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Edição de 29-02-2024
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    Arquivo: Edição de 28-02-2017

    SECÇÃO: Local


    GENTE DA NOSSA TERRA

    Cavaleiros de Negro batalham por um lugar de destaque na música nacional

    Na rubrica "Gente da Nossa Terra" damos nesta edição voz a uma jovem e promissora banda com raízes na nossa cidade, os Cavaleiros de Negro, que neste mês de fevereiro completaram precisamente cinco anos de existência. Intitulam-se os atuais guardiões do rock português, o estilo musical que adotaram desde a sua fundação, mas com um cunho pessoal mais atual e vanguardista. Estivemos à conversa com três dos quatro elementos da banda, ficando então a conhecer não só a sua história mas sobretudo a sua ambição de alcançar um lugar de destaque na música nacional.

    Numa primeira impressão, e a julgar pelo "nome de guerra", podemos pensar que estamos perante uma banda de metal progressivo ou algo muito próximo. Engano puro, pois os Cavaleiros de Negro assumem-se com orgulho como uma banda de rock português, uma banda que pretende resgatar para o presente o espírito dessa época dourada do rock nacional, que teve o seu apogeu nos finais da década de 70 e toda a década de 80 do século passado, que ficou descrita na história da cultura lusa como a era do boom do rock em Portugal, e que viu nascer ícones como os Xutos & Pontapés, os UHF, os GNR, os Táxi, Rui Veloso, António Variações, Jorge Palma, entre tantos outras bandas e/ou artistas. E é na história que os Cavaleiros de Negro querem definitivamente entrar, numa história que está a ser escrita, ou, por palavras mais exactas, batalhar por um lugar na música portuguesa do presente e do futuro.

    Definem-se, como já vimos, como uma banda de rock português, mas um rock português moderno e vanguardista. Conversámos com eles, no coração da nossa cidade, junto à casa da cultura ermesindense - o fórum cultural -, o lugar certo para ficar a perceber que este grupo de jovens tem talento, ambição e visão para saber que caminhos quer percorrer.

    RAÍZES

    EM ERMESINDE

    Fotos ALBERTO BLANQUETT
    Fotos ALBERTO BLANQUETT
    Como todas as histórias, também esta tem o seu início, um início que aconteceu precisamente há cinco anos, e daí o facto de os Cavaleiros estarem neste momento em festa pela comemoração do seu quinto aniversário. E, nesse início, esteve Drop, o nome artístico de Abel Ferreira, um jovem ermesindense. Foi ele - na voz, na guitarra e responsável pela composição das letras - juntamente com André Rodrigues (bateria), Ricardo Saraiva (nas segundas vozes) e Fábio Rodrigues (guitarra solo), três elementos vindos de outras paragens, que deu vida aos Cavaleiros de Negro.

    Como tantas outras bandas, começaram por ensaiar na casa de um dos elementos, neste caso de Fábio Rodrigues, em S. Pedro da Cova, partilhando posteriormente uma sala de ensaios no Porto, até que surgiram com naturalidade os primeiros repertórios originais. Mês importante na ainda curta história de vida dos Cavaleiros é agosto (de 2012), altura em que a banda dá o seu primeiro concerto. E lá está Ermesinde mais uma vez como ponto de partida. Tudo aconteceu no Café Cruzeiro, «que nos abriu as portas, que mesmo sem termos uma maqueta gravada confiou em nós para sermos a primeira banda de rock que deu um concerto na história de um café que foi fundado em 1958», relembra Drop, e entretanto é hoje o único elemento que resta, digamos assim, da formação original.

