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    Arquivo: Edição de 30-03-2005

    SECÇÃO: Cultura


    Barraca em Ermesinde (recolha da autora)
    Barraca em Ermesinde (recolha da autora)

    As barracas de palha milha

    Barraca em Angeiras (Matosinhos). Imagem recolhida de "Construções Primitivas em Portugal", de Ernesto Veiga de Oliveira, Fernando Galhano e Benjamim Pereira. Publicações Dom Quixote. Colecção Portugal de Perto.
    Barraca em Angeiras (Matosinhos). Imagem recolhida de "Construções Primitivas em Portugal", de Ernesto Veiga de Oliveira, Fernando Galhano e Benjamim Pereira. Publicações Dom Quixote. Colecção Portugal de Perto.
    Não havia casa de lavoura em Ermesinde que não tivesse uma ou mais barracas de palha milha. As barracas, ou cabanas, como são conhecidas noutras regiões, são um caso muito curioso de reciclagem e aproveitamento total da palha milha, alimento do gado depois do Inverno e abrigo para os casulos, lenha miúda, caruma e alfaias e, por vezes, o carro de bois.

    Estas barracas tinham uma estrutura simples. As varas formavam uma armação de duas águas com um dos topos fechado. As varas ou caibros eram ligeiramente enterradas no solo e tinham um intervalo aproximado de um metro umas das outras. Esta armação era em seguida como que tecida por um ripado horizontal.

    Podiam ter aproximadamente 15 m de comprido por 4 de largura e a sua altura rondava os 4m.

    Eram um dos lugares preferidos para as brincadeiras de Inverno, protegidas da chuva, do vento e do frio. As galinhas também gostavam de picar nos casulos à procura de algum grão de milho que entretanto tivesse ficado esquecido. Na casa dos meus pais também se guardava na barraca um dos carros de bois, local ideal para eu montar as minhas casinhas, fazer teatros e saltar para cima da palha.

    Tenho saudades daquele cheiro a palha milha, do cheirinho a resinas das pinhas e da caruma. Aliás as carumas eram as minhas agulhas para cozer umas folhas muito largas duma planta que dava umas flores amarelas. Aquelas folhas serviam para tudo, tanto davam para fazer roupa de bonecos como para cortar aos bocadinhos que, umas vezes eram dinheiro e noutras passavam por sardinhas.

    Barrca em Aldoar (Porto). Recolhido da obra citada.
    Barrca em Aldoar (Porto). Recolhido da obra citada.
    As casas de lavoura tinham destes mistérios, em que tudo servia para fazer de tudo!

    Que pena que eu tenho das crianças a quem não dão a oportunidade de serem criativas, de improvisarem os seus brinquedos, de criarem histórias, de sentirem os cheiros, de criarem casinhas e não terem de brincar em casas estereotipadas, iguais às reais, onde não há mistérios, nem bruxas, nem fadas más.

    No fim da Primavera as barracas ficavam despidas, provocadoras. Trepar até ao cimo era tarefa difícil, mais própria para os rapazes mais velhos, eu tentei várias vezes, mas nunca consegui.

    No fim do Verão eram novamente vestidas com a palha nova, dourada, com folhelho ainda fresco e todos os anos se repetia este final do ciclo do milho.

    Por: Fernanda Lage

     

     

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