Um parque emparedado
Se o povo pensa que vive numa democracia autêntica, que tire daí a ideia, pois os interesses económicos estão acima de tudo. Já não temos Salazar a ditar, mas temos o grande capital financeiro através das suas “imobiliárias” cujos interesses passam por cima da vontade popular e do bom senso. Todos os grupos económicos têm uma.
UM PARQUE DA CIDADE
SEM NENHUM HORIZONTE
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Ilustração Rui Laginha |
Assim, vamos ter um parque da cidade sem largos horizontes, ensombrado pelo betão que o vai emparedar. Um espaço verde enclausurado em muralhas de cimento armado e devassado por milhares de olhos que, das janelas dos prédios, vão retirar aos seus utentes, a privacidade ansiada. E a visão do mar que, vista daquele espaço, devia ser livre, ampla e luminosa, passa a ser filtrada e obscurecida por inestéticas bancadas, viadutos e hotéis que, mais uma vez, vão privatizar e rentabilizar a paisagem que é de todos. Um espaço que se manteve durante tantos anos impoluto, entregue agora à paranóia arquitectónica, ao mau gosto e à especulação imobiliária.
A INTERVENÇÃO
Esqueceram os senhores arquitectos e paisagistas que nos locais plenos de beleza natural, a melhor arquitectura é não fazer nada. É a simplicidade, a arquitectura da Natureza que deve ser libertada e preservada.
A intervenção humana, se necessária, deverá ser dissimulada em toda ambiência envolvente. É dos cânones.
Por:
Reinaldo Beça
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