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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 20-10-2021

    SECÇÃO: Destaque


    ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS 2021

    Autárquicas de 2021 foram o exemplo de uns que ganharam perdendo (PS) e de outros que perderam ganhando (PSD)

    Uma vitória com sabor a derrota para o PS em contraste com uma derrota com sabor a vitória para o PSD. Esta pode ser uma leitura geral daquilo que se passou na noite eleitoral de 26 de setembro último, noite em que esteve em jogo o destino dos 308 municípios e das 3092 freguesias nacionais para os próximos quatro anos.

    Fotos MANUEL VALDREZ
    Fotos MANUEL VALDREZ
    Olhando friamente os números é fácil de constatar que o PS venceu as eleições e que continua a ser o maior partido autárquico nacional, com 34,23% dos votos e 148 câmaras conquistadas em listas próprias. Mas quando falamos em eleições autárquicas as vitórias não se fazem apenas com números, mas de igual modo com o simbolismo das câmaras que se ganham e que se perdem, e deste modo bem se pode afirmar que os socialistas perderam as autárquicas de 2021. Isto porque o PS não só não conquistou nenhuma capital de distrito ao PSD como ainda perdeu para os social-democratas câmaras com enorme significado, casos de Lisboa, Coimbra, ou do Funchal, mas sobretudo a da capital, a mais apetecida de todas as câmaras, a maior autarquia do país que há 14 anos era governada pelos socialistas. Na longa noite eleitoral, António Costa reclamou a vitória para o seu partido sem no entanto conseguir esconder a frustração da derrota em Lisboa, que se constituiu como uma espécie de tiro no porta-aviões, e de certa forma para os números que evidenciavam que se em 2017 o partido conquistou 159 câmaras, das quais 142 com maioria absoluta, sendo que desta feita venceu as já referidas 148 autarquias com 124 maiorias absolutas, havendo aqui um evidente decréscimo socialista.

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    Um dos principais beneficiados do cenário atrás traçado foi o PSD e o seu líder, Rui Rio, que na noite de 26 de setembro ganhou um novo fôlego para uma recandidatura à liderança do partido. Rio viu o seu partido subir em número de câmaras (de 98 para 114) e mais do que isso festejou a conquista de concelhos importantes, sendo a vitória de Carlos Moedas (perante o delfim de António Costa, o anterior autarca lisboeta Fernando Medina) em Lisboa a cereja no topo do bolo. Ainda no que concerne a números, o PSD conquistou 72 câmaras em listas próprias, e outras 41 em coligação, das quais 31 em aliança com o CDS-PP. Na balança das perdas e dos ganhos os social-democratas ganharam 32 câmaras (26 delas ao PS) e perderam 16, ao passo que os socialistas venceram 22 autarquias (12 ao PSD) e perderam 34. «O PSD teve um excelente resultado nestas eleições», afirmou Rio no rescaldo da noite eleitoral, frisando ainda que o partido cumpriu com todas as metas traçadas: mais votos, mais eleitos e encurtou a diferença para o PS.

    Mas há outros dados que atestam a teoria de que esta foi uma vitória com sabor a derrota para o PS, já que o partido obteve pior resultado do que nos dois últimos atos eleitorais no que a autárquicas diz respeito. Por sua vez, o PSD com os 114 municípios agora conquistados supera assim os resultados obtidos nas eleições autárquicas de 2017, onde tinha registado o seu pior resultado de sempre, com a conquista de 98 câmaras.

