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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 30-03-2005

    SECÇÃO: Destaque


    "Última Ceia", 1495-97. Têmpera e óleo s/ intocato.       Por: LEONARDO DA VINCI
    "Última Ceia", 1495-97. Têmpera e óleo s/ intocato. Por: LEONARDO DA VINCI
    «A religiosidade popular acentuou unilateralmente o sofrimento»

    «À morte chegamos pela evidência, à Ressurreição chegamos pela Fé»

    “A Voz de Ermesinde” aborda neste número o carácter profundo de uma das mais importantes festas religiosas da comunidade ermesindense – a Páscoa cristã. Assim inquirimos o padre João Peixoto sobre o seu entendimento da celebração pascal, a sua inserção na festa milenar da celebração primaveril da vida e do triunfo desta sobre a morte (com o fim do Inverno), e a sua implicação com a festa judia anterior da Páscoa. E confrontámo-lo com o pendor excessivo e quase mórbido que, por vezes, na Páscoa cristã acentua sobretudo os aspectos da mortificação.

    QUESTIONAMENTO E FIXAÇÃO DO TEXTO: LC

    foto
    POR: P.e JOÃO PEIXOTO

    A Páscoa é festa imemorial, de origens que se perdem na noite dos tempos. Só mais tarde os Judeus unificaram duas tradições festivas, uma de populações nómadas, pastoris – a festa do cordeiro –, e outra agrícola, de populações sedentarizadas – a festa dos ázimos.

    Tanto uma como outra eram celebrações de carácter cósmico e vital. Nestas e noutras festas tratava-se de marcar com ritos o tempo, as novas colheitas, a fertilidade dos campos, dos rebanhos, da vida, a partida para a transumância...

    Esta é, digamos assim, a arqueologia da Páscoa.

    Para os Judeus, a Páscoa ganhou um novo significado, celebrando acontecimentos de libertação política e religiosa – o seu êxodo do Egipto. Eles passaram a carregar esse festival da Primavera com um novo conteúdo. E assim, se inicialmente a Páscoa era de conteúdo cósmico, biológico e vital, quando os Judeus marcavam com o sangue do cordeiro as portas ou passavam uma semana a comer pão ázimo, isto passou então a assinalar já um acontecimento que passava pela intervenção de Deus para fazer deles um povo livre. E é isso também que ainda comemoram hoje, de forma renovada, seja da libertação do faraó do Egipto, seja de Hitler mais recentemente, mas sempre uma experiência de libertação. “Páscoa” significa precisamente “passagem”.

    Ora Jesus Cristo era hebreu, filho de hebreus, que naquele tempo subiam a Jerusalém para celebrar a Páscoa. E subiam em tão grande número que até os Romanos temiam aquela grande afluência de população, aquele ajuntamento.

    Então a Páscoa vai conhecer uma nova etapa, em que Jesus se substitui ao cordeiro – segundo o evangelista João. Ele mesmo deu a sua vida, como se fosse o cordeiro, para obter a nossa redenção – libertação do pecado e da morte. Com a sua morte assumida, activamente, Ele passou para a vida definitiva da Ressurreição.

    Na perspectiva dos Evangelhos sinópticos (de Marcos, Mateus e Lucas), ele celebrou a ceia pascal e nela instituiu um novo rito – a Eucaristia (a Páscoa da Igreja).

    Quando Jesus diz: «Fazei isto em memória de Mim», fez como Moisés: «Fazei isto como um memorial perpétuo em honra de Yaveh». É um novo memorial. Jesus deu, por isso, um novo conteúdo à Páscoa antiga e deixou-o aos seus discípulos.

    Refeição de Páscoa entre os judeus portugueses (Pessach Sefardim). Gravura 1725.         Por: BERNARD PICARD
    Refeição de Páscoa entre os judeus portugueses (Pessach Sefardim). Gravura 1725. Por: BERNARD PICARD
    A PÁSCOA

    DA IGREJA

    A Igreja revive a Páscoa de Cristo sempre que celebra a Eucaristia. O domingo é uma Páscoa todas as semanas! (e também uma vez por ano – os Judeus celebram-na na primeira noite de lua cheia da Primavera, nós celebramo-la no primeiro domingo a seguir).

    A celebração da morte, da sepultura e da ressurreição de Jesus está hoje organizada principalmente no período pascal, com a missa de Quinta-Feira Santa, o momento forte da celebração da Paixão na Sexta-Feira Santa e o seu apogeu na vigília pascal, na noite de sábado para domingo – a celebração da Ressurreição (quando se celebram os baptismos). Ela inicia-se com a preparação da Quaresma e tem o seu prolongamento festivo até ao Pentecostes (a alegria da Ressurreição).

    Na festa cristã não se ignora a morte. Porque existe sofrimento e morte. Mas a celebração da Páscoa é marcada pela certeza da vitória da vida sobre a morte.

    Mesmo Sexta-Feira Santa não é um dia de luto. Usam-se paramentos vermelhos e não pretos ou roxos.

    É verdade que na religiosidade popular se acentuou unilateralmente o sofrimento, a paixão, mas isto é uma perspectiva incompleta.

    Para a Igreja a celebração mais importante não é a Via Sacra mas a Vigília. Já desde 1950 (com Pio XII), se celebra a Vigília depois do anoitecer de Sábado Santo.

    É certo que o Senhor dos Passos, o Bom Jesus da Cana Verde e outras festas populares da Páscoa estão mais perto da nossa experiência. À morte chegamos pela evidência, à Ressurreição chegamos pela Fé.

     

     

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