Subscrever RSS Subscrever RSS
Edição de 31-03-2024
  • Edição Actual
  • Jornal Online

    Arquivo: Edição de 15-12-2020

    SECÇÃO: Destaque


    Cientista ermesindense João Teixeira venceu uma das mais prestigiadas bolsas atribuídas pelo Australian Research Council

    Foto ARQUIVO PESSOAL JOÃO TEIXEIRA
    Foto ARQUIVO PESSOAL JOÃO TEIXEIRA
    O cientista ermesidense João Teixeira (na imagem) venceu uma das mais prestigiadas bolsas atribuídas pelo Australian Research Council (ARC), a agência governamental responsável pelo financiamento público da ciência na Austrália, análoga à Fundação para a Ciência e a Tecnologia em Portugal. Trata-se de uma Discovery Early Career Research Award (DECRA), que distingue jovens cientistas que terminaram o Doutoramento há menos de cinco anos e que demonstrem uma trajetória profissional considerada excelente e altamente promissora.

    O total financiado ascende a quase 1 milhão de dólares, divididos pelo ARC, cujo apoio é de 425,000 dólares num período de 3 anos, e vários outros parceiros e colaboradores, especialmente a Australian National University, o consórcio científico Centre of Excellence for Australian Biodiversity and Heritage, do qual João Teixeira faz parte, e o Garvan Institute of Medical Research, em Sydney. O cientista português terá a oportunidade de iniciar o seu grupo de investigação do outro lado do Mundo e deverá contar com uma equipa constituída por dois alunos de doutoramento e um investigador pós-doutorado.

    O projecto de investigação será liderada por João Teixeira a partir da Australian National University, em Camberra, uma das mais prestigiadas universidades do Mundo. O cientista ermesindense irá encabeçar uma equipa internacional que conta com investigadores da Austrália, Nova Zelândia (Massey University), Indonésia (Eijkman Institute for Molecular Biology), Reino Unido (Universidade de Cambridge) e Dinamarca (Universidade de Copenhaga).

    O objetivo será estudar a evolução da espécie humana, em particular a chegada do homem moderno (Homo sapiens) à Austrália há mais de 50 mil anos. Especificamente, o projeto debruçar-se-á no cruzamento entre o homem moderno e outras espécies humanas já extintas nos arquipélagos do Sudeste Asiático, nomeadamente na Indonésia, Filipinas e Papua Nova Guiné. Esta região é uma das mais ricas a nível mundial no que concerne a existência de vários fósseis relativos à evolução da espécie humana. Para além de fósseis de Homo erectus com cerca de 2 milhões de anos, foram recentemente descobertas duas outras espécies na região: o Homo floresiensis na ilha de Flores (Indonésia) e o Homo luzonensis na ilha de Luzon (Filipinas), duas espécies humanas de pequenas dimensões (o homem de Flores é mesmo descrito informalmente como ‘hobbit’).

    O maior mistério é que as populações atuais da Indonésia, Filipinas, Papua Nova Guiné e Austrália contêm traços de ancestralidade genética que confirmam a existência de cruzamentos na região entre o homem moderno e uma outra espécie, os Denisovanos. O problema é que ainda não foram descobertos fósseis de Denisovanos nesta área geográfica. Ou seja, não é aceite que os fósseis de H. erectus, H. floresiensis e H. luzonensis representem os Denisovanos que se cruzaram com os ancestrais de populações atuais nesta região. Isto porque os Denisovanos representam uma espécie humana sobre a qual ainda se sabe muito pouco sob o ponto de vista morfológico, com apenas alguns fósseis confirmados na Sibéria e no Tibete. A espécie foi apenas descrita em 2011 através da análise de ADN de um fóssil (por cientistas do Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology, na Alemanha, curiosamente o local onde João Teixeira desenvolveu o seu doutoramento). A escassez de fósseis de Denisovanos torna difícil uma comparação morfológica com outros fósseis, nomeadamente na região das ilhas do Sudeste Asiático. No entanto, sabe-se que estes Denisovanos eram geneticamente próximos dos já extintos Neandertais da Europa, também eles mais próximos da espécie humana. Pelo contrário, análises comparativas dos fósseis de H. luzonensis e H. floresiensis indicam que estas espécies serão mais próximas de H. erectus, e não correspondem aos misteriosos Denisovanos.

    No decurso deste projeto, João Teixeira irá analisar amostras genéticas de centenas de indivíduos na Indonésia e Papua Nova Guiné para tentar reconciliar as observações genéticas com as interpretações do registo fóssil. Será possível que os Denisovanos, o H. floresiensis e o H. luzonensis sejam a mesma espécie à qual foram atribuídos nomes distintos? Ou será que correspondem, de facto, a espécies diferentes? Teremos de esperar pelos resultados da investigação, e ainda assim pode ser que não haja uma resposta definitiva!

     

     

    este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu
    © 2005 A Voz de Ermesinde - Produzido por ardina.com, um produto da Dom Digital.
    Comentários sobre o site: [email protected].