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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 30-09-2022

    SECÇÃO: Destaque


    MOSTRA INTERNACIONAL DE TEATRO DE VALONGO 2022

    A Mostra Internacional de Teatro (MIT) assinalou este ano a sua 25.ª edição. Um quarto de século a divulgar a arte de representar ao mais alto nível, e este ano a tradição não fugiu à regra na sequência do naipe de belíssimos espetáculos oriundos da Bélgica, Espanha e Portugal. A MIT teve mais uma vez como palco o Fórum Cultural de Ermesinde, onde no passado dia 10 de setembro se deu início a um evento que se estendeu até ao dia 18 do mesmo mês. Esta edição começou com o resultado, por assim dizer, de uma das muitas ações de formação para adultos do ENTREtanto Teatro - a companhia que a par da Câmara de Valongo vem organizando a mostra de teatro de há 25 anos a esta parte -, o espetáculo “Serra em Canto”. Com texto e encenação do diretor artístico do ENTREtanto Teatro, Júnior Sampaio, a peça, levada a cena por 30 atores/formandos, e apresentada em dose dupla, ou seja, nos dias 10 e 11, é um canto poético ao concelho de Valongo, à sua história, às suas tradições, e às suas gentes. Recorde-se que esta peça foi apresentada há precisamente um ano na Serra de Santa Justa, e na altura reportada pelo nosso jornal, sendo que agora, na MIT, a performance foi transportada do cenário natural da Santa Justa para a urbanidade do Fórum Cultural e o Parque Urbano de Ermesinde. O nosso jornal esteve em alguns dos espetáculos que integraram esta 25.ª edição deste evento cultural, fazendo um breve relato deles nas linhas que se seguem nesta página.

    Foto MANUEL VALDREZ
    Foto MANUEL VALDREZ
    REGRESSO À CASA DE PARTIDA DO EXÍMIO CONTADOR DE HISTÓRIAS GALEGO

    A noite de 15 de setembro foi um regresso ao ponto de partida da MIT. Ou melhor, foi o regresso de alguém que há 25 anos atrás esteve no início desta caminhada, isto é, na 1.ª edição da mostra. Esse alguém dispensa apresentações, dada a sua já longa e brilhante carreira de contador de histórias. Falamos de Quico Cadaval, ator galego que em Ermesinde apresentou “Vacas, Guerras, Porcos e Clérigos”. Não nos podemos referir a este trabalho deste ator, diretor, dramaturgo e adaptador teatral galego como uma mera peça, mas um conjunto de histórias contadas de forma casual ao público que muitas vezes é chamado à conversa. Na realidade, Quico Cadaval comprovou na nossa cidade que é um grande contador de histórias e sucedidos na sua Galiza natal, que é um exímio intérprete do teatro da palavra. Esta arte, dizemos assim, é ainda tida como uma forma diminuta de teatro, mas ao mesmo tempo é um apelo à imaginação do público que constrói as imagens da história em simultâneo com o narrador.

    Em “Vacas, Guerras, Porcos e Clérigos” Quico Cadaval conta a história do seu avô, Xúan, o «homem mais bom da sua aldeia», amigo do seu amigo. A partir deste seu antepassado, o ator – ou bom conversador - galego encadeia um conjunto de histórias protagonizadas por vizinhos e amigos do seu avô. Figuras que se tornam em personagens hilariantes e artísticas, e que dão vida a histórias de vacas; de militares do tempo de Franco a passar férias na Galiza; de um barbeiro profético, de fenómenos estranhos das noites galegas; ou da figura do Ghacheiro, que é uma espécie de bobo da corte local que passa a vida a pregar partidas aos seus conterrâneos e que a certa altura lançou o medo em toda a população de Ribeira ao fazer crer que o desembarque das tropas dos Aliados da II Guerra Mundial iria ser nesta pacata localidade galega e não na Normandia.

    FICHA TÉCNICA DE “VACAS, GUERRAS, PORCOS E CLÉRIGOS” (ESPANHA): Criação e Interpretação: Quico Cadaval. Imagem: Luís Polo

    Foto CMV
    Foto CMV

    PRIMEIRO MONÓLOGO DA CARREIRA DE ANTÓNIO CAPELO

    REFLETE O QUE REPRESENTA O TEATRO NA VIDA DO ATOR

    Há muito que não se via – inexplicavelmente – a sala do Fórum Cultural repleta de público para assistir a um espetáculo no âmbito do MIT. A explicação para esta enorme afluência dá pelo nome de António Capelo, conceituado ator português com uma carreira de 45 anos (repartidos pelo teatro, cinema e televisão), que na noite de 16 de setembro levou à cena “Ninguém”. Este é o primeiro monólogo da carreira do ator, um monólogo diríamos que intimista, tendo em conta que António Capelo numa espécie de conversa com o público vai soltando notas do seu percurso artístico. Foi quase como um relato autobiográfico do que tem sido ser ator, das encruzilhadas da profissão, a forma como o(s) ator(es) é(são) olhado(s), as inquietações vividas por um ator, os estereótipos associados à profissão, entre outras confissões que abordam a condição de ator.

    Como se podia ler na sinopse da peça, “Ninguém” surge como «uma confissão que celebra o teatro em tempos incertos e conturbados, como uma forma de identidade e resistência numa sociedade (digital) em que todos são (ou procuram desesperadamente ser) “alguém”».

    FICHA TÉCNICA DE “NINGUÉM” (PORTUGAL): Texto: Zeferino Mota. Direção: Pedro Aparício e Zeferino Mota. Interpretação: António Capelo. Música: André Abujamra. Desenho e Luz: Mário Bessa. Cenografia, Figurino e Adereços: Cátia Barros. Imagem: Luís Troufa.

    Foto MANUEL VALDREZ
    Foto MANUEL VALDREZ

    A VOZ COMO PRINCIPAL INSTRUMENTO DE UM CONCERTO DE TEATRO MUSICAL

    O espetáculo da noite de 17 de setembro apresentou-nos um magnífico exemplo de teatro musical, o qual foi protagonizado por um ator a solo, em que esse mesmo ator usa como instrumento principal a sua voz! Intitulada de “O Gesto da Voz”, esta peça foi-nos apresentada pelo belga Bernard Massuir, que bem podemos dizer que nos presenteou com um grande concerto musical teatralizado usando, isso mesmo, a sua voz. Foi um autêntico recital vocal, em que a voz do ator produzia os mais variados sons/efeitos musicais. Sons/efeitos que davam origem a melodias por vezes mais animadas, outras mais melancólicas e introspetivas, mas todas elas alternando entre o humor musical e o minimalismo. Foram inúmeras as ocasiões em que o ator interagiu com o público, fazendo com que os próprios espetadores fizessem também eles parte do espetáculo. O ator foi-nos surpreendendo ao longo da noite com o seu poder e talento vocal deixando a plateia completamente rendida.

    FICHA TÉCNICA DE “O GESTO DA VOZ” (BÉLGICA): Criação e Interpretação: Bernard Massuir. Imagem: Zoé Piret.

    Por: MB

     

     

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