51.º ANIVERSÁRIO DO 25 DE ABRIL
Intervenção de Hugo Peixoto (Partido Social Democrata)
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FOTO HÉLDER TEIXEIRA (JFE) |
Passado mais de meio século da Revolução dos Cravos, Portugal é uma sociedade mais livre, mais plural e mais consciente da responsabilidade de todos perante a conjuntura que delibera o nosso quotidiano. Mas também é uma nação que continua a construir-se, todos os dias, através das escolhas e das ações dos seus cidadãos — especialmente dos mais jovens, que são o rosto do futuro.
Assim, devemos fornecer ferramentas estruturais que permitam aos jovens pensarem o presente de forma construtiva, para que no futuro possamos também responsabilizá-los pelo que somos enquanto sociedade. Abril deu-nos liberdade, democracia e a possibilidade de construirmos um país onde os direitos fundamentais são garantidos e a voz de cada cidadão tem um valor inquestionável. Hoje, em 2025, celebramos não só essa conquista, mas também a responsabilidade de a manter viva, atual e significativa para todos, independentemente das nossas diferenças ideológicas.
A liberdade que conquistámos deve ser vivida com responsabilidade. E essa responsabilidade começa, desde logo, com a educação. É na escola, na formação contínua, na valorização do conhecimento e na promoção do pensamento crítico que assentam os alicerces de uma sociedade mais justa, equitativa e preparada para os desafios que o século XXI nos traz. A educação é o verdadeiro motor da democracia, que deverá ser estrutural, rigorosa e incisiva a fim de impedir caminhos menos claros e destrutivos. Os direitos e deveres de cada um são inegociáveis para uma sociedade íntegra e inclusiva.
Sem ela, corremos o risco de perpetuar desigualdades, de aceitar o conformismo e de abrir espaço à ignorância. Vivemos tempos desafiantes. As transformações tecnológicas, as alterações climáticas, os conflitos internacionais, as desigualdades sociais e as tensões económicas colocam-nos perante novos dilemas. Mas é precisamente nestes momentos que os valores de Abril — liberdade, justiça, igualdade, solidariedade — ganham ainda mais importância.
A juventude é herdeira direta do 25 de Abril. São os jovens que herdam os valores da democracia, e são eles que terão de os fazer florescer. Por isso, é fundamental garantir-lhes oportunidades reais: acesso a uma educação de qualidade, emprego digno, habitação acessível, participação cívica e espaço para pensar, criar e inovar. Não há democracia plena sem a inclusão ativa da juventude.
A liberdade não se esgota no direito de votar ou de expressar opinião. Ela vive-se na escola que acolhe todos, na saúde que cuida de cada um, na justiça que protege sem discriminar, na segurança que não exclui, e numa economia que oferece oportunidades de forma justa e equilibrada. A liberdade é também o direito de sonhar — e de ter condições reais para concretizar esses sonhos.
A cidadania, por sua vez, não se resume ao ato de votar. Ser cidadão é participar, intervir, questionar e propor. É assumir que cada um de nós tem um papel na construção de uma sociedade mais coesa e solidária. A democracia exige vigilância, exige compromisso, exige ação. E é também nas pequenas escolhas diárias que se fortalece a liberdade.
A justiça e a segurança são pilares indissociáveis do Estado de Direito. Sem justiça célere, eficaz e acessível, a democracia fragiliza-se. Sem segurança — que garanta os direitos e proteja os mais vulneráveis —, não há paz social. Precisamos de continuar a trabalhar por instituições que sejam confiáveis, próximas das pessoas e verdadeiramente ao serviço da comunidade.
A democracia exige participação, exige consciência e exige memória. Não podemos dar por garantido aquilo que foi conquistado com coragem. Precisamos de continuar a proteger os direitos humanos, a combater todas as formas de discriminação, a reduzir desigualdades e a fortalecer a cidadania ativa.
O facto de Portugal estar hoje mais desenvolvido é inegável, temos melhores infraestruturas, uma população mais qualificada e mais consciência dos nossos direitos. Mas há ainda um longo caminho a percorrer no combate à desigualdade, na redução das assimetrias regionais e na promoção de uma verdadeira coesão social.
É fundamental que os valores de Abril — liberdade, igualdade, solidariedade, justiça — não sejam apenas lembrados uma vez por ano. Devem ser vividos todos os dias. O cravo vermelho não é apenas um símbolo do passado. É um compromisso com o presente e com o futuro. É um alerta para que a liberdade seja cuidada, defendida e continuamente renovada.
Celebrar o 25 de Abril é, portanto, muito mais do que recordar o passado. É assumir, no presente, o compromisso de defender e renovar os ideais que nos tornaram uma nação livre. É garantir que Portugal continua a ser um país onde vale a pena viver, com dignidade, justiça e esperança.
Porque a liberdade não é um legado fixo — é uma construção diária. E é de todos nós.
Chegados a este marco histórico, é tempo de refletir sobre o país que somos e o país que queremos ser. Se não aprendermos com a história, arriscamo-nos a repetir os seus erros. Mas se soubermos honrar o passado com ação no presente, construiremos um futuro mais digno para todos.
O 25 de Abril vive enquanto vivermos os seus valores. Que não deixemos de lutar, com educação, com justiça, com cidadania e com esperança, por um Portugal mais livre, mais justo e mais seguro.
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