Subscrever RSS Subscrever RSS
Edição de 31-03-2024
  • Edição Actual
  • Jornal Online

    Arquivo: Edição de 15-05-2005

    SECÇÃO: Crónicas


    foto

    Esperança ou Quimera?

    As últimas eleições legislativas restituíram confiança e amor próprio (eu sei que o termo da moda é auto-estima, mas prefiro assim, como era tradicional) à nossa gente, esta é uma asserção que me dispenso de justificar, porque todos a sentimos por verdadeira. O estilo de José Sócrates, sóbrio, ainda que, às vezes, pouco esclarecedor, sereno e determinado permitiu-lhe, não apenas obter a maioria absoluta no Parlamento, mas também o quanto baste em tempo para que demonstre se estávamos certos ao confiar-lhe os destinos da governação. Arquitectou o seu governo e fez as escolhas que entendeu adequadas à mise en oeuvre do seu projecto político. Salvo o murmúrio de algumas vozes dissonantes, mas dispersas e pouco autorizadas, o silêncio expectante é bem audível.

    Certas medidas anunciadas parecem responder aos anseios gerais e revelam coragem para enfrentar os grupos de pressão costumeiros; outras, embora pareçam positivas, demandam maior ponderação e menos voluntarismo para surtirem o efeito desejado; são muitos os que aguardam, impacientes, a apresentação de um projecto ambicioso, exequível e bem estruturado capaz de motivar todos os que, independentemente de tendências partidárias, queiram contribuir para transformar a sociedade, torná-la mais rica, justa e tolerante, reduzindo tensões e criando disponibilidades. Para tal é indispensável definir objectivos globais e sectoriais, dar a conhecer as grandes linhas estruturantes, enunciar as estratégias que vão ser adoptadas, tendo em conta todas as variáveis que podem interferir nas medidas a executar. É verdade que foi aprovado na Assembleia da República o projecto que o governo aí apresentou pouco depois da sua investidura, mas todos reconhecem ter sido pouco detalhado, sobretudo cauteloso.

    Quer-me parecer que vai sendo tempo de enfrentar as nossas tradicionais debilidades com inteligência, bom senso e arrojo. Não basta fixarmos o nosso empenho no cumprimento das obrigações orçamentais para responder ao famoso Pacto de Estabilidade e Crescimento ditado por Bruxelas. É imprescindível levar a cabo reformas profundas da economia nacional, tornando-a ágil, diversificada e competitiva, geradora de mais e melhor emprego, de capacidade expansiva voltada também para o exterior, determinada em modernizar-se. Cabe ao Estado envidar esforços no estímulo ao empresariado, proporcionando-lhe condições para o desenvolvimento das suas iniciativas, eliminando entraves burocráticos, e promovendo a intensificação da pesquisa em novas tecnologias, de mãos dadas com as universidades e outras instituições de ensino superior. Deve empenhar-se igualmente na defesa dos trabalhadores face às arbitrariedades das multinacionais e mesmo de empresas de raiz portuguesa que, na desenfreada procura do lucro, não hesitam em deslocalizar-se, o que provoca perda de milhares de postos de trabalho e o enfraquecimento do nosso parque industrial, em suma, a agudização dos desequilíbrios económicos que constantemente nos ameaçam como se fora um mau fado.

    Ilustração Rui Laginha
    Ilustração Rui Laginha
    É imprescindível que o governo desperte nos portugueses uma vaga de entusiasmo capaz de revigorar a sociedade, por forma a inverter o aumento do desemprego, rendibilizar o ensino, intensificar a formação profissional, introduzir no mercado de trabalho essa força imensa de pessoas válidas que ainda não têm emprego, apesar de qualificadas com licenciaturas e mestrados, ou que o perderam e não conseguem encontrar outro.

    Se alguns dos nossos parceiros europeus têm conseguido espantosas recuperações, porque não haveremos nós de alcançar igual ou mesmo superior desempenho? Terão, porventura, recursos humanos de índice mais elevado que o nosso? Já demonstrámos em muitas situações que a nossa gente é dotada de enormes capacidades que aguardam ocasião de se revelar, desde que lhes sejam proporcionados os meios de formação e de organização adequados. Por muito que custe a certas pessoas admitir, há sectores onde atingimos níveis de excelência, por exemplo no futebol profissional em que alcançámos títulos europeus e mundiais, na literatura onde autores portugueses têm obtido prestigiados galardões internacionais e muitos atingiram a consagração pública, na música em que uma plêiade de cantores vão impondo o seu talento nos mais variados cantos do globo.

    Convém lembrar que a Irlanda teve, durante anos, índices económicos semelhantes aos nossos, aos da Grécia e aos da Espanha para, encetar um período de extraordinário desenvolvimento em que atingiu 7% de crescimento do Produto Interno Bruto (P.I.B.) e acompanha a média comunitária se não a suplanta. Ultimamente, tem-se referido o caso da Finlândia que, há meio século, era um país muito pobre com metade da sua população empregada na agricultura e que, nos anos 70, arrancou para uma notabilíssima recuperação com um forte investimento no sistema de educação e no sistema de Investigação e Desenvolvimento. Desde o início da década passada regista um crescimento do PIB de 3,7% anual, enquanto o nosso país se queda pelos 1,3% sendo que a média da União Europeia é de 2,3%. O modelo finlandês apostou no ensino de quatro “linguagens”: a língua materna, a “linguagem da matemática”, a “linguagem da Internet e das Tecnologias da Informação e Comunicação” e ainda da Língua Inglesa como veículo de interacção com a comunidade internacional.

    Foi no modelo finlandês que José Sócrates se inspirou ao propor o Plano Tecnológico para arrancar Portugal da “apagada e vil tristeza” em que se encontra. Todos esperamos que a prática do seu governo corresponda ao modelo que lhe serviu de inspiração, para galvanizar os portugueses, conduzindo-os ao horizonte de prosperidade por que todos ansiamos.

    Por: Nuno Afonso

     

     

    este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu
    © 2005 A Voz de Ermesinde - Produzido por ardina.com, um produto da Dom Digital.
    Comentários sobre o site: [email protected].