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Edição de 29-02-2024
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    Arquivo: Edição de 31-10-2018

    SECÇÃO: Destaque


    50.º ANIVERSÁRIO DA ESCOLA S. LOURENÇO

    Memórias dos primeiros tempos da Escola de S. Lourenço

    Tal como anunciámos na última edição, vamos continuar neste número a dar atenção ao 50.º aniversário da chegada do ensino preparatório a Ermesinde, traduzido na construção da Escola de S. Lourenço. E para recordar o início dessa caminhada, nada melhor do que recolher o testemunho de alguém que viveu, enquanto aluna, esse momento histórico ocorrido em 1968: a abertura das portas da Escola de S. Lourenço, na época a funcionar num edifício situado na Rua de Porto Carreiro. A nossa entrevistada tem não só a particularidade de ter sido uma das alunas que esteve presente nesse primeiro ano letivo da escola, há 50 anos, como também ser hoje professora na atual Escola Básica 2,3 de S. Lourenço, sendo no presente, aliás, a docente que leciona há mais tempo no referido estabelecimento de ensino. Sem mais demora, passamos a palavra a Teresa Ascensão, que nos recebeu na escola «que já é mais do que a sua casa», partilhando connosco memórias e saudades dos momentos por si vivenciados nos anos em que passou na então recém inaugurada Escola de S. Lourenço.

    Fotos MIGUEL BARROS
    Fotos MIGUEL BARROS
    «Lembro-me que havia um ambiente muito familiar entre professores e alunos, o espaço da escola era muito agradável, pois era um edifício único, muito confortável, e quando ali estávamos ficávamos todos juntinhos o que proporcionava o tal ambiente familiar», é desta forma que Teresa Ascensão começa por recordar a primeira sede da Escola de S. Lourenço, a qual teve o privilégio de frequentar enquanto aluna no primeiro ano letivo (1968/69) da hoje cinquentenária instituição de ensino. Transmontana de nascimento, Teresa Ascensão veio ainda muito nova para Ermesinde com a sua família. Aqui fez a instrução primária, mais precisamente na Escola da Bela, que a par da Escola do Carvalhal eram então as únicas escolas primárias da vila de Ermesinde.

    Pormenor curioso e que atesta a incerteza quanto ao início do ensino preparatório na freguesia, foi o facto de após a conclusão da escola primária os pais da nossa entrevistada a terem matriculado na Escola Aurélia de Sousa, no Porto, «pois não havia a certeza de que a escola preparatória pudesse abrir naquele ano letivo». Com a dissipação desta incerteza em agosto de 1968, os residentes da vila que tal como Teresa Ascensão deram continuidade aos seus estudos após a conclusão do ensino primário, puderam finalmente passar para a nova Escola de S. Lourenço com a finalidade de frequentar os 5.º e 6.º anos de escolaridade, ou como na época eram denominados, os 1.º e o 2.º anos. «Recordo que a escola quando começou teria umas três ou quatro turmas, julgo que não teria muitas mais. Éramos poucos alunos».

    Turmas que não eram mistas, como hoje acontece. Rapazes para um lado, raparigas para o outro. «Mas no recreio brincávamos todos juntos, rapazes e raparigas, algo que não acontecia na escola primária, onde havia um muro muito grande a separar-nos. Não podíamos sequer espreitar para o lado dos rapazes, nem eles para o nosso», recorda Teresa Ascensão, para quem a distância de 50 anos faz com que (outras) memórias mais nítidas desse ano letivo de estreia da escola não possam fazer parte desta conversa.

    Não tem memória, por exemplo, das lutas travadas pelas forças vivas da freguesia para que o ensino preparatório fosse instaurado em Ermesinde. Aliás, tem uma opinião um pouco diferente sobre este assunto: «acho que as pessoas não valorizaram muito a abertura da escola, porque na época o ensino não era muito valorizado. Eu fui umas das privilegiadas em continuar os estudos, até porque então não havia muita abertura para que as mulheres continuassem a estudar. Recordo que da minha escola primária só duas ou três alunas seguimos para a Escola de S. Lourenço. A tendência da época era as mulheres irem trabalhar para a costura ou para as fábricas e eu tive a sorte de o meu pai achar que os filhos tinham que ter algo mais algo que ele, tinham de ter estudos».

    Aliás, «nem dava jeito ao Governo que houvesse continuidade de estudos, pois o próprio regime da altura queria que as pessoas não tivessem muita instrução e muitos alunos ficavam-se pela 4.ª classe, não queriam estudar mais, e isso era normal naquela época».