    Por este ou por aquele motivo, os outros elementos acabaram por sair, sendo que um ou outro não terão sequer tido o batismo (isto é, participado nessa primeira atuação ao vivo) no Café Cruzeiro em agosto de 2012, uma noite que acabou por dar força aos Cavaleiros para seguirem em frente. «Nessa noite tivemos o apoio das nossas famílias, dos nossos amigos, e até dos Ultras Ermesinde - a claque do Ermesinde 1936 - à qual eu me orgulho de pertencer», recorda Drop. Com a saída de alguns elementos, entraram outros, casos de Bruno Cristo e Pedro Nadais, dois jovens de Matosinhos, respetivamente o baixo e guitarra solo, que integram na atualidade os Cavaleiros. E até que, há dois anos foi a vez de André Cosme entrar para a banda, ele, baterista, vindo de Rio Tinto e que travou conhecimento com os Cavaleiros no Centro Comercial Brasília, local onde na altura ensaiava com um outro projeto musical que entretanto chegou ao fim, e o local onde Rui Veloso compôs o tema "A Rapariguinha do Shopping" ou onde os lendários Táxi arrancaram para uma carreira de sucesso. Coincidências, ou não, é ali também que os Cavaleiros de Negro, os guardiões do rock português, têm hoje em dia a sua sala de ensaios particular. É ali que as distintas influências destes quatro músicos se misturam no sentido de dar vida ao reportório original dos Cavaleiros. Cosme, por exemplo, tem formação em bossa nova, Cristo inclina-se para o rock metal progressivo, Pedro Nadais tem formação em guitarra clássica e em gypsy jazz, e Drop para o velhinho e mítico rock português.

    CANTAR

    EM PORTUGUÊS

    É PONTO DE HONRA

    Foto CAVALEIROS DE NEGRO
    Foto CAVALEIROS DE NEGRO
    Como já foi referido, os Cavaleiros têm já no seu repertório vários temas originais, mas nos seus concertos são também lançados para o público versões dos velhos e sempre atuais clássicos do rock nacional, de bandas como UHF, Rádio Macau, ou de figuras como Jorge Palma entre muitos outros. Ponto de honra na essência dos Cavaleiros? Há um que surge em primeiro lugar destacado: cantar em português. E porquê, atendendo a que grande parte das novas bandas que surgem se exprimem em inglês… «porque somos portugueses, ponto», explicam de forma convicta e orgulhosa, confessando ainda nada ter contra quem usa a língua inglesa para cantar, até porque têm amigos noutras bandas que o fazem. Além disso, os Cavaleiros são assumidamente patriotas, «gostamos do nosso país», e fazem questão de o demonstrar quando estão em palco. «Houve uma altura em que tocávamos uma versão do Jorge Palma que era a "Portugal, Portugal" em que, quando as coisas não estavam bem em termos nacionais, em termos políticos ou económicos, eu fazia questão de, a meio da música, abordar o assunto, de mostrar a nossa visão das coisas, porque somos da opinião que a canção ainda é uma arma, seja ela trovadoresca ou em formato rock», afirma Drop.

    Outra questão que salta à vista assim que travamos conhecimento com o trabalho dos Cavaleiros é o facto de se auto-intitularem uma banda de rock português, do velhinho rock nacional nascido nos finais dos anos 70 e década de 80. «O porquê disso, porque foram eles (essas bandas e artistas do chamado boom do rock português) que começaram isto tudo», explicam. Além desta vertente mais de intervenção, a música - original - dos Cavaleiros de Negro aborda ainda a temática do amor, sendo que as letras são da autoria de Drop, que, além de vocalista e guitarrista, é ainda o manager, o relações públicas, o técnico de som, enfim, o homem dos sete ofícios da banda. Ele que profissionalmente é precisamente técnico de som, com formação na área, sendo esta uma das vantagens para o resto da banda que, deixando, não só a parte técnica, como também a parte das letras para o seu vocalista tem assim mais espaço para dar azo a sua criatividade no que concerne à composição dos temas.

    Perante esta postura determinada em fazer carreira na música, a pergunta impõe-se: Para quando o primeiro trabalho de originais? Os Cavaleiros são prontos a dizer que o objetivo para este ano é juntar algum capital, através da atuação em concertos, que lhes permita arrancar para a produção de um álbum lá mais para 2018. Até porque material suficiente para a produção de um registo discográfico já existe, mas estão cientes de que não é fácil em Portugal uma banda que ainda não vive da música, mas que pretende fazê-lo, produzir um disco. «Mas estamos a trabalhar para isso».

