este expositor, um dos mais antigos da Feira, de tal maneira antigo que até já se esqueceu do número exacto de anos em que participa no evento, a elevada adesão de público merece nota positiva. «Pena foi que não tivessem comprado nada. Mas temos que ser realistas, ou seja, hoje em dia o livro não é um objecto fácil de se vender. E neste aspecto não podemos apenas culpar a crise que o país atravessa como a principal razão para as pessoas não comprarem livros, mas também temos de ver o facto de que actualmente as pessoas não lêem, não consomem livros. Este é também um dos aspectos que temos de ter em conta quando falamos na crise do mercado livreiro». Opinião semelhante teve Álvaro Mendonça, membro da Associação Cultural Ágora, que foi, como já antes referimos, uma das principais dinamizadoras de actividades culturais no evento. Para o representante do Ágora, a participação da sua associação na Feira não foi tanto com o objectivo de vender livros, mas sim de divulgar a cultura junto da comunidade. Neste campo Álvaro Mendonça mostrou-se muito desiludido, uma vez que «o público que por aqui passou mostrou muito pouco interesse pela cultura. Para além de termos trazido até aqui alguns escritores de referência, procurámos também mostrar ao público alguns das actividades culturais que o Ágora tem feito, e vai continuar a fazer, e o que pudemos constatar foi exactamente isso o que eu disse há pouco, ou seja, as pessoas não querem saber da cultura para nada. Uma visão que está errada, pois a cultura é uma arte que torna os homens melhores», sublinhou Álvaro Mendonça.

    Além destas, entre as editoras de renome presentes na Feira deste ano encontramos a Caminho, a Campo das Letras, a Porto Editora, a D. Quixote e a Ausência. E em todas elas ouvimos o mesmo, ou seja, queixas e mais queixas relativas ao número de vendas. Na Ausência, por exemplo, o que “safou”, como referiu Tamara Suarez, foram os mini-livros que a sua editora vendeu, e que tiveram alguma procura (e saída), junto do público. Para o ano, os desejos são unânimes, ou seja, que o número de vendas seja claramente maior, e que deste modo valha a pena uma nova participação de todos no evento.

    Por: Miguel Barros

     

     

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