Subscrever RSS Subscrever RSS
Edição de 31-03-2024
  • Edição Actual
  • Jornal Online

    Arquivo: Edição de 28-02-2022

    SECÇÃO: Crónicas


    foto
    A GUERRA COLONIAL PORTUGUESA (30)

    Conclusão

    Instalada a guerra nas três frentes ultramarinas (Angola, Guiné e Moçambique), a partir de 1964, o recrutamento massivo levado a cabo quer na metrópole quer nas colónias mobilizou obrigatoriamente para a guerra praticamente toda a juventude masculina, por mais recôndito que fosse o lugar ou aldeia onde tivesse nascido ou se encontrasse a residir. Recrutamento esse que irá provocar um enorme sangramento na própria economia, pois são milhares e milhares de braços cuja mão-de-obra tanta falta irá fazer, principalmente nos campos e nas fábricas. Jovens que veem os seus projetos de vida adiados, se não mesmo interrompidos, para já não falar daqueles que por lá ficaram, surpreendidos na mira duma espingarda inimiga ou colhidos pela explosão de uma qualquer mina ou granada. Outros, e muitos foram, perderam igualmente as suas vidas num acidente fatal, tantas eram as situações passíveis de os causar e da mais variadíssima natureza.

    Segundo alguns estudos, contrariando um pouco as estatísticas oficiais, terão, em consequência da guerra, perdido a vida mais de 10 mil militares portugueses, entre europeus e africanos localmente recrutados. A estes acresce o número de civis e elementos da própria guerrilha independentista mortos, que certos estudos cifram em mais de 45 mil.

    Fala-se ainda de cerca de 9 mil desertores que terão abandonado as fileiras das tropas portuguesas. No que toca ao número de faltosos (aqueles que não se apresentaram à inspeção) e refratários (os que tendo ido à inspeção e ficado aprovados, não se apresentaram quando convocados), há quem aponte para mais de duas centenas de milhar.

    Como já se disse, noutra sede, Portugal persistia em manter-se “orgulhosamente só” no que toca à forma de conduzir a sua política ultramarina. Sob o lema da defesa duma pátria “una e indivisível”, ignorava ostensivamente o direito das populações autóctones, também elas defendendo e lutando, com a mesma legitimidade, aliás, pelas suas próprias pátrias. Luta essa que colhia o apoio da grande maioria da comunidade internacional, inclusive da própria ONU que, a propósito, tantas vezes condenou o nosso país. E como estávamos num tempo da guerra fria Leste-Oeste, apoio logístico não faltava aos movimentos independentistas, que as grandes potências transformaram numa espécie de comissários militares, se não mesmo seus braços armados. Dir-se-ia que era Portugal a lutar contra o mundo. E, nessa luta contranatura, quiçá quixotescamente, levou a cabo grandes operações militares como, por exemplo, a operação “Mar Verde”, na Guiné-Bissau, e “Nó Górdio”, em Moçambique que, pelo impacto negativo que tiveram a nível internacional, mais contribuíram para a marginalização e isolamento do nosso país.

    foto
    Recordamos que a operação “Mar Verde”, realizada entre 20 e 22 de novembro de 1970, foi ordenada pelo comandante-chefe das forças armadas e governador da Guiné, brigadeiro António de Spínola, aprovada pelo Presidente do Conselho de Ministros, Marcello Caetano e planeada e comandada no terreno pelo capitão-tenente dos fuzileiros Alpoim Calvão. Teve como missão um ataque anfíbio a Conacri, capital da vizinha República da Guiné, visando libertar 26 prisioneiros de guerra portugueses; destruir as lanchas e o quartel-general do PAIGC, ali instalado; prender o seu líder, Amílcar Cabral; eliminar o presidente da República da Guiné-Conacri, Sékou Touré e, por fim, destruir os aviões MIG estacionados no aeroporto da cidade. Tudo isto com o apoio logístico de rebeldes da FNLG (Frente de Libertação Nacional da República da Guiné), que se opunha ao regime ali instalado e bem assim da própria PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado), a polícia política do regime fascista vigente em Portugal.

    De todos estes objetivos, apenas terá sido logrado o primeiro, tido como, de entre todos, o mais importante: o resgate dos prisioneiros portugueses. Contudo, da operação terão resultado cerca de 400 baixas do lado das forças locais, o que, até porque tratando-se duma invasão a um país estrangeiro, mais veio acicatar o repúdio internacional contra o regime colonialista português.