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    Outro dos grandes derrotados da noite foi a CDU, que apesar de ter ficado em terceiro lugar - a nível nacional - nas intenções de voto dos portugueses, com 8,21%, atrás, respetivamente, do PS e do PSD, continua na senda dos maus resultados eleitorais e confirmou a tendência decrescente no que a eleições autárquicas diz respeito. Se em 2017 os comunistas tinham obtido o seu pior resultado em eleições autárquicas, com a perca de 10 autarquias, este ano o cenário conseguiu ser ainda pior (!), já que a coligação de esquerda perdeu mais sete câmaras (quatro delas no Alentejo), ficando com a presidência de 19 municípios e largando a mão de bastiões que lhe pertenciam desde 1976, como foram os casos de Mora, Montemor-o-Novo e da Moita, que passam para as mãos dos socialistas. No total, o PS tirou seis câmaras à CDU. Outro grande objetivo falhado pelos comunistas foi a reconquista de Almada, que continua assim nas mãos do PS, sendo que Évora foi mantida por uma unha negra e Loures fugiu também para os socialistas. No meio deste novo desastre autárquico um par de pequenas vitórias: a conquista de Barrancos e de Viana do Alentejo ao PS e o bom resultado obtido por João Ferreira em Lisboa, concelho este onde a CDU cresceu e reforçou a sua presença naquela autarquia. «O resultado ficou aquém dos objetivos colocados», foi assim que o secretário geral do PCP, Jerónimo de Sousa, analisou a prestação do seu partido nestas eleições, reconhecendo ainda que a CDU teve perdas assinaláveis.

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    Quem tarda a afirmar-se como um partido autárquico é o Bloco de Esquerda (BE), que voltou a ter um resultado penoso. Os bloquistas perderam votos (mais de 32.000!), perderam vereadores (passaram de 12 para 4), o que fez com que Catarina Martins admitisse o «mau resultado». Porém, no meio deste resultado negativo há a registar uma boa notícia para os bloquistas: o facto de terem eleito pela primeira vez um vereador para a Câmara do Porto.

    O Chega, a concorrer às suas primeiras eleições autárquicas, ficou em quarto lugar a nível nacional nas intenções de voto, sem qualquer câmara conquistada, é certo, mas com a eleição de 19 vereadores, a maioria dos quais no distrito de Lisboa. Na verdade, o Chega conseguiu nestas eleições o que o BE, por exemplo, não conseguiu nestes anos todos: colocar o partido no mapa autárquico nacional com uma certa relevância. Apesar deste resultado significativo, em que o partido passou a marcar presença em sete distritos do país, André Ventura, considerou que falhou o objetivo de se tornar na terceira força política nacional. Com 4,16% dos votos, o Chega ficou atrás da CDU, levando Ventura a dizer que a «vitória não foi total», embora tivesse defendido que o partido «fez história» no país. O Chega elegeu 171 deputados municipais e 205 vogais de juntas de freguesia nestas autárquicas.

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    Ainda no que concerne à direita, o CDS-PP, que concorreu na maioria dos concelhos em coligação, obteve um resultado que tanto se pode considerar positivo como negativo. Ou seja, ao se apresentar coligado na maioria dos concelhos a que concorreu pôde cantar vitória em muitos deles, como em Lisboa, por exemplo, disfarçando o facto de que se olharmos ao CDS-PP enquanto partido que concorre isolado a percentagem de 2021 foi menor do que a de 2017 (1,48% face a 2,59%, respetivamente). No entanto, os populares mantiveram nestas eleições a presidência das seis autarquias já governadas autonomamente, o que levou o seu líder, Francisco Rodrigues dos Santos a dizer que o partido «superou todos os objetivos a que propôs».

    No que toca às candidaturas independentes, estas voltaram a conseguir um resultado significativo. 19 foram as câmaras conquistadas pelos movimentos independentes, mais duas do que há 4 anos atrás, sendo que a mais importante delas continua a ser a Câmara do Porto, que volta a ser liderada por Rui Moreira, ainda que agora sem maioria absoluta (sendo provavelmente este o dado mais relevante a realçar no Distrito do Porto), enquanto que uma das surpresas da noite terá acontecido na Figueira da Foz, onde o agora independente Pedro Santana Lopes volta a sentar-se na cadeira da presidência 24 anos depois de ali ter estado.

