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    Arquivo: Edição de 30-06-2022

    SECÇÃO: Património


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    ACONTECEU N’A VOZ DE ERMESINDE (6)

    Alminhas de Ermesinde

    A devoção das Alminhas em Ermesinde encontrou, ao longo do século XX, um particular defensor, no Padre Francisco Babo (1905-1976). Este pároco e professor no Colégio de Ermesinde, começou a sua atividade no referido colégio em 1931, onde se dedicou a lecionar as disciplinas de Português e Latim. A sua biografia é tratada de forma extensa (cerca de 3 páginas) na monografia de Jacinto Soares, Ermesinde: Memórias da nossa gente (2008), onde podemos atentar na ação benemérita que desenvolveu ao longo da sua vida.

    Contudo, quando falamos do Padre Francisco Babo, a sua atenção particular e afeto que desenvolveu pelas alminhas portuguesas toma um papel peculiar e relevante. As alminhas, pequenos altares colocados nas estradas, muros e caminhos portugueses, feitas de diferentes materiais (pedra, madeira ou azulejo), retratam, normalmente, as almas do purgatório e frases em seu louvor, apelando à fé dos fiéis que quando se cruzavam com elas acendiam velas, proferiam orações ou faziam oferendas. Este fenómeno particular no território português e da sua sacralização, encontraria em Francisco Babo uma defesa acesa para a sua preservação e execução, tanto que publicou, em 1954, a primeira edição do livro “Alminhas”, reeditado por mais quatro vezes, com acrescentos, de acordo com Soares (2008, 196).

    Alminha no muro da Igreja do Bom Pastor (Largo das Oliveiras)
    Alminha no muro da Igreja do Bom Pastor (Largo das Oliveiras)
    Quando consultamos a segunda edição da publicação de Francisco Babo retiramos as suas interpretações sobre as Alminhas como um fenómeno de disseminação pátria, onde nos diz que «Não enxerguei por terras aleias, estranhas à influência lusitana, vestígios tão expressivos da devoção entranhada às almas do Purgatório» (BABO, 1954, 9), não se esquecendo de tecer elogios ao fenómeno observado «Que belos são e como pincela a paisagem esses nichos esparsos por aldeias, vilas e cidades, de Norte a Sul do país, à beira de caminhos, estradas, ruas e praças!» (BABO, 1954, 17).

    Não é por isso de estranhar encontrarmos nas páginas d’A Voz de Ermesinde, um artigo assinado pelo Padre Babo, dedicado às Alminhas, em particular, às de Ermesinde, na edição n.º 34, de 1960. De acordo com o pároco, Ermesinde teria uma pujante tradição do culto das almas. Apologista dos ideais cristãos, via no Cristianismo o único sentido da vida, exaltando-o nas linhas que passaremos a analisar.

    «Ermesinde manifesta a sua devoção às Almas, mas há uma tradição muito nossa, muito portuguesa, muito piedosa e cristã, que importa fazer alastrar pela freguesia toda (…). É a dos nichos das “Alminhas”, quer se ergam em corpo destacado, quer se embutam num muro ou parede, sempre à beira dum caminho ou estrada, no centro ou à entrada dum povoado, à boca duma ponte ou num largo ou praça. Ermesinde tem “Alminhas” antigas em S. Silvestre. Novas, a substituir antigas, que o desleixo deixou cair, na Cancela».

    Estas são as primeiras linhas que encontramos no subcapítulo do artigo que nos dá um amplo conhecimento sobre o fenómeno da devoção das almas do Purgatório, através das alminhas. Levanta depois a questão de se não faziam falta a Ermesinde novas alminhas que enobrecessem os seus locais, salientando a fé de todos os devotos que não as fariam “morrer”.

    Salienta, também, o papel da Madre Provincial do Mosteiro do Bom Pastor, como forma de demonstrar que este fenómeno se encontrava vivo e ativo em Ermesinde. A irmã desta Congregação iria, em 1960, fazer erguer uma alminha no muro da Igreja do Bom Pastor, no Largo das Oliveiras. Esta alminha ainda hoje se encontra adossada ao referido muro, junto do portão de acesso ao templo. Representa no topo, ao centro, Nossa Senhora de Fátima com os pastorinhos, em adoração, e tons harmoniosos; na sua parte inferior encontramos de cada um dos lados anjos que seguram corpos piedosos que pretendem a sua ascensão celestial, marcados na base pelas chamadas do purgatório e pela indecisão. Estas figuras inferiores aparecem-nos suplicantes e a orar, pontuadas na base pela seguinte quadra:

    Alminha presente no livro do Padre Francisco Babo (BABO, 1954, 31)
    Alminha presente no livro do Padre Francisco Babo (BABO, 1954, 31)
    “Nossa Senhora de Fátima,

    Quando na Iria poisou,

    A rezar pelas Alminhas,

    A Portugal ensinou”

    Segundo Jacinto Soares, foi o próprio pároco que elaborou muitas das quadras que podemos encontrar nestes nichos (SOARES, 2008, 196), um elemento que talvez possa ser encontrado nesta alminha, uma vez que numa reprodução similar encontramos uma outra inscrição. O que consideramos mais curioso quando analisamos a Alminha presente no muro da Igreja do Bom Pastor é o facto de esta não ser um exemplar único, tendo sido multiplicada ou, inclusivamente, escolhida como cópia de uma outra no seu desenho e não na sua inscrição. No livro do Padre Babo, datado de 1954, encontramos uma alminha exatamente igual aquela que foi colocada no muro da igreja de Ermesinde, que sabemos, pelo seu artigo, que ainda iria ser colocada em 1960 e que surgiu com uma quadra diferente. Este elemento torna-se particularmente relevante quando fazemos um levantamento sobre a história de Ermesinde, uma vez que a alminha não possui data, apenas a fábrica onde foram executados os seus azulejos, da Fábrica Aleluia, em Aveiro. Pelo que, este artigo n’A Voz de Ermesinde se torna o único elemento capaz de nos dar uma datação aproximada da colocação da obra na paisagem ermesindense, que tenhamos tomado conhecimento até ao momento, demonstrando a relevância que pode ter a participação e o envolvimento de todas as personalidades do concelho neste jornal que dá voz aos cidadãos.

    (...)

    leia este artigo na íntegra na edição impressa.

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    Bibliografia:

    - A Voz de Ermesinde, outubro de 1960, n.º 34

    - Babo, Padre Francisco de (1954). “Alminhas” Padrões de Portugal Cristão; 2.ª edição, Porto: Tipografia Fonseca

    - SOARES, Jacinto (2008). Ermesinde: Memórias da nossa gente; 1.ª edição; Ermesinde: Junta de Freguesia de Ermesinde

    Por: Mariana Filipa Lemos

     

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