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ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA E CULTURAL DE ERMESINDE
“A Voz de Ermesinde” - Comemorar a memória
O Jornal “A Voz de Ermesinde” comemora no presente mês de Janeiro o seu 60º aniversário. Uma data redonda, respeitável, que traz consigo, na matriz das notícias dos finais da Década de 50, as múltiplas memórias - escritas, iconográficas e fotográficas - de uma Vila ainda rural e pacata que, de quando em vez, acordada pelo assobio do comboio a vapor, por cá entroncava gentes do norte e do sul, filhos de um êxodo rural que, na esperança de "melhor vida" misturando-se numa heterogenia de origem geográfica, engrossava e povoava nas margens e encostas do Leça, terras e lugares que outrora foram a Sintra do Norte.
Então, A Sopa dos Pobres, epíteto e voz de uma transformação que se adivinhava, buscava aqui e ali, o sentir e o penar dos seus habitantes, diferentes registos de anseios e lamúrias na defesa dos legítimos interesses de uma freguesia que crescia, mingada nos meios, nos recursos e nas aspirações que tardavam em chegar. A Voz de Ermesinde, linha a linha, pincelada por múltiplos amigos e colaboradores, ecoava nas carências existentes e rejubilava nos feitos que conseguia. Miscelânea de acontecimentos e a marca institucional do Centro de Assistência Social de Ermesinde, deambula, rua a rua, coluna a coluna, pelos eventos individuais e colectivos, chamando a si, a divulgação da extensão social, cultural, religiosa, desportiva e educativa. Embora com pequenos e indisfarçáveis resquícios de inocentes lamentações políticas, poupou-se, durante o Estado Novo, ao confronto directo e esclarecido, navegando em águas mais calmas, longe da obstinação de um lápis azul, inconveniente a um periódico de leituras e interpretações dispersas e diferentes. Por outro lado, suscitar ideias e preocupações perversas a leitores maioritariamente pouco predispostos e esclarecidos, contrariaria a ordem estabelecida, intento indesejável numa freguesia, também ela, amordaçada na dor das perseguições políticas e dos soldados, lá longe, caídos no Ultramar. Não estranhamos pois, entre o deve e haver, encontrarmos neste forte caudal migratório, gente que acredita em si, mais comprometida com a força braçal da sua sobrevivência e, eventualmente, menos dispostos aos perigosos enlaces políticos para os quais não estavam preparados.
Hoje, esta sexagenária publicação, adolescente em Abril de 1974, é já a transfiguração metamorfoseada das últimas quatro Décadas de existência. No equilíbrio do balanço da dicotomia expressa na mensagem e no mensageiro, não tem conseguido A Voz de Ermesinde, garantir e fazer coabitar as premissas editoriais, elas próprias a essência única da Imprensa Regional. Um percurso e trajecto que nos últimos anos, longe de uma identitária matriz de cariz local, tem vindo a esvanecer-se, na forma e conteúdo, nos actos e protagonistas, com maior e notório relevo e destaque à parte em detrimento do todo.
É nesta tendência, de maior cobertura, exposição e difusão de conteúdos de componente política, mesmo local que seja, que tendemos a encontrar longos vazios de elementos identitários, marcas da memória colectiva, génese do que fomos e que somos, mas cujo saber está longe das novas e diferentes gerações.
Só podemos comemorar o que tem memória: as coisas, os saberes, os lugares e as gentes. E é nesta vertente, na simbiose contínua e dinâmica da longevidade e do comemorável, que a Associação Académica e Cultural de Ermesinde, nas últimas duas Décadas, produz, reproduz e divulga, as diferentes formas culturais e artísticas, também elas, relembrando o espaço que A Voz de Ermesinde teimou em conceder aos seus habitantes à 60 anos atrás.
Haverá melhor forma de nos associarmos à Comemoração do 60º Aniversário de A Voz de Ermesinde? Cremos que não.
Pela Direção da Associação Académica e Cultural de Ermesinde
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