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    Arquivo: Edição de 21-10-2013

    SECÇÃO: Cultura


    Fernando Pessoa foi o “convidado” da 7ª edição das Conferências de Ermesinde

    Fotos MANUEL VALDREZ
    Fotos MANUEL VALDREZ
    Assinala-se no presente ano o 125º aniversário do nascimento da figura que muitos consideram como a mais marcante da cultura portuguesa do século XX: Fernando Pessoa. Pegando nesta efeméride a Ágorarte – Associação Cultural e Artística edificou na noite do passado 11 de outubro a 7ª edição das Conferências de Ermesinde. Noite essa que era também de futebol – a Seleção Nacional enfrentava um decisivo teste na caminhada rumo ao Mundial – podendo residir aqui a explicação para o facto de o auditório da Junta de Freguesia de Ermesinde – local onde decorreu o evento – se apresentar tão despido de público, ficando assim a perceber-se facilmente que em Portugal o fenómeno futebolístico ainda goleia a cultura, por mais altiva e interessante que esta seja, tal como foi esta viagem ao universo do poeta da “Mensagem”.

    Para a história da nossa cidade fica pois mais um brilhante momento cultural que com o dobrar dos anos quando alguém se lembrar de o investigar, e de avaliar o que foram na realidade as Conferências de Ermesinde, a conclusão a retirar não pode andar muito longe de que pelos temas abordados, pelas personalidades criteriosamente selecionadas, e pelos conferencistas convidados, constituíram momentos relevantes que foram fonte de contributos inestimáveis para a elevação cultural da nossa cidade, assim sublinhou na introdução do evento o presidente da Ágorarte, Carlos Faria.

    E não fugindo à regra a sétima edição das Conferências de Ermesinde contou com uma mesa de conferencistas de elevado gabarito, portadores de um currículo cultural invejável, e que contribuíram para que o 125º aniversário de Pessoa fosse vincado com brilho em Ermesinde.

    A primeira a usar da palavra para iniciar a viagem ao universo do escritor nascido a 13 de junho de 1888 foi Maria do Carmo Castelo Branco Vilaça de Sequeira, uma habitual presença nas conferências, a qual para além de outros cargos de elevada envergadura é a presidente da Universidade Sénior da Ágorarte, e cuja conferência em torno de Pessoa girou em volta do “Livro do Desassossego”, assinado por Bernardo Soares, o semi-heterónimo do escritor que na voz da conferencista é extremamente importante quando se pretende estudar a obra pessoana. Trata-se de um livro que tem vindo a ser fragmentado e interpretado, por assim dizer, por inúmeros críticos/investigadores de Pessoa, tendo Maria do Carmo Castelo Branco Vilaça de Sequeira traçado precisamente diversas análises tecidas por esses críticos/investigadores num minucioso trabalho por si elaborado, ela que é igualmente uma “especialista” da obra pessoana. “Livro do Desassossego” que é tido como a autobiografia de Fernando Pessoa, escritor que fala desta obra como a biografia de alguém que nunca teve vida, «nestas impressões sem nexo, nem desejo de nexo, narro indiferentemente a minha autobiografia sem factos, a minha história sem vida. São as minhas confissões, e se nelas nada digo, é que nada tenho a dizer», escreve Pessoa.

    Bernardo Soares é, ainda segundo a conferencista, a mente alheia de Pessoa, um semi-heterónimo que cruza temas e vozes dos restantes heterónimos do escritor.

    O conferencista seguinte foi apresentado por Carlos Faria como alguém que não é fácil de descrever em termos biográficos. Um nome ímpar na cena cultural nacional e internacional com uma extensa e riquíssima obra, um homem sobre o qual um dia a antiga diretora do “Primeiro de Janeiro”, Nassalete Miranda, disse: «ser um Homem cuja biografia é sublinhada pela insistência, persistência e resistência às modas e à falta de bons modos!!!». Salvato Trigo é o seu nome, personalidade cuja obra mais emblemática, digamos assim, é a universidade, e hoje também Fundação, Fernando Pessoa, da qual ele é o mentor e atual reitor. Em Ermesinde o ilustre conferencista traçou uma espécie de considerações biográficas de um «poeta cuja biografia é sua própria obra», conforme sublinhou. Recordou os tempos de Pessoa em Durban (África do Sul), onde viveu grande parte da sua juventude, e onde travou conhecimento com autores como Shakespeare, Voltaire, Lord Byron, Charles Dickens, entre outros.

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    Altura em que o poeta nascido em Lisboa inicia o seu percurso literário, escreve e publica os seus primeiros poemas, em inglês, traduz igualmente alguns dos mais reputados escritores ingleses daquele tempo, até que regressa ao seu Portugal onde revoluciona por completo o mundo cultural lusitano.

    Figura cimeira do modernismo português, ele afirma-se como um dos maiores e mais sublimes poetas lusos de todos os tempos. Publica além disso ensaios críticos em revistas, ele próprio esteve na génese da afamada revista “Orpheu”, veículo de novas ideias e novas estéticas. Um pouco mais à frente nesta viagem biográfica de Pessoa, Salvato Trigo sublinha a importância que a cidade do Porto teve na obra do autor. O Porto, «o cais de partida da heteronímica pessoana», frisou o conferencista.

    Findas estas extensas e intensas conferências foi altura de terminar em beleza uma noite sublime, com a leitura de diversos poemas do homenageado, pela voz de Conceição Lima, autora e produtora de um programa semanal de poesia na Rádio Vizela.

    Escreveu-se pois mais uma página marcante da cultura local pela pena da Ágorarte.

    Por: Miguel Barros

     

     

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