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    Arquivo: Edição de 15-12-2020

    SECÇÃO: Crónicas


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    A GUERRA COLONIAL PORTUGUESA (14)

    O isolamento político do país relativamente à política ultramarina

    Enquanto na Assembleia Geral das Nações Unidas, na década de 50 do século passado, a controvérsia “territórios não autónomos” era assunto recorrente, sendo Portugal instado, por mais do que uma vez, a esclarecer a sua posição relativamente às suas colónias ultramarinas, o Estado Novo insistia que estas como tais não deveriam ser consideradas, fazendo parte integrante da nação, enquanto unidade multicultural, multirracial e pluricontinental. Ora, tal argumento, uma autêntica ficção gerada por um imperialismo serôdio, não convencia nem a generalidade dos restantes membros daquela organização, nem, e por maioria de razão, as novéis nações que se haviam encontrado em situação idêntica àqueles territórios ultramarinos cuja posse Salazar e o regime ciosamente defendiam, e que, entretanto, ascenderam à sua independência. Daí que, em 1960, se tenham sucedido resoluções daquele organismo vetando, mais ou menos veladamente, a posição portuguesa e verberando a obstinação de Salazar relativamente a esse assunto, contribuindo para que o nosso país se fosse vendo cada vez mais isolado, no contexto das nações. Aliás, a própria admissão tardia de Portugal no seio daquela organização nascida no final da II Guerra Mundial, só dez anos após a sua fundação, não foi de todo pacífica. A União Soviética chegou mesmo a vetar a primeira tentativa de admissão, no ano seguinte ao da sua constituição, portanto, em 1946, por considerar que Portugal não merecia a necessária confiança política para poder integrar a organização (ONU), pois havia apoiado a Alemanha e os chamados Países do Eixo (Alemanha, Itália, Japão) naquele conflito bélico, para além de continuar a manter um bom relacionamento com a Espanha, que também havia apoiado declaradamente os vencidos, como todos sabemos, os responsabilizados por aquela hecatombe mundial.

    Por essas resoluções ficou assente o que conceptualmente deveria ser entendido por “territórios não autónomos”, tendo, então, sido elaborada uma listagem dos mesmos, na qual eram incluídas todas as colónias portuguesas. Operava-se, assim, uma profunda viragem na política imperialista e colonialista europeia e mundial. Rajadas de humanismo, por um lado, e de arreigado nacionalismo, por outro, varriam a História. Só não via quem não queria. E se, até então, os governantes, os políticos, o cidadão comum, enfim, poderiam desculpar a violência e todas as demais vicissitudes resultantes do domínio de uma civilização sobre a outra, timbre do imperialismo, escudando-se no clássico “…enfim, eram outros tempos! Os outros também o fizeram…”, pois, a partir daí, esse pretenso álibi deixava de fazer sentido.

    HOLDEN ROBERTO, FUNDADOR DO UNIÃO DOS POVOS DO NORTE DE ANGOLA (UPNA)
    HOLDEN ROBERTO, FUNDADOR DO UNIÃO DOS POVOS DO NORTE DE ANGOLA (UPNA)
    Ora, face a tudo isto, estavam criadas as condições propícias ao florescimento da oposição à presença portuguesa nos territórios ultramarinos. As populações autóctones aspiravam legitimamente à sua autodeterminação e independência, por que sempre lutaram desde o início da ocupação e, obviamente, apoio não lhes faltava, quer moral quer materialmente. Estávamos numa época de afirmação dos dois grandes blocos geoestratégicos, o de Leste, encabeçado pela União Soviética e o Ocidental, com os Estados Unidos da América à cabeça, cada um procurando alargar ao máximo a sua esfera de influência, para daí colher, obviamente, os correspetivos proventos não só políticos, mas também e sobretudo económicos.

    Com efeito, aproveitando essa conjuntura e bem assim o eclodir de alguns focos de contestação ao regime ditatorial que dominava o nosso país e oprimia a sua população, apesar da feroz perseguição e repressão da polícia política, a PIDE/DGS, que se não cansou de os tentar silenciar por todos os meios, que alguns estudantes africanos frequentando estabelecimentos de ensino na metrópole, alguns deles chegando até a ser presos, ou noutras cidades culturalmente mais avançadas do que o meio em que haviam nascido, fundaram os primeiros movimentos autonomistas a que chamaram Movimentos de Libertação. Inicialmente, de cariz estritamente político, doutrinário, ideológico e propagandístico, cedo e em última instância alargaram o âmbito das suas atividades ao campo militar, uma vez que, por parte do regime político que enformava o Estado Novo, não lograram alcançar qualquer resposta, senão o repúdio e o ferrete de terroristas, para as suas inabaláveis reivindicações.

    O primeiro a nascer, em outubro de 1954, por conseguinte ainda antes de Portugal ser admitido no seio da ONU, foi o movimento designado por União dos Povos do Norte de Angola (UPNA), entretanto rebatizado de União dos Povos de Angola (UPA) e, mais tarde, já em março de 1962, fundindo este com o Partido Democrático de Angola, passou a chamar-se Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA). Foi seu fundador e presidente Holden Roberto, que havia nascido em Mbanza-Kongo, antiga São Salvador do Zaire, no norte de Angola, em 1923, e que, com dois anos de idade, se mudara com a família para Leopoldville, no antigo Congo Belga (atual República Democrática do Congo), onde veio a frequentar os seus estudos numa escola missionária batista.

    Recordamos que, uns meses antes da sua fundação, em maio, o governo da nação criara o Estatuto do Indigenato que classificava a população residente nas colónias em três categorias: indígenas, assimilados e brancos. Obviamente que tal estatuto mais veio acicatar a indignação e a revolta dos nativos contra o governo da nação.

    Para além do apoio de alguns países africanos, Holden Roberto pôde contar com a ajuda dos Estados Unidos da América e de Israel. Instalou a sua sede e base operacional no Zaire, de onde as suas tropas passaram a lançar-se nas suas incursões em território angolano.

    (...)

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    (continua no próximo número)

    Por: Miguel Henriques

     

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