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Foto URSULA ZANGGER |
Wikiterra – uma enciclopédia de como criar e mostrar teatro
Nos passados dias 2,3 e 4 de novembro, o público ermesindense pôde assistir a uma reposição da peça “Wikiterra” – uma produção conjunta das companhias Estaca Zero Teatro e Cabeças no Ar e Pés na Terra, que já tinha estado em cena no Teatro Latino (Sá da Bandeira), no Porto.
A peça, criação coletiva original, pretende fazer uma abordagem enciclopédica “digital” crítica e divertida, da história do mundo (ou do planeta, melhor dizendo), abarcando várias eras, desde os primórdios de antes da era dos Homens até à atualidade.
Representada por quatro excelentes atores (na gestualidade e na voz), propondo vários quadros que se vão sucedendo com leveza e comicidade várias – o que permite leituras de um público muito amplo (nas idades e nas preocupações), a peça surpreende pela sua escolha dos flashes do mundo e, sobretudo, por alguns artifícios dramáticos muito bem concebidos e executados, como quando a cabeça decapitada de uma personagem é exibida ao público, ou como quando a perna de uma personagem é esticada até mais do dobro do seu comprimento, como se fosse borracha, nesta ou noutra personagem.
A cena dos dinossauros é muito divertida e é um dos exemplos de propostas aceites por públicos de todas as idades, conseguindo ainda a grande virtualidade de interagir com o público, situação aliás que está presente em muitos momentos da peça, que tem que ser de uma evidente geometria variável para se encaixar no público presente.
O dinossauro (e outras personagens) de muletas é um dos exemplos da comicidade feliz encontrada pelo Estaca Zero Teatro e pela encenação de Hugo Sousa. Sem conseguirmos (ou querermos) deslindar a quota-parte de uns e outros, há que reconhecer que o resultado desta simbiose é inegavelmente feliz.
Peça criada a partir de uma ideia original do Estaca Zero Teatro, temperada com a intervenção criativa e integradora do encenador convidado, como explicaram no fim aos espetadores (mesmo que os mais inquisitivos fossem curiosamente os mais jovens), num processo de desvendamento teatral muito enriquecedor para o público e para os protagonistas da