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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 31-07-2013

    SECÇÃO: História


    O Congresso Português coloca Portugal em Guerra

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    No próximo dia 7 de agosto completam-se 96 anos sobre a histórica decisão do Congresso Português, de aceitar a participação de Portugal na Frente Ocidental da Primeira Guerra Mundial, correspondendo assim ao convite formal, datado de 15 de junho de 1916, da velha aliada Inglaterra.

    Já se adivinhava esse desenlace após a Declaração de Guerra da Alemanha a Portugal, em 9 de março de 1916. Aliás, o conflito luso-alemão já se vinha arrastando, há algum tempo, no sul de Angola e norte de Moçambique, o que obrigou Portugal a defender-se constituindo um Corpo Expedicionário Português para aqueles territórios em África, a que se sucederia, desde 22 de julho de 1916, a constituição de um novo Corpo Expedicionário Português, em Tancos, sob o comando do general Norton de Matos, para combater nas trincheiras da Flandres e em que participaram 30 mil soldados.

    Tudo começou, há 99 anos – no dia 28 de junho de 1914 – em Serajevo, com o assassinato do Arquiduque Francisco Fernando e de sua esposa, herdeiros do trono da Áustria-Hungria, pela mão de um nacionalista sérvio da Bósnia-Herzegovina, anexada seis anos antes. E, assim, começava a I Guerra Mundial: de um lado, a Tríplice Aliança (Alemanha e Áustria-Hungria; a Itália não entraria na guerra ao lado dos seus aliados) e de outro, a Tríplice Entente (França, Rússia e Grã-Bretanha).

    Esse assassinato foi a causa imediata para o início da Guerra que começou um mês depois (28 de julho de 1914), esgotado o Ultimato que a Áustria-Hungria fizera à Sérvia. Mas, entretanto, outros problemas atingiam as principais nações europeias no início do século XX. O século XIX havia criado feridas difíceis de curar, com os seus interesses territoriais. Alguns países estavam extremamente descontentes com a divisão da Ásia e da África, ocorrida no final do século XIX, sobretudo na Conferência de Berlim (1884-1885), também de má memória para Portugal. A Alemanha e a Itália tinham ficado fora do processo neocolonial. Enquanto isso, a França e a Inglaterra viam reforçados os seus interesses coloniais, explorando territórios bastante ricos em matérias-primas.

    A rivalidade entre a Alemanha e a França também estava exacerbada, pelo facto desta ter perdido, na sequência Guerra Franco-Prussiana, já na segunda metade do século XIX, as ricas províncias da Alsácia-Lorena, que pretendia reaver o mais depressa possível.

    Colidia o revanchismo francês com o pan-germanismo que pretendia unir todos os países de origem germânica numa só grande nação alemã, na sequência do que já fizera Bismark no século anterior.

    Iniciado o conflito, os países, numa questão de dias, foram-se sucedendo em mútuas declarações de guerra. Portugal, velho aliado da Inglaterra, esperançado na manutenção das colónias africanas, e desejando prestigiar o seu regime republicano, no cenário internacional, também participou nesta Guerra. Primeiro, em África, para defender Angola e Moçambique dos ataques alemães, mais tarde (a partir de 1917), na Frente Ocidental, em território francês.

    Estávamos na fase das “guerra das trincheiras”, quando o Corpo Expedicionário Português chegou à Flandres Francesa. Ficou assim conhecida esta fase da guerra de “posições” porque as principais batalhas se travam nas trincheiras. Aí, os combatentes ficavam centenas de dias tentando (sobre)viver, lutando pela manutenção dos seus territórios e, se possível, tentando conquistar pequenos pedaços de território. A fome, os gases lançados pelo inimigo e as doenças eram os principais males de que padeciam os nossos soldados.

    Esta Guerra Mundial foi a primeira da humanidade, em que se combateu em terra, mar e ar e, nela, também surgiriam, pela primeira vez, novas tecnologias bélicas como é, por exemplo, o caso dos poderosos tanques de guerra e aviões. Enquanto os homens mobilizados para a guerra aos milhões (só a Rússia recrutou 13 milhões de combatentes) lutavam nas trincheiras, as mulheres deixaram o seu ambiente doméstico e ocuparam os lugares deixados vagos pelos homens, nas diversas indústrias, designadamente nas que produziam material de guerra.

    Quando o conflito terminou, em novembro de 1918, foi necessário reorganizar o mapa da Europa e estabelecer uma nova ordem internacional. Os tratados de paz, assinados em 1919 e 1920, alteram profundamente a geografia europeia (desintegraram-se os impérios: Alemão, Austro-húngaro, Russo e Otomano que deram origem a novos países independentes, sobretudo no leste Europeu). Deste modo, a realidade política e étnica foi substancialmente modificada, criando novos problemas no relacionamento entre as nações.

    UM DOS PROTAGONISTAS

    Afonso Costa, como um dos mais destacados estadistas republicanos, pressionou a decisão da entrada de Portugal na Guerra. Consciente da situação internacional que se vivia e das consequências que a 1ª Guerra Mundial poderia trazer ao Império Português, defendeu, inequivocamente, a entrada na Primeira Grande Guerra. Afonso Costa argumentava que só dessa maneira Portugal se poderia livrar da tutela inglesa e defender eficazmente os seus interesses nos territórios ultramarinos, designadamente em Angola e Moçambique.

    Aliando-se a António José de Almeida, constituiu a chamada “União Sagrada”, de que seria chefe do respetivo Governo até dezembro de 1917, quando se deu o golpe de Sidónio Pais, que, como sabemos, era contrário à entrada de Portugal na Guerra.

    Afonso Costa foi perseguido e preso. Uma vez libertado, partiu para França, onde se exilou, voltando a Portugal apenas após a morte de Sidónio Pais, em dezembro de 1918.

    Em 1919, seria nomeado Chefe da Delegação Portuguesa à Conferência de Paz e à Sociedade das Nações (que apregoava os mesmo objetivos que mais tarde seriam retomados pela Organização das Nações Unidas: manutenção da paz a nível internacional e promoção da cooperação entre todos os países) de cuja sessão extraordinária se tornaria Presidente (em março de 1926), o que mostra o seu enorme prestígio internacional. Contudo, após o Golpe de Estado de 28 de maio de 1926, foi demitido do cargo de Presidente da Delegação Portuguesa na Sociedade das Nações.

    Devido às enormes dificuldades com que Portugal se debateu na década de 1920 (instabilidade política, inflação galopante, desvalorização da moeda, insegurança social), o Golpe Militar de maio de 1926 instaurou a ditadura militarista, a que se seguiria o Estado Novo Salazarista, alguns anos mais tarde.

    O seu país passou a viver sob um regime político fascizante que não era exatamente aquele por que, desde novo, sempre se batera, por isso, Afonso Costa viria a morrer no exílio (França) em 1937.

    Por: Manuel Augusto Dias

     

     

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