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    Arquivo: Edição de 30-04-2018

    SECÇÃO: Crónicas


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    O que é Poesia?

    Encimando a secção das "obras de poesia", um estabelecimento livreiro da área em que resido destacava as palavras pronunciadas pelo grande poeta chileno e Prémio Nobel de Literatura de 1971:

    "Sobre a terra, antes da escrita e da imprensa existiu a poesia."

    Essa é uma realidade indesmentível se considerarmos que a poesia é algo não palpável, inerente ao homem na sua vida quotidiana qualquer que seja a fixação material, apenas determinada pelas emoções e sentimentos expressos em atitudes.

    A Poesia terá sido, então, a primeira manifestação do engenho humano através da palavra escrita a par de outros meios como a gravura, a escultura, a pintura… Cultores das não muito propriamente chamadas Ciências Humanas (arqueólogos, antropólogos, historiadores filósofos, sociólogos, economistas…) vêm, de longa data, debruçando-se sobre o território denominado Mesopotâmia - por estar compreendido entre dois rios, o Tigre e o Eufrates - onde floresceu a Civilização Suméria (6.500 anos a.C. até 1940 anos a.C. aproximadamente). No entanto, os primeiros registos escritos da região não vão além de 3.500 anos a.C.). As contingências da História e os fenómenos naturais determinaram que civilizações antigas ficassem no esquecimento por muitos séculos e chegassem até nós de maneira imperfeita, quiçá amputadas de partes importantes, muitas delas, em definitivo, perdidas. A sua perda total ou parcial deveu-se à fragilidade dos materiais utilizados como suporte das mensagens escritas, à erosão sofrida por esses materiais ao longo dos tempos e ao tardio empenho de políticos no incentivo ao esclarecimento de factos e de conteúdos de grande importância para a compreensão do presente. A partir de meados do século XIX, ressurgiu o interesse e a necessidade de rever tal situação. Esses esforços trouxeram à luz do dia a realidade crua de que muitos materiais que poderiam iluminar o passado encontravam-se perdidos sem remédio ou de tal forma deteriorados - fruto de guerras destruidoras e de fenómenos atmosféricos prejudiciais - que o seu poder testemunhal poderá ter sido gravemente afetado. Com efeito, o suporte em tábuas de barro cozido, estelas de argila, placas de cera, rolos de couro e papiros e a escrita em caracteres cuneiformes muito contribuíram para dificultar e retardar a interpretação dos documentos encontrados. No entanto, decifrados os caracteres desse código, foi possível descobrir a beleza de textos magníficos a maior parte deles constantes da biblioteca de Assurbanípal, último dos grandes reis da Assíria que, além de grande general, foi também um apaixonado colecionador das artes e compilador de notável biblioteca (Biblioteca de Nínive hoje responsável pela maior parte do que se sabe dos povos da Mesopotâmia) formada com documentos relativos à história sua contemporânea e por hinos, poemas e textos científicos e religiosos muito mais antigos. Ele próprio conta que enviou seus servos aos antigos centros de saber de Babilónia, de Uruk, de Nippur para que pesquisassem os seus arquivos e copiassem e traduzissem para o semítico e acadiano da época os textos escritos na antiga língua suméria da Mesopotâmia. Essa biblioteca continha milhares de textos (crónicas reais, decretos, religião, mitos, poemas e muitos outros) escritos em tabuinhas de barro cozido. Desse acervo constavam 30943 tabuinhas e 22000 placas de argila.Quanto aos textos, copiados segundo o original e cotejados no palácio de Assurbanípal, encontram-se atualmente no Museu Britânico. Considera-se que foi Sir Austen Henry Layard, arqueólogo britânico, quem descobriu a Biblioteca de Nínive por volta de 1849 quando iniciou uma expedição para investigar as ruínas da Babilónia.

    A mais famosa obra dessa biblioteca é um poema que ficou conhecido como "Epopeia de Gilgamesh". Gilgamesh, "o velho que rejuvenesce", personagem central do poema é uma figura semi-lendária, rei da cidade-estado de Uruk por volta de 2700 a. C. A obra foi encontrada em 12 plaquetas de argila e compunha-se de 12 cantos com cerca de 300 versos cada um narrando a procura da personagem pela imortalidade. Vieram depois os vedas indianos, os Ghatas de Zoroastro até à Odisseia parece terem sido compostas em forma poética para ajudar a memorização e a transmissão oral nas sociedades pré-históricas e antigas. Essa crença terá levado Pablo Neruda e outros grandes criadores a justificar a declaração referida no início desta crónica.Com efeito, convencionou-se, de longa data, que um texto escrito em linguagem corrida sem especial preocupação com ritmo, rima ou disposição sobre a página recebesse a designação de prosa enquanto outros que possuem esses requisitos foram denominados poesia e o texto em que são apresentados poema. Até à Idade Média quase todas as grandes obras literárias foram desse género. A prosa desenvolveu-se a partir desse período sobretudo após o surgimento da Imprensa cerca de 1450 da nossa era quando Johannes Gutemberg utilizou tipos móveis de metal para imprimir a Bíblia, trabalho esse que, até essa data era feito à mão por frades copistas. A passagem em prosa das canções de gesta deu origem às novelas; o conto desenvolve-se no fim da Idade Média e início do Renascimento; o romance surge no século XVIII.

    A Teoria da Literatura estabelece a Poesia e a Prosa como os dois grandes géneros literários com base nessa distinção. Porém, como escreveu Fernando Pessoa, "não há prosa, nem a mais rigidamente científica, que não ressume qualquer suco emotivo. Em tudo o que se diz - poesia ou prosa - há ideia e emoção. A poesia difere da prosa apenas em que escolhe um novo meio exterior, além da palavra, para projetar a ideia em palavras através da emoção. Esse meio é o ritmo, a rima, a estrofe; ou todas, ou duas ou uma só. /…/ A poesia é superior à prosa porque exprime, não um grau superior de emoção mas, ao contrário, um grau superior do domínio dela."Não esqueçamos, porém que há obras em prosa com elevado nível poético. Vale a pena recordar o grande escritor francês Antoine de Saint-Exupéry em várias das suas obras como Vol de Nuit, (Voo da noite sobre o correio aéreo entre os países sul-americanos e a Europa, lembremo-nos de que o autor foi piloto desses aviões e acabou perecendo em local desconhecido voando sobre o Oceano Atlântico),Terre des Hommes (Terra dos Homens) e a mais que todas conhecida Le Petit Prince ("O Principezinho" na versão portuguesa e "O Pequeno Príncipe" na versão brasileira). Esta última obra é de tão arrebatadora sensibilidade e desperta tamanha emoção que foi traduzida em praticamente todas as línguas nacionais do mundo.

    Por estes apontamentos podemos concluir que a asserção de Pablo Neruda recolhe plena confirmação pela História e pela Literatura.

    Bibliografia consultada:

    1. Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira de Cultura

    2. Várias informações obtidas através da Wikipédia

    Por: Nuno Afonso

     

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