    ESCOLA DINÂMICA

    NO ASPETO LÚDICO

    Voltando às memórias do primeiro ano letivo da Escola de S. Lourenço, ou pelo menos as memórias que restam, Teresa Ascensão, então com 11 anos, recorda com saudade os professores que ali teve. Sobretudo o docente da disciplina de História, cujo nome o tempo levou, mas «que era um espetáculo. Além de dar umas aulas de História maravilhosas ele animava muito a escola. Tocava guitarra e cantava o fado de Coimbra nas festas da escola ou nos últimos dias dos períodos e nós adorávamos isso. Foi um professor que me marcou». Relativamente às disciplinas, lembra ainda que Religião e Moral era lecionada pelos padres da Consolata. Recorda também o facto de a escola ter ao longo desse ano letivo bastantes atividades, o que não era normal naquele tempo numa escola, como nos conta. «Lembro-me que participávamos em muitas atividades dentro da escola. Fizemos teatro, participámos num grupo de danças folclóricas. Nesse aspeto foi uma escola que me marcou pela forma como os professores trabalhavam o lado lúdico».

    Do primeiro dia de aulas na então nova Escola de S. Lourenço, Teresa Ascensão recorda que foi o seu pai que a levou até à porta do estabelecimento escolar, sim, porque antigamente os pais não entravam na escola. Não se lembra, contudo, de que tenha havido alguma cerimónia especial por aquele ser o dia em que o ensino preparatório abria oficialmente em Ermesinde. «Entrámos normalmente para o primeiro dia de aulas como se a escola já estivesse a funcionar há muito tempo. Naquele dia não houve nenhuma festa em particular». Outro pormenor curioso que mantém vivo na sua memória é a obrigatoriedade do uso de bata na escola, pelo menos para as raparigas.

    DESTINO PROFISSIONAL

    CRUZA-SE COM…

    A ESCOLA DE S. LOURENÇO

    foto
    Finalizado o percurso escolar na Escola de S. Lourenço, a nossa entrevistada seguiu os estudos no Porto, na Escola Aurélia de Sousa, na Escola Soares dos Reis, até se formar como professora, o seu grande sonho. «Desde pequenina que tive a ideia de ser professora, embora o meu pai achasse que eu iria ser advogada porque tinha muito poder de argumentação e era muito boa aluna a português, mas eu queria ser professora, e acabei por seguir o meu sonho», conta. E o destino acabou por fazer com que Teresa Ascensão, já na qualidade de professora de Educação Visual – disciplina que atualmente é designada de Educação Visual e Tecnológica –, regressasse à Escola de S. Lourenço. «Foi engraçado voltar ali, reconhecer algumas das salas em que tinha estado enquanto aluna, reencontrar muitos dos professores que conheci como aluna, como por exemplo o professor Queirós e o professor Santos, que ali lecionavam quando comecei a dar aulas na escola no ano letivo de 1979/80».

    A ligação à escola mantém-se desde então, e já lá vão 39 anos, tendo Teresa Ascensão vivido a mudança de instalações da escola, que em 1981 deixou o edifício situado na Rua de Porto Carreiro para passar a ocupar as atuais instalações. Há inclusive um pormenor curioso nesta mudança: «Recordo-me que já depois de nos termos mudado para as instalações onde atualmente a escola funciona, continuámos por alguns anos a pagar a renda da antiga escola. Aliás, era eu que muitas vezes entregava o cheque da renda ao proprietário do edifício, o Santos Rasteiro, já que na altura eu integrava o Conselho Diretivo da escola, do qual fiz parte cinco anos».

    Teresa Ascensão acompanhou pois todas as mudanças e transformações que a escola foi tendo ao longo das últimas décadas, já que ali passou mais de 40 anos da sua vida, 39 enquanto docente e dois na condição de aluna. «Esta escola já é mais do que a minha casa. Cheguei a passar aqui mais horas do que na minha própria casa. Quando fazia parte do Conselho Diretivo fiz muitas “diretas” para fazer horários, que na altura eram feitos à mão, contrariamente ao que acontece agora». Sendo atualmente a professora que há mais anos leciona na escola, e neste aspeto concreto dá o exemplo curioso de que por vezes encontra ex-alunos cujos filhos são seus alunos, ou mesmo muitos ex-alunos que no presente são seus colegas, reconhece que há muitas diferenças entre o passado e o presente, desde logo o próprio ensino, que foi mudando com os anos, mas também o respeito pelo professor, que antigamente havia e que hoje não existe por parte de uma grande parte dos alunos. «Eu sou apologista das mudanças, elas têm de acontecer, o Mundo mudou e nós temos de acompanhar essa mudança, mas hoje falta respeito pelo professor, uma figura que antigamente era uma instituição. Claro que antigamente esse respeito também passava pelo medo imposto pelo Estado Novo e acho que não devíamos ter esse medo, pois sempre fui apologista da liberdade de expressão. Antes, se alguém nos dissesse que íamos ao gabinete do Diretor da escola, tremíamos todos! Havia medo e eu não sou apologista disso. Mas, julgo que se perdeu um pouco de educação e respeito pelo professor e isso tem a ver com a sociedade em que vivemos hoje em que se foram perdendo alguns valores».

    Por: Miguel Barros

     

     

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