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    Arquivo: Edição de 31-01-2022

    SECÇÃO: Crónicas


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    Kandinsky e a paleta de sons

    As primeiras formas de arte remontam ao tempo das cavernas onde o Homo Sapiens Sapiens libertava a sua imaginação ao pintar animais ou cenas de caça nas grutas. Fazia-o para invocar o divino protetor contra a hostilidade do seu mundo muito hostil. Com o tempo o Homem libertou-se da intencionalidade mágica da pintura e adotou como fonte de inspiração outras temáticas. Nos anos 20 do século XX assiste-se, no mundo da pintura ao despoletar de uma multiplicidade de experiências artísticas em que o objeto foi tudo menos o visível. Tudo servia de inspiração: o movimento, as tonalidades da luz ao longo do dia, o sentimento e emoções, ou a máquina. Wassily Kandinsky, como um homem do seu tempo, não ficou à margem deste movimento. À pintura juntava ainda uma imensa paixão pela música. Deixo aos leitores duas sugestões musicais da autoria de dois artistas intemporais tendo um deles sido amigo próximo do pintor: “Noturno para Cordas e Harpa” de Schoenberg (youtube.com/watch?v=AOMrINN56sw) e Lohengrin” de Wagner (https://www.youtube.com/watch?v=kSzkYafY0pM).

    Wassily kandinsky  4 de dezembro de 1866, Moscovo,  13 de dezembro de 1944, Neuilly- -sur-Seine, França
    Wassily kandinsky 4 de dezembro de 1866, Moscovo, 13 de dezembro de 1944, Neuilly- -sur-Seine, França
    Wassily Kandinsky nasceu em Moscovo em 1866. Filho único de um negociante de chás, viveu a maior parte da sua infância em Odessa a cargo da sua tia, Elisabeth Ticheeva, a irmã materna mais velha, em virtude do divórcio dos seus pais. Entre 1876 e 1885 recebeu as primeiras aulas de desenho e música e frequentou o Liceu de Odessa. Em 1886 iniciou os Estudos de Direito e Economia na Universidade de Moscovo tendo concluído o Doutoramento com a tese intitulada “Sobre a Legalidade dos Salários dos Operários”.

    Contudo, seria a Arte a conduzir a sua vida. Dois acontecimentos estiveram na origem desta mudança: a exposição dos impressionistas franceses, a que assistiu em Moscovo, onde se impressionou com “a Menina de Feno” de Claude Monet; e a ópera de Wagner, ”Lohengrin”, que viu no Teatro Real de Moscovo, tendo afirmado, segundo Hajo DUCHTING, “Imaginei todas as cores, elas estavam mesmo à frente dos meus olhos. Linhas selvagens, quase frenéticas, desenhavam-se à minha frente.”

    Esta experiência abriu-lhe uma nova perspetiva sobre o poder da música e do binómio que então criaria - cor/sons, ponte de partida para a sua obra futura. A paixão pela Arte levá-lo-ia a partir, com 30 anos, a estudar em Munique. Cedo ficou bem patente o seu talento o que lhe permitiu fazer parte dos círculos mais restritos de artistas que estavam dispostos a fazer incursões a outras fontes de inspiração e a experimentar novas técnicas artísticas. É neste ambiente que produz, em 1910, a tela que ficaria para a História de Arte como a primeira tela abstrata, “Sem Título” (Lápis, aguarela e tinta-da-china sobre papel, 49,6x64,8 cm, Paris, Musée national d’ Arte Moderne, Centre Georges Pompidou), inaugurando, deste modo, o estilo do não figurativo ou do abstrato. Segundo a História de Arte de H. W. Janson abstrato literalmente quer dizer “tirar para fora, separar”. Separar a forma do conteúdo, ou seja, é um “Movimento artístico, (que) Concebe a obra de arte, como reflexo do estado de espírito do artista, supõe a sua abstração relativamente ao real, o desaparecimento da representação dos objetos, substituídos por linhas, cores e formas que, conjugadas numa unidade, valem por si próprias.” Kandinsky revolucionou, deste modo, a arte ao criar uma nova visão do mundo pictográfico pondo em causa os cânones da pintura tradicional e naturalista.

    tela sem título 1910
    tela sem título 1910
    Durante este período produziu algumas das obras mais famosas da sua carreira.

    Como podem ver, estas obras destacam a importância que o autor dá à cor. A cor dá voz à alma ou aos estados de espírito.

    Kandinsky conta como chegou a esta conclusão. Entrando certa vez no atelier deu de olhos num quadro de sua autoria, colocado de tal maneira que não percebeu o conteúdo, o que figurativamente representava. Percebeu apenas a forma, entendida, no caso, como as linhas e as cores, sem representação figurativa. Sem nada representarem figurativamente, as cores e linhas do quadro pareceram-lhe dotadas de intensa beleza. Corrigindo a posição do quadro e percebendo agora, o seu conteúdo, verificou que as linhas e cores perdiam a particular e intensa beleza que antes possuíam, quando livres de qualquer representação figurativa. Esta constatação levou-o a investigar. Observou, por exemplo, que uma forma e uma cor vermelha, sem qualquer representação das realidades visuais, podiam despertar em nós as mesmas sensações quando reproduzem o telhado de uma casa, a saia de uma camponesa ou o manto de um antigo soldado romano. Podem sugerir-nos sentimentos de calma ou de agitação, energia ou brandura, movimento ou imobilidade, com a mesma eloquência das formas figurativas.

    Improvisação 26 1912, Óleo sobre  tela, 97 x 107,5 cm Munique,  Stadtische Galerie
    Improvisação 26 1912, Óleo sobre tela, 97 x 107,5 cm Munique, Stadtische Galerie
    Kandinsky constatou ainda que as formas e cores se dirigem mais à nossa perceção sensível do que à nossa perceção intelectual. Deste modo, até mesmo um analfabeto pode sentir uma pintura abstrata, pois ali nada existe para compreender. E é esta por excelência a grande virtude da linguagem abstrata – a universalidade.

    Observa ainda que, diante de um quadro abstrato, a sensibilidade de cada um reage com liberdade, à sua maneira individual, ao passo que na pintura figurativa a sensibilidade fica presa pelo que está representado de forma real.

    Na sua obra há um outro aspeto que merece ser referido. Os títulos dos quadros que compõe, como por exemplo “Composição VI” ou “Improvisação 26”, inspiram-se nas composições musicais. Kandinsky estabeleceu um paralelo entre a pintura e a música. Como ele próprio diz, na pintura «a cor é o teclado, os olhos são os martelos, a alma é o piano com inúmeras teclas. O artista é a mão que toca, aflorando uma ou outra tecla, a fim de provocar vibrações na alma».

    O fascínio pela música é antigo. Mas toma verdadeiramente forma quando se corresponde com Schoenberg (1874 – 1951).

    Schoenberg é também responsável por criar uma rutura na música ao criar o dodecafonismo.

    Composição VI, 1913, Óleo sobre tela, 195 x 300 S. Petersburgo, Ermitage
    Composição VI, 1913, Óleo sobre tela, 195 x 300 S. Petersburgo, Ermitage

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    Por: Cândida Moreira

     

     

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