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Edição de 29-02-2024
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    Arquivo: Edição de 30-06-2017

    SECÇÃO: Editorial


    Tropeçar com a pressa

    Passei, há dias, no IC 8, entre Castelo Branco e Condeixa, atravessando o território dos concelhos de Pedrógão Grande, Castanheira de Pêra e Figueiró dos Vinhos, destruído pelo mais trágico incêndio florestal no nosso País de que tenho memória.

    É um território inóspito, uma sucessão de dezenas de quilómetros - em toda a extensão que a vista alcança, para todos os sentidos - de vultos espectrais e descarnados das casas e das árvores, sem que se pressinta sequer uma manifestação de vida em todo esse espaço calcinado.

    Como referi, trata-se de uma extensão de muitos quilómetros quadrados - 410 quilómetros quadrados, ao que li na imprensa - de destruição contínua.

    Nesse quadro superlativo, fiquei devidamente impressionado, como todos devemos ter ficado, com a competência da Polícia Judiciária, que, em menos de 24 horas, nos veio mostrar a árvore que, atingida e fendida por um raio, durante uma tempestade eléctrica, havia constituído a ignição inicial do incêndio.

    Entre milhões de árvores, tantas quantos os seus esqueletos que vi ao longo do IC 8, tinha sido precisamente aquela a solitária causadora imediata da tragédia - mas logo prontamente identificada pela nossa polícia científica, após perícia.

    Não fora a circunstância de o Instituto Português do Mar e da Atmosfera nos assegurar, pela sua parte, que nenhum raio caíra no local inicial do incêndio, nem nos momentos em que o mesmo começou, nem nas horas imediatas, e ficaria sem contradita a descoberta apressada da PJ - que passaria a valer como verdade, mesmo que o não fosse.

    Ora, no quadro das suas competências, o IPMA monitoriza permanentemente o que se passa na atmosfera no nosso território - e o seu veredicto foi preciso: não é só o facto negativo de não ter detectado raio nenhum; é ter verificado o facto positivo de que o mesmo não caiu então ali.

    Não foi só a propósito desta explicação inicial que se verificaram dissonâncias.

    Esta desarmonia entre as várias vozes que, tocadas pelo selo da autoridade pública, se têm desdobrado em declarações e contradições, teve outros episódios e outros actores - e não abona a preocupação com o rigor que a explicação de uma tragédia como esta obviamente exige.

    Não queremos saber quem é mais eficaz no alijar de responsabilidades próprias e em empurrá-las para os vizinhos.

    Mas a pressa é má conselheira, como este episódio PJ/IPMA demonstra.

    É necessário espera e tempo para as impurezas depositarem no fundo; e a verdade vir à tona.

    Por: Henrique Rodrigues

     

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