    Uma última nota para falar na abstenção, que pelos piores motivos continua a ser digna de registo. 46,35% foi o valor da taxa de abstenção a nível nacional nas autárquicas de 2021, um número que só é suplantado pelas autárquicas de 2013, quando a abstenção chegou aos 47,4%.

    Assim sendo, as autárquicas deste ano ficam na história como as eleições em que se registou a segunda taxa de abstenção mais alta desde o primeiro ato eleitoral autárquico em 1976.

    NO DISTRITO DO PORTO POUCO OU NADA DE SIGNIFICANTE

    Olhando agora para os resultados eleitorais no Distrito do Porto, aquele que nos diz particularmente respeito, há que dizer que a nível nacional este foi dos distritos mais estáveis, isto é, teve poucas alterações face ao que se passou há 4 anos. Em 18 concelhos, só um mudou de cor, foi em Vila de Conde, que passou de independente para as mãos do PS, partido este que agora passa a ter 12 câmaras municipais (Baião, Gondomar, Lousada, Marco de Canavezes, Matosinhos, Paços de Ferreira, Paredes, Santo Tirso, Valongo, Vila Nova de Gaia, Vila do Conde e Felgueiras, sendo que nesta última surge em coligação com o Livre) sob a sua gestão, e todas elas com maioria absoluta. De resto, tudo igual há 4 anos. A única autarquia mantida por independentes no nosso distrito foi, como já vimos, a do Porto, que viu Rui Moreira assegurar um terceiro mandato consecutivo, embora desta feita sem a maioria absoluta conquistada em 2017. Já o PSD manteve as mesmas cinco autarquias que já tinha, isto é, Amarante, Maia, Penafiel, Póvoa de Varzim e Trofa. Em termos percentuais há a registar que no Distrito do Porto o PS venceu estas eleições com uma percentagem maior do que aquela que foi obtida a nível nacional, ou seja, com 40,85% face aos 34,23% registados no país. No sentido inverso aparece o PSD, que sempre que apareceu de forma “isolada” no distrito obteve uma votação menor do que a que foi obtida a nível nacional, 5,74% contra 13,21%.

    No que toca aos restantes partidos com assento parlamentar, a CDU teve ao nível do distrito uma votação pior do que aquela registada no plano nacional, ou seja, no nosso distrito obteve 4,65% ao passo que no mapa nacional conquistou 8,21%. A nível distrital os comunistas foram mesmo ultrapassados pelos movimentos independentes, que contabilizaram 7,19% dos votos.

    Por sua vez, o BE teve mais motivos para sorrir ao nível do distrito do que no plano nacional, pois além do já referido, e há muito ansiado, vereador eleito para a Câmara do Porto, obteve uma percentagem superior a nível distrital do que no âmbito nacional, 3,72% face a 2,75%. Aliás, se compararmos com as autárquicas de 2017 verificamos que o Bloco cresceu no Distrito do Porto, obtendo neste ano cerca de 2000 votos mais.

    Já o CDS-PP enquanto força partidária sem coligações não foi além de uns quase insignificantes 0,30%, o que equivale a pouco mais de 2500 votos num distrito onde os populares apareceram maioritariamente coligados com o PSD e onde aí a média percentual obtida foi bem maior.

    O Chega comprovou nestas eleições que ainda é um partido implantado, sobretudo, no sul do país, e maioritariamente na região de Lisboa e em alguns concelhos no Alentejo, pois no nosso distrito ficou abaixo quase um ponto percentual da média nacional (3,22% em contraponto com 4,16%).

    À semelhança do BE também o PAN obteve no Distrito do Porto uma percentagem superior à obtido em todo o país, isto é, 1,83% na região contra 1,14% no país.

    Cenário idêntico teve o Iniciativa Liberal, que no país obteve 1,30% dos votos e no distrito somou 1,56%.

    Por fim, dizer que a taxa de abstenção no Distrito do Porto foi muito semelhante à que foi registada a nível nacional, isto é, 46,0% na região, enquanto que no plano nacional foi de 46,3%.

    Por: MB

     

     

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