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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 31-10-2013

    SECÇÃO: Crónicas


    CRÓNICAS DE LISBOA

    “Pare, Escute e Olhe”

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    Longe vão os tempos em que no país existia uma enormidade de passagens de nível nas quais estava colocada uma placa que lembrava, a todos aqueles que pretendiam atravessar as vias férreas: “Pare, Escute e Olhe”. Esse cenário mudou radicalmente, pelo que hoje são em número bastante reduzido e esta diminuição deve-se, por um lado, à eliminação de muitas vias férreas e, por outro, à substituição de várias passagens de nível por vias rodoviárias ou pedonais desniveladas (viadutos ou túneis), conseguindo-se, assim, resolver problemas socioeconómicos significativos, pelos enormes inconvenientes que as esperas implicavam, mas também pela sinistralidade que ocorria nessas passagens. Rebusquei este tema, porque poderemos encontrar nele muita analogia com a circulação rodoviária, essencialmente na “guerra” entre automobilista vs peão. Tal como nas passagens de nível, também nesta matéria as autoridades têm investido e implementado muitas alterações e melhorias, procurando tornar mais eficaz a circulação automóvel e proteger o peão, que é o elo mais frágil neste “duelo”, tal como o é o próprio automobilista, incluindo também os ciclistas e os motociclistas, nos casos de sinistralidade rodoviária, onde o número de mortos e feridos é equiparável a uma guerra, com elevados custos humanos, económicos e sociais. Vergonhosamente, Portugal é o segundo país da Europa ocidental com maior taxa de mortalidade na estrada, segundo dados OMS. No que diz respeito aos atropelamentos, 19 pessoas morreram e 199 ficaram feridas gravemente, na sequência de 2 292 atropelamentos ocorridos até agosto de 2013, conforme dados divulgados a propósito da operação “Pela Vida, Trave”, mas apenas na área fiscalizada pela PSP. Dos 19 atropelamentos mortais, seis ocorreram na passadeira, clarifica a PSP! Na passadeira ou fora dela, não deixa de ser preocupante este número de vítimas, pelo que é urgente tomar medidas de combate a este flagelo. Naturalmente, é o automóvel, agindo sob o comando do seu condutor, quem atropela, mas nem sempre a culpa é deste, porque o comportamento dos peões é não só anárquico como também descuidado e até provocador, com destaque para os jovens e idosos. Nas ruas das nossas vilas e cidades, é usual estes atravessarem fora das passadeiras sem terem o cuidado de verificar se o podem fazer em segurança para si próprios. Mesmo nas passadeiras, igualmente não verificam se é seguro “atirarem-se” para a via, confiando na prioridade que a lei lhe concede e na atenção do automobilista que pode falhar, isto é, não conseguir impedir o atropelamento, por excesso de confiança, falta de reflexos, falha mecânica, etc.. Contudo, uma coisa é a questão legal e outra é a eventual lesão ou morte do peão, que nem a lei nem a punição do condutor infrator lhe restituirá a vida. Por isso, deveria o peão interiorizar, quando pretender atravessar uma via, que deve: “Parar, olhar e atravessar depois em segurança”. Também os utilizadores de bicicletas, felizmente em crescendo, são também eles vítimas e causadores de acidentes, com veículos ou pessoas, porque a sua condução é completamente anárquica (circulam em cima dos passeios, em contra-mão, etc.). Ao contrário dos automóveis, que são obrigados a um seguro de responsabilidade civil, já os ciclistas não têm essa obrigação, tal como não são obrigados a possuírem qualquer licença ou habilitação para conduzir na via pública. «Dado que os ciclistas estão em igualdade de circunstâncias em relação a um veículo a motor e têm um determinado número de regalias novas, segundo o novo código da estrada, ainda por publicar, é fundamental que também tenham um seguro de responsabilidade civil contra terceiros...», defende o ACP.

    As medidas preventivas e punitivas, em vigor, revelam-se insuficientes, pelo que deve apostar-se também em campanhas de educação cívica dos cidadãos, na sua dupla qualidade, isto é, de condutor (também os passageiros) e de peões. E nesse aspeto, poderão e deverão também as autarquias fazer algo mais do que as obras inerentes à circulação - rotundas, viadutos, passadeiras, etc.. Por exemplo, desenvolver ações formativas junto dos seus munícipes e recorrer a voluntários seniores para ajudarem nos locais e horas de maior risco. Confesso que sempre senti um pavor em atravessar passagens de nível, quer como automobilista quer como simples peão, tal como hoje o sinto nas passadeiras e ruas. Também como peão e condutor, receio por mim e pelos outros.

    Por: Serafim Marques

     

     

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