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    Arquivo: Edição de 22-11-2013

    SECÇÃO: História


    Centenário do nascimento de Álvaro Cunhal

    No passado domingo, 10 de novembro de 2013, completaram--se cem anos sobre o nascimento de Álvaro Cunhal.

    Concorde-se ou não com as suas ideias políticas, a verdade é que se trata de uma referência portuguesa da luta antifascista, ao longo do século XX.

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    Álvaro Barreirinhas Cunhal nasceu em Coimbra, na freguesia da Sé Nova. A sua infância, contudo, seria vivida na Serra da Estrela, mais concretamente em Seia, terra de seu pai. Aos onze anos mudar-se-ia, com a família, para Lisboa, onde frequentaria o ensino secundário. Aos dezassete anos, entraria na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, tendo iniciado a sua atividade política, com a filiação no Partido Comunista Português, onde se manteria ativo até ao fim da vida.

    Em 1934, no início do Estado Novo salazarista, é eleito representante dos estudantes no Senado Universitário e, dois anos depois, integra o Comité Central do PCP, seguindo para Espanha onde tomaria parte nos primeiros meses da guerra civil espanhola, ao lado das forças fiéis à “Frente Popular” que tinha ganho as eleições.

    Homem coerente e fiel ao seu ideário político é dono de uma vasta cultura que toca diversas áreas, para além da eminentemente política, como sejam as artes plásticas, a história, a economia ou a literatura.

    Ao longo da vida, é preso várias vezes: 1937, 1940 e 1949.

    Da primeira vez, Álvaro Cunhal tinha apenas 24 anos e foi preso no regresso da Guerra Civil de Espanha. Ele próprio conta o que lhe fizeram no Aljube:

    «Espancaram-me durante horas inteiras até perder os sentidos e ser assim levado para um segredo isolado, estar ali prostrado algumas semanas, ver a cara ao espelho ao fim de quinze dias e não a reconhecer, o corpo todo negro. Mas eu fiquei vivo, outros morreram. Depois de me terem assim espancado longo tempo, deixaram-me cair, imobilizaram-me no solo, descalçaram-me sapatos e meias e deram-me violentas pancadas nas plantas dos pés».

    A última passagem pelo cárcere durou 11 anos, 8 dos quais em total isolamento, no Forte de Peniche. Em 1960, finalmente, protagonizaria a espetacular fuga dessa Prisão, que teria grandes repercussões ao nível da vida interna do Partido, uma vez que resgatou alguns quadros destacados para as suas fileiras.

    Em 1961 é eleito secretário-geral do Partido Comunista Português (cargo que ocuparia até 1992). Depois de alguns anos a viver na clandestinidade, regressaria a Portugal após o derrube do regime fascista, por intermédio da revolução desencadeada pelos militares, no dia 25 de Abril de 1974.

    Faria parte dos I, II, III e IV governos provisórios, como ministro sem pasta, e foi eleito deputado à Assembleia Constituinte em 1975 e, sucessivamente, reeleito para a Assembleia da República, em todas as eleições legislativas até 1992. Nesse ano deixou o cargo de secretário-geral do PCP, sendo eleito pelo Comité Central para presidente do Conselho Nacional do Partido.

    A sua intervenção política passou ainda por uma intensa atividade jornalística, com uma profícua colaboração, ao longo da década de 1930, em diversos jornais e revistas, de que destacamos "O Diabo"; "Sol Nascente"; "Seara Nova"; "Vértice"; em quase todas as publicações clandestinas do PCP, "Avante" e "Militante”; e ainda por uma intensa produção teórica e política de estudo, análise e reflexão sobre a realidade do país e as práticas do Partido.

    A par da sua atividade política e ideológica, assumiu uma faceta literária e artística de relevo, com a elaboração das séries “desenhos da prisão”, a tradução e ilustração de obras de William Shakespeare, a produção de obras históricas de análise social, como “As Lutas de Classes em Portugal nos Fins da Idade Média”, a “Contribuição para o Estudo da Questão Agrária” e “Cinco Notas sobre Forma e Conteúdo”. São ainda deste período algumas das suas obras de ficção mais conhecidas, como “Até Amanhã, Camaradas” e “Cinco Dias, Cinco Noites”, posteriormente adaptadas à televisão e ao cinema, escritas sob o pseudónimo de Manuel Tiago. Podemos acrescentar a estes títulos “A Estrela de Seis Pontas”, “A Casa de Eulália” e “Fronteiras” como obras maiores de Álvaro Cunhal.

    Álvaro Cunhal, uma referência intelectual que não pode ser esquecida, morreu a 13 de Junho de 2005, em Lisboa, com 91 anos, mobilizando as suas cerimónias fúnebres muitos milhares de pessoas.

    ÁLVARO CUNHAL EM ERMESINDE

    O Dr. Álvaro Barreirinhas Cunhal, apesar do seus 84 anos, entusiasmou os jovens da Escola Secundária de Ermesinde, quando no dia 31 de março de 1998, lhes veio falar sobre a Revolução do 25 de Abril. O Dr. Cunhal era, ao tempo, o mais carismático dirigente do Partido Comunista Português, que liderou o seu Partido no período da clandestinidade e depois do 25 de Abril até 1992. Além de líder partidário o Dr. Cunhal é autor de vários livros de carácter histórico-político. Ele e outros camaradas protagonizaram, no dia 3 de janeiro de 1960, uma das fugas mais espetaculares do Forte de Peniche, que era uma das cadeias para prisioneiros políticos, no tempo do regime de Salazar.

    Na Escola de Ermesinde, no Pavilhão Polivalente completamente cheio, Cunhal falou dos valores da liberdade, da mobilização popular pelo 25 de Abril e condenou a Guerra Colonial portuguesa. Igual a si próprio, mereceu bem ser aplaudido de pé por toda a assistência que se sentiu deliciada com a sua capacidade intelectual e comunicativa.

    Por: Manuel Augusto Dias

     

     

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