Subscrever RSS Subscrever RSS
Edição de 31-03-2024
  • Edição Actual
  • Jornal Online

    Arquivo: Edição de 15-04-2005

    SECÇÃO: Destaque


    No nosso tempo...

    Todas as gerações têm tendência para assumir uma atitude crítica frente aos jovens: desordeiros, indisciplinados,... sem responsabilidades no presente ou capacidade para assumir compromissos frente ao futuro,... sem interesses culturais, políticos ou sociais... enfim, todos sabemos que “no nosso tempo” as coisas eram diferentes, entenda-se, melhores!!! E o rol das críticas tende a aumentar na razão directa do aumento das idades de quem critica.

    Por isso, sempre me impressionou a capacidade que certos anciãos têm para valorizar os jovens. (Quando digo anciãos, penso nesses homens e mulheres, enriquecidos pela idade e pela vida, e também desgastados por elas, que são os depositários da nossa memória, da nossa experiência, da nossa sabedoria. E quando me refiro aos jovens penso nas pessoas concretas – e não nesse vago conceito de “juventude” que quase todos presumem ter como atributo do espírito – com as características de turbulência e rebeldia que lhes são próprias, depositários do nosso entusiasmo, da nossa ousadia e da nossa esperança.)

    Dizia eu, então, dessa capacidade de valorizar os jovens, característica de uma verdadeira sabedoria de vida que já não se deixa enganar por ingenuidades, nem se deixa abater por realismos. Conheci algumas pessoas assim e penso nelas sempre que a crise de realismo que afecta as pessoas da minha geração – os que atravessamos agora o meridiano da vida – me ofusca o horizonte da esperança.

    João Paulo II foi uma dessas pessoas. A ele todos tivemos a oportunidade de conhecer, pelo menos em algum dos seus rasgos, gestos, aparições mediáticas, palavras... E para mim, ao escrever estas linhas sobre os jovens, a sua figura torna-se-me incontornável, exactamente por essa proximidade tão grande que ele sempre teve com as diversas gerações de jovens que acompanhou ao longo da sua vida e do seu pontificado. Nunca permitiu que a idade, o cansaço, as doenças, as ocupações, as responsabilidades, o afastassem da sua rota sempre convergente para o lugar dos jovens: «Eu procurei-vos e vós viestes ter comigo. Agradeço-vos», foram algumas das últimas palavras que pronunciou. Alguns interpretaram-nas como sendo dirigidas aos jovens pois, Mons. Dziwisz ter-lhe-ia dito, momentos antes, que a Praça de São Pedro estava repleta de jovens que o acompanhavam em silêncio e oração.

    No entanto, esse sentimento fortemente espiritual próprio dos jovens que o Papa soube capitalizar, não é o ponto de chegada. E também João Paulo II não parou aí. Foi a outros lugares que ele os quis conduzir: o lugar da humanidade, da misericórdia e do perdão, da denúncia das estruturas que ameaçam e escravizam tantos homens e mulheres nossos contemporâneos, do compromisso. Fazendo uma leitura rápida de duas das suas últimas mensagens dirigidas aos jovens (Mensagem do Papa João Paulo II para a XX Jornada Mundial da Juventude, Colónia (Alemanha), Agosto de 2005 (JMJ) e Mensagem para o Dia Mundial de Oração pelas Vocações, 17 de Abril de 2005, com o tema Chamados a fazermo-nos ao largo (DMOV), escritas em Agosto de 2004) é fácil encontrar algumas dessas interpelações que foram uma constante na sua mensagem:

    A VERDADE ÚLTIMA

    DAS COISAS

    “Caríssimos, é importante aprender a perscrutar os sinais com os quais Deus nos chama e nos guia. Quando temos a consciência de sermos guiados por Ele, o coração experimenta uma alegria autêntica e profunda, que é acompanhada por um desejo sincero de O encontrar e por um esforço perseverante em segui-lo docilmente.” (JMJ)

    A DENÚNCIA

    DAS FALSAS SOLUÇÕES

    “Jovens, não cedais a falsas ilusões nem a modas efémeras, que muitas vezes deixam um trágico vazio espiritual! Recusai as soluções do dinheiro, do consumismo e da violência dissimulada que por vezes os meios de comunicação propõem.” (JMJ)

    A FÉ QUE NÃO SE DESLIGA

    DO COMPROMISSO SOCIAL

    “A adoração do verdadeiro Deus constitui um acto autêntico de resistência contra qualquer forma de idolatria. Adorai Cristo: Ele é a Rocha sobre a qual construir o vosso futuro e um mundo mais justo e solidário. Jesus é o Príncipe da paz, a fonte de perdão e de reconciliação, que pode irmanar todos os membros da família humana.” (JMJ)

    A FÉ UNIDA AO COMPROMISSO

    COM A RAZÃO, O ESTUDO, A CIÊNCIA

    “(Em Colónia)... aprendereis a conhecer melhor alguns santos (...). Entre eles, gostaria de citar em particular Santo Alberto Magno e Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) que (...) procuraram apaixonadamente a verdade. Eles não hesitaram em colocar as próprias capacidades intelectuais ao serviço da fé, testemunhando assim que fé e razão estão ligadas e que uma se refere à outra.” (JMJ)

    A INTIMIDADE

    COM A PESSOA DE JESUS

    “Caríssimos jovens, amigos e amigas! Confiai-vos a Ele, escutai os seus ensinamentos, fixai o vosso olhar no seu rosto, perseverai na escuta da sua Palavra. Deixai que seja Ele a orientar cada uma das vossas buscas e das vossas aspirações, cada um dos vossos ideais e dos desejos do vosso coração.” (DMOV)

    A educação e o cuidado da fé que é proposta aos jovens e a todos nós, é mais do que uma vaga espiritualidade, fruto da disciplina interior e da conjugação das energias cósmicas. É o seguimento de uma pessoa que deu a sua vida para que cada pessoa tenha via abundante. E esse dom da vida pela vida dos outros é a marca dos discípulos de Jesus. Foi este seguimento que João Paulo II ofereceu aos jovens.

    Que os jovens saibam fazer fecundar esta herança.

    Que, com eles, a nossa esperança no futuro seja renovada em cada dia que passa.

    Por: LURDES FIGUEIRAL

     

     

    este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu
    © 2005 A Voz de Ermesinde - Produzido por ardina.com, um produto da Dom Digital.
    Comentários sobre o site: [email protected].