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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 31-01-2017

    SECÇÃO: História


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    60º ANIVERSÁRIO DO CENTRO SOCIAL DE ERMESINDE (25)

    As contas do Centro de Assistência Social em 1960

    Vimos na última edição que quem ajudava o Centro de Assistência Social de Ermesinde há 56 anos eram alguns empresários da vila, algumas instituições, mas também algumas personalidades a título individual e, sobretudo, muita da população da terra, que achava que apesar de não ter muito, ainda tinha alguma coisa de que podia prescindir a favor daqueles que menos tinham.

    Analisando com mais pormenor as contas (apresentadas pela Direção, presidida por António Moreira da Silva e secretariada por Joaquim da Silva Seabra), atentemos, primeiro, nas Receitas. A primeira parcela diz respeito ao saldo que transitou do ano anterior (1959), apenas 784$80, o que quer dizer, que receitas e despesas se equivaleram.

    As receitas de maior montante eram os donativos em géneros da Cáritas e de outros que ultrapassavam os 100 contos (108 471$70), vinham a seguir a quotização dos sócios, que importava em 69 322$40. Só em 3.º lugar aparecia um subsídio institucional, do Fundo do Socorro Social (42 000$00). Os subsídios da Junta de Freguesia de Ermesinde, Câmara Municipal de Valongo e da Comissão Municipal de Assistência eram de valor quase irrisório, tendo em consideração a importância social desta Obra. Depois ainda vinha o resultado líquido de Festas e Quermesses e donativos em dinheiro, medicamentos e agasalhos da população ermesindense.

    Já no que respeita às despesas, os valores mais elevados diziam respeito aos géneros para confeção da sopa, aos donativos para medicamentos, aos donativos em dinheiro e pão de milho e trigo. Mas havia ainda a renda com a Cantina, o salário da empregada da Cantina, as contribuições para as Caixas de Previdência, Abono de Família e Fundo de Desemprego, impressos, expediente e propaganda, correio, telégrafo e telefone, luz e limpeza e muitas outras despesas.

    Acerca da caridade e da forma como era praticada em Ermesinde, vários artigos foram sendo publicados em "A Voz de Ermesinde". Um desses era da autoria do Padre Francisco Babo, onde defende que a caridade seja concentrada no Centro de Assistência Social e na Conferência de S. Vicente de Paulo. Desse artigo publicado na edição de março de 1961, do jornal do Centro de Assistência Social, transcrevemos as seguintes passagens:

    AS CONTAS (RECEITAS E DESPESAS) DO CENTRO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL DE ERMESINDE, REFERENTES AO ANO ECONÓMICO DE 1960
    AS CONTAS (RECEITAS E DESPESAS) DO CENTRO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL DE ERMESINDE, REFERENTES AO ANO ECONÓMICO DE 1960
    "(…) Andam as autoridades e vários organismos e pessoas pendentes e sensatas empenhadas na extinção duma chaga social, que também visível e escandalosamente supura na nossa progressiva terra e adjacentes ou circunvizinhas - a mendicidade viciosa.

    Andam empenhados na sua extinção, ao mesmo tempo que porfiam em assistir deveras e o melhor possível os decaídos, os necessitados, os que carecem em verdade de auxílio do seu semelhante.

    Ora esta tarefa e este esforço são verdadeiramente dignos de aplauso e constituem um imperativo de justiça. Uma sociedade progressiva, evoluída, de cristãos autênticos não se compadece com o abandono desumano dos irmãos, que o somos todos em Nosso Senhor Jesus Cristo. Nem pode consentir que os viciosos, os que não querem trabalhar, vivam, como parasitas, a sugar o fruto do trabalho do seu semelhante, explorando como profissão a mendicidade, ostensiva, afrontosa, degradante.

    Ora, se é tarefa benemerente o empenho oficial que visa estes dois objectivos, sociais, morais e de civilização, que todos os moradores, todos os habitantes colaborem nesta cruzada para a eficaz e rápida consecução deste desideratum, que deve ser comum.

    A terra lucra se vem a limpar-se do espectáculo feio e humilhante que oferecem os bandos de mendigos, ou mesmo os que preferem ir singularmente bater às portas, percorrendo ruas e ruelas, usando como libré os farrapos mais replentes, que só envergam para o exercício desta função. A terra lucra em decência, mormente se organiza cristãmente a assistência condigna aos seus pobres e doentes necessitados.

    Todos podem e devem colaborar nesta causa, que é também de bairrismo, mas de civilização, de humanidade, de caridade.

    Deixando o nosso individualismo, teimando em continuar a dar como nos apeteça, ou então, folgando com a medida acertada da supressão da mendicidade por haver poupado uns escudos, que se recusa dar para o Centro de Assistência Social ou para a Conferência de S. Vicente de Paulo, organismos que operam em nome de nós todos.

    Isso, longe de ser colaboração, é uma forma prática de egoismo e de hostilidade à organização assistencial da vida social da nossa terra.

    Os cristãos são por natureza colaboradores, trabalham, vivem, operam, sentem em comunidade e querem o bem da Comunidade.

    Tudo o que se faz com a colaboração, com o amor sincero de todos, é de um grande alcance e chega a maravilhar.

    (…) Aos que conhecemos como precisados por não se poderem valer, em razão da viuvez, do número elevado de filhos, da invalidez, da orfandade, da injustiça social, etc., dêmos com generosidade. E dêmos como cristãos, com humildade e simplicidade, vendo no pobre o nosso irmão, porque é filho do mesmo pai, que é Deus. Dar por amor de Deus, dar amando o nosso semelhante, porque é irmão, isso é Caridade. Porque caridade é amor puro, antes de mais, por causa de Deus. E todos devemos viver em Caridade. A vida dos cristãos, se não é vida de Caridade, é falsa, é mentirosa.

    Assim se desterra a vaidade dos nossos actos. A preocupação da publicidade, de que se tornem conhecidas nossas "esmolas", de que se saiba o bem que fazemos, desaparecerá.

    Porque o bem diminui na medida em que se busca a notoriedade. (…)".

    Por: Manuel Augusto Dias

     

     

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