    Tema central que nos levou à conversa com estes jovens foi o 5º aniversário da banda, que se comemorou neste mês de fevereiro com um concerto no Café Ceuta, no Porto, sendo que, quando questionados para fazer um balanço desta mão cheia de anos, a banda é peremptória em dizer que sem o passado não tinham chegado até aqui. Sem os primeiros elementos, sem a primeira sala de ensaios, ou sem os primeiros concertos, não seria possível aos Cavaleiros serem aquilo que são hoje. Apesar desse passado, afirmam convictamente que a melhor fase da sua vida está a acontecer agora, no presente. E prova disso é a agenda bem composta de concertos que têm em mãos, sendo que para exemplificar esse facto recordam que só este ano já atingiram oito concertos realizados, o mesmo número de concertos realizados durante todo o ano anterior. «Mas até ao final do ano queremos mais. Felizmente temos tido sorte, temos tido público, mas as coisas têm de melhorar ainda mais», referem, anseando assim ultrapassar largamente este ano os 13 concertos (o máximo de espetáculos realizados num ano, o de 2014).

    MAIS APOIOS SERIAM

    BEM VINDOS

    foto
    A terminar esta conversa, fazem um apelo à cidade que os viu nascer, uma cidade que tem sido importante no seu crescimento, relembrando Drop, neste aspeto, os concertos realizados não só no Café Cruzeiro, como também no Estádio de Sonhos ou no salão nobre dos Bombeiros de Ermesinde, e que serviram de rampa de lançamento de uma banda que tem levado o nome da cidade bem longe no nosso país. Mas é com alguma mágoa que os Cavaleiros ainda não viram as portas da casa da cultura da nossa cidade, o mesmo será dizer, o Fórum Cultural de Ermesinde, serem-lhes abertas. Nem ali nem em nenhum outro grande evento da cidade ou do concelho realizado no coração da nossa freguesia. «Arriscamos a dizer que isso se deve à falta de interesse, pois custa-nos dizer que já vimos grandes artistas pagos a peso de ouro a tocar, por exemplo, na Praça da Estação perante uma multidão, sinal de que a aposta foi ganha, mas porque não manter o artista convidado com uma abertura feita por uma banda local?», lançam a ideia. Sentem-se de certa forma desiludidos quando levam longe o nome da cidade mas dentro desta mesma cidade, dentro da sua casa, não são reconhecidos ou valorizados. Aproveitam por isso para deixar uma mensagem à comunidade: «Apostem na música nacional, no que é nosso, apostem nos artistas que querem fazer algo nos tempos atuais, e que para pisarem um palco grande não tenham de ter 30 ou 40 anos de experiência. Existem bandas que estão aqui e que as pessoas não conhecem, bandas que estão a tentar progredir não só a nível técnico como a nível de público em termos nacionais, e se essas bandas não começam a ser reconhecidas na sua casa, ou seja, nas próprias cidades, como é que chegam ao resto do país?».

    O caminho pode até nem ser fácil, já que viver exclusivamente da música em Portugal faz-se rodear de muitas dificuldades, quer de ordem económica, quer de ordem de oportunidades. Mas os Cavaleiros de Negro olham para trás e recordam que as bandas que nasceram no tal boom do rock português enfrentaram dificuldades ainda maiores para singrar no cenário musical. E conseguiram-no. «E se assim foi, porque é que nós, que estamos na flor da idade e temos outras condições que eles não tinham, não havemos de conseguir lá chegar? Achamos que com união e com a força que temos vamos ser alguém no panorama musical nacional», afirmam convictos os Cavaleiros de Negro, até porque, como a sua própria designação indica, eles "são os únicos com a capacidade para lidar com os cavalos que se soltaram na corrida", numa alusão clara ao tema "Cavalos de Corrida", dos UHF, e que inspirou o nome desta banda com raízes na nossa cidade.

    Por: Miguel Barros

     

     

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