SECÇÃO: Especial

“A Voz de Ermesinde” - 60.º Aniversário

Do que fui lendo e ouvindo de Ermesindenses da geração anterior posso concluir, com segurança, que "A Voz de Ermesinde" iniciou a vida divulgando a obra, carências e anseios da entidade sua proprietária, então Sopa dos Pobres e atualmente Centro Social de Ermesinde, abrindo-se progressivamente à comunidade em que se insere.

Aliás, o título das primeiras edições do periódico foi também Sopa dos Pobres e o produto da respetiva venda revertia para a comparticipação dos encargos quotidianos da Instituição, então instalada num barracão da rua do Passal, com a sopa e pão que sustentavam os mais carenciados.

A tiragem, divulgação e prestígio de "A Voz de Ermesinde" foi crescendo ao longo dos anos, mas a sua efetiva interação e partilha de informações com a comunidade local apenas se consolidou na sequência da Revolução de Abril de 1974.

A consagração da Liberdade de Expressão e Informação no artigo 37.º da Constituição da República Portuguesa, como Direito Fundamental do nosso Regime Democrático, permitiu a publicação da livre opinião, do debate político no sentido mais nobre, da defesa de valores, projetos e estratégias de desenvolvimento sócio-económico.

É certo que, numa ou noutra ocasião, um ou outro agente político, cedendo à ambição de domínio de ideias e opiniões na comunidade local, tentou cercear ou, pelo menos, refrear a opinião livre e descomprometida.

No entanto, o periódico aprendeu a percorrer o seu caminho de cabeça levantada, mitigando de forma adequada a Liberdade de Expressão com o sentido de responsabilidade da Associação proprietária do título.

Uma verdadeira Liberdade de Expressão é muito mais que a mera possibilidade do debate entre diversas perspetivas do Mundo e da vida em sociedade. Como exemplarmente considerou, numa das suas mais emblemáticas decisões, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem "A Liberdade de Expressão constitui um dos fundamentos da sociedade democrática, sendo uma condição fundamental do progresso e da realização individual."

Um periódico com a tiragem e maturidade de "A Voz de Ermesinde" configura, por tudo isso, um valioso património da nossa Cidade, um valor de cidadania que jamais podemos menosprezar.

Por: José Puig*

*(colaborador na rubrica "Direito")