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Edição de 29-02-2024
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    Arquivo: Edição de 30-06-2017

    SECÇÃO: História


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    60º ANIVERSÁRIO DO CENTRO SOCIAL DE ERMESINDE

    A assistência social em Ermesinde

    Sempre com base no seu órgão de informação, que é também campeão de longevidade em termos de meios de comunicação da cidade (Sopa dos Pobres / A Voz de Ermesinde), transcrevemos os extratos de algumas notícias publicadas na edição de Agosto de 1960, que ajudam a compreender as razões desta louvável Obra de cariz social.

    Logo da 1.ª página, sob o título "Ermesinde Assiste Aos Seus Pobres" se afirma: "Todo o movimento, independentemente da sua natureza, adopta um enunciado que sirva o princípio da sua actividade e que reflicta, fundamentalmente, o ojectivo e a amplitude dos esforços que são desenvolvidos para concretização do pensamento que modelou a colaboração oferecida e os interesses manifestados. Parece que nenhum outro enunciado poderia servir melhor o movimento desenvolvido para solução do problema da Assistência em Ermesinde do que aquele que enquadra o objecto das presentes considerações. Depois, ele constitui uma afirmação fundamentada e traduz, em felicidade, a condição de realidade desta progressiva, encantadora, compreensiva e generosa Vila de Ermesinde.

    Depois de realizado trabalho profundo para avaliar as necessidades da terra, em matéria e assistência, e inventariadas as possibilidades para satisfação das exigências reais, foi possível definir e proclamar a agradável conclusão de que o esquema organizado da Assistência está em condições seguras de se atender todos os seus pobres, assim informa a Direcção do Centro de Assistência Social (…)".

    "O caso de Ermesinde é um exemplo. As instituições assistenciais atendem todos os necessitados, em medida justa, avaliada pelas circunstâncias de cada caso particular, e adoptaram as providências para evitar o quadro triste dos mendigos, estendendo a mão à caridade e exibindo aspectos de miséria, tantas vezes exageradas. No prolongamento das diligências que ponderaram todas as hipóteses, foram estabelecidas, também, as medidas de repressão à mendicidade, em princípio de justa compreensão e de caridade efectiva; o povo de Ermesinde que, tantas vezes, fez demonstração do seu espírito superior, promoverá a solução completa do problema, praticando caridade e o princípio de solidariedade, por intermédio das organizações existentes de assistência.

    A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES DIÁRIAS PARA QUEM, DE OUTRO MODO, NÃO AS TINHA FOI A PRIMEIRA PREOCUPAÇÃO DA SOPA DOS POBRES, DEPOIS, CENTRO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL DE ERMESINDE
    A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES DIÁRIAS PARA QUEM, DE OUTRO MODO, NÃO AS TINHA FOI A PRIMEIRA PREOCUPAÇÃO DA SOPA DOS POBRES, DEPOIS, CENTRO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL DE ERMESINDE
    "Com a consciência exacta das realidades pode ser afirmado: Ermesinde assiste aos seus pobres - proibida a mendicidade. Placas várias serão afixadas, em breve, nos locais mais movimentados para proclamação do princípio; todavia, mais do que em afixações, esta realidade deve estar em permanência no espírito e na alma dos habitantes da terra".

    Terminamos, com a transcrição na íntegra de um artigo que foi publicado na página 2 do mesmo jornal, sob o título "A Compreensão da Pobreza" e assinado por "V. M.".

    "A compreensão da pobreza é, sem dúvida, uma medida de bondade que, por sua vez, é a maior afirmação do espírito. Antes, porém, de ser uma medida de bondade, é ela uma medida de inteligência, que diz respeito a todo o homem que a possui, usufruindo de bens materiais suficientes para si. Desde que a pobreza tem de ser uma realidade permanente - diríamos até uma realidade vital - (pobres sempre os tereis entre vós...) essa compreensão como medida de inteligência impõe-se necessàriamente, para que, na verdade, todos os que são pobres sejam devidamente apreciados e correspondidos. É a palavra profunda - sempre antiga e sempre nova - do Salmo inspirador:

    "Bem-aventurado o que se elevou até à compreensão do pobre...".

    Mas como entender esta palavra? Como apreender-lhe todo o seu sentido e todo o seu significado? Ela quer dizer que não basta volver para os pobres os olhos da matéria, mas sim que é necessário examiná-los com os olhos da alma; não basta olhar para os pobres como os felizes olham para os infelizes, mas sim é necessário olhar para eles com a mesma ternura e o mesmo espírito que os infelizes olham para os infelizes. Compreender a pobreza, quer dizer prescrutar-lhe o íntimo, desvendar todo o seu significado, ir até ao ponto ou até à perfeição de se julgar no dever de os servir como filhos de Deus, membros de um mesmo corpo místico de que todos fazemos parte. Assim o entendeu Bossuet, o grande orador francês, quando no fim do seu segundo sermão do Pentecostes, arquivou tal doutrina e apregoou a sua recordação.

    "Já alguma vez sentimos que somos membros dum corpo? Quem de vós padeceu... com os pobres?" Somos, de facto, membros vivos de um corpo social e religioso e só na medida em que nos sentimos solidários dentro desse corpo poderemos compreender as necessidades mútuas, os problemas comuns que surgem dia a dia, hora a hora, como quinhão que a todos pertence e a todos diz respeito, sendo também membros desse organismo, os pobres - os últimos no mundo, mas os primeiros no Reino de Deus - como diria Bossuet - não podem deixar de merecer todo o nosso respeito, toda a nossa estima e toda a nossa compreensão e até, todo o nosso amor.

    Quando tais sentimentos surgem numa alma, a dominam e a arrebatam, a mesma alma sente-se verdadeiramente inclinada para a pobreza e atinge a compreensão máxima e plena da mesma pobreza, a nossa irmã, como dizia o Poverelo de Assis. Alcançada tal perfeição - prova evidente de grande bondade - todos poderão fazer consistir a sua felicidade máxima na honra de servir os pobres, de os respeitar e de os socorrer irmanando-se com eles nas suas necessidades, nos seus anseios, nos seus sofrimentos e na sua vida. Nessa confraternidade autêntica com os pobres, reside toda a compreensão do mistério da caridade, que todos devemos procurar desvendar e viver."

    Por: Manuel Augusto Dias

     

     

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