    Três anos após, mais precisamente em janeiro de 1973, Amílcar Cabral é assassinado por guineenses com a participação da PIDE, episódio que mais veio reforçar o apoio militar, sobretudo da União Soviética, ao PAIGC, desta feita com o fornecimento de mísseis terra-ar, os famigerados Strella, que de imediato puseram em causa a supremacia das forças militares portuguesas até aí conseguida por via aérea. Obtido o domínio territorial, não tardou aquele movimento a declarar, unilateralmente, a independência da República da Guiné-Bissau, o que fez, a 24 de setembro desse mesmo ano de 1973, na localidade de Madina do Boé, localidade situada a sul do próprio território, sendo de imediato reconhecida como país independente pelo Conselho de Segurança da ONU e pela OUA (Organização de Unidade Africana), de entre outras nações, seguindo-se a sua proposta de adesão como país membro da ONU.

    Portugal veio, finalmente, a reconhecer a sua independência a 10 de setembro de 1974, após a queda do regime ditatorial, pela Revolução dos Cravos, em 25 de abril de 1974, que ditou o cessar-fogo unilateral naquela e nas outras colónias lusas.

    A operação designada por “NÓ GÓRDIO” teve lugar em 1970, visando eliminar as bases dos guerrilheiros da FRELIMO instaladas no Planalto dos Macondes, bem como as suas rotas de infiltração e abastecimento, a partir da Tanzânia, no norte de Moçambique. Mobilizou cerca de oito mil militares portugueses de todos os ramos das forças armadas e durou à volta de sete meses, sob o comando do general Kaúlza de Arriaga. Segundo relatórios oficiais portugueses, nos combates ocorridos, teriam morrido 651 guerrilheiros e sido capturados 1840 do lado da FRELIMO, contra 132 combatentes portugueses mortos, para além da apreensão duma vasta quantidade de material bélico. Contudo, há que esclarecer que, em zona de guerra e na vertigem dos combates, há sempre um sem-número de civis, inocentes ou não, que acabam por ser abatidos e contabilizados como inimigos.

    Não obstante o aparente sucesso, na perspetiva colonialista, desta enorme e dispendiosíssima operação, a FRELIMO prosseguiu os seus combates, alastrando-os a outras partes do território.

    (...)

    leia este artigo na íntegra na edição impressa.

    Nota: Desde há algum tempo que o jornal "A Voz de Ermesinde" permite aos seus leitores a opção pela edição digital do jornal. Trata-se de uma opção bastante mais acessível, 6,00 euros por ano, o que dá direito a receber, pontualmente, via e-mail a edição completa (igual à edição impressa, página a página, e diferente do jornal online) em formato PDF. Se esta for a sua escolha, efetue o pagamento (de acordo com as mesmas orientações existentes na assinatura do jornal impresso) e envie para o nosso endereço eletrónico ([email protected]) o nome, o NIF e o seu endereço eletrónico para lhe serem enviadas ao longo do ano, por e-mail, as 12 edições do jornal em PDF.

    Mas se preferir a edição em papel receba comodamente o Jornal em sua casa pelo período de 1 ano (12 números) pela quantia de 12,00 euros.

    Em ambos os casos o NIB para a transferência é o seguinte: 0036 0090 99100069476 62

    Posteriormente deverá enviar para o nosso endereço eletrónico ([email protected]) o comprovativo de pagamento, o seu nome, a sua morada e o NIF.

    NOTA DE REDAÇÃO: Agradecemos, penhoradamente, a este nosso colaborador - Dr. Miguel Henriques - a forma empenhada, pontual e rigorosa como ao longo de 30 números nos foi dando a conhecer melhor a “Guerra Colonial Portuguesa”. Foi uma colaboração de excelência, tendo chegado ao nosso conhecimento um feedback muito positivo de quem aprecia os seus textos. Radicado agora em S. Pedro do Sul, desejamos-lhe as maiores felicidades e tem as páginas de “A Voz de Ermesinde” abertas a uma eventual colaboração futura.

    Por: Miguel Henriques

     

     

    este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu
    © 2005 A Voz de Ermesinde - Produzido por ardina.com, um produto da Dom Digital.
    Comentários sobre o site: [email protected].