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Edição de 31-05-2025
Jornal Online

SECÇÃO: História


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O TRAJE REGIONAL PORTUGUÊS

VILA FRANCA DE LIMA, VIANA DO CASTELO, MORDOMA DA NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO (14/05/2023)
VILA FRANCA DE LIMA, VIANA DO CASTELO, MORDOMA DA NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO (14/05/2023)
INTRODUÇÃO

Cara leitora, com conhecimento aos caros leitores.

Imagine que tem 10 anos e vive no fim do século XIX na freguesia de Vila Franca do Lima, no concelho de Viana do Castelo.

Imagine-se iletrada, pois naquele tempo a escolaridade não era obrigatória. Talvez os seus pais entendessem mais importante o trabalho dos seus bracinhos do que mandá-la para a escola. Mas imagine-se atenta à vida e com projetos de futuro. Imagine-se trabalhadora rural, fazendo o que a sua pouca idade permite. Mas imagine-se a imaginar-se vestida com o sumptuoso Traje de Festa, também chamado Traje de Lavradeira Rica, aquele traje vermelho que todos conhecemos das festas da Senhora da Agonia ou do Rancho Folclórico de Santa Marta de Portuzelo, por exemplo. Só que, embora vivendo numa família economicamente equilibrada, os seus pais não tinham posses para lho comprar. A título de exemplo, nos dias de hoje, um traje destes de boa qualidade não custa menos de mil euros.

Assim, os seus pais fazem o que os seus avós fizeram à sua mãe: sempre que tosquiavam as ovelhas davam-lhe alguma lã que a leitora, com elevado cuidado e carinho tratava, fiava, tingia e guardava numa arca de madeira, esperando a altura de ser tecida no tear.

Agora imagine-se com 15 anos de idade. Já tem altura para chegar com os pés aos pedais do tear. O tear pode ser o da casa, ou da avó, ou da tia, ou outro qualquer. E imagine-se a tecer, com enorme carinho, o tecido de lã com que mais tarde irá fazer o seu próprio traje.

Agora imagine-se com 18 anos (ou 21 anos, não sei, maioridade). Imagine que tem o seu traje completamente elaborado e vai vesti-lo pela primeira vez. O orgulho, a alegria, a chieira, como eles lá dizem, são imensos. Agora imagine que nesse mesmo dia põe um cesto de rosas à cabeça (pesando cerca de 50 quilos, dada a sumptuosidade do cesto) e vai oferecê-lo a Nossa Senhora do Rosário. Dos seus olhos apaixonados saltam ribeiradas de lágrimas quando entra na igreja e encara a imagem da Senhora do Rosário.

Agora imagine que com um estalar de dedos é teleportada para o ano de 2025. Não é iletrada porque frequenta uma qualquer universidade. O traje é o mesmo. O cesto é o mesmo, embora um pouco mais leve porque feito em materiais modernos. E as ribeiradas de lágrimas são as mesmas.

É isto a Festa das Rosas, em Vila Franca do Lima hoje, em que o passado se projeta no futuro e em que a sumptuosidade do Traje de Viana do Castelo se casa na perfeição com a emoção duma festa religiosa, em que as raparigas de 19 anos se oferecem a Nossa Senhora do Rosário, oferecendo-lhe um cesto de rosas.

Dos olhos do autor não saltaram ribeiradas de lágrimas, mas eles não ficaram indiferentes. Nem estão indiferentes no preciso momento em que elabora este texto.

Vila Franca do Lima, Viana do Castelo, Mordoma de Nossa Senhora do Rosário 14/05/2023

Em Valongo também existe um conjunto de trajes regionais. Não têm a opulência do traje de Viana, mas não lhe ficam atrás em calor humano, porque estão ligados à terra e ao pão. Valongo, desde tempos imemoriais, era o celeiro da região. Aqui se cultivava o milho, o trigo e o centeio. Era nos moinhos de água das margens dos rios Ferreira e Leça que o cereal era moído e transformado em farinha. Era nos fornos de Valongo que o pão, a regueifa e o biscoito eram cozidos. E no fim era na cabeça das mulheres de Valongo que as canastras de pão, regueifa e biscoito eram levadas até onde os pés delas conseguissem chegar.

Deve ter sido em Valongo que foi inventado o termo “mulete”. A tradição conta que o típico pão de Valongo era uma sêmea que era partida em pedaços para ser comida à mesa por várias pessoas. Durante a Segunda Invasão Francesa, as sêmeas de Valongo iam parar à mesa dos soldados franceses. Mas um general, por sinal bem aristocrata, não queria comer o pão dos soldados e preferia comer um pão branco individual, desconhecido dos padeiros de Valongo. Mas estes satisfizeram o desejo do Sr. General. O seu nome: Moulet.

O mesmo pão, em Lisboa, é conhecido por “papo-seco”. Na mesma um general aristocrata, na mesma o mesmo pão. Mas o tal general era muito magro e o apelido não tardou: “papo-seco”, o nome por que eram conhecidas as galinhas que passavam fome. Sempre de papo seco…

O pão é central na cultura judaico-cristã. Cristo, na Última Ceia, “tomou o pão, partiu-o e deu-o aos Seus discípulos,,,” (Mateus, 26:26). Na Oração Universal reza-se “O Pão nosso de cada dia nos dai hoje”. Chama-se “ganha-pão” à profissão. E no intemporal fado da grande Amália “Uma Casa Portuguesa” canta-se: “Numa casa portuguesa fica bem pão e vinho sobre a mesa”. E Valongo é a região central nesta cultura do pão do Grande Porto.

Dos trajes de Valongo salta o xaile. O xaile, feito em lã ou fazenda, era a primeira

(...)

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José Campos Garcia*

Médico

 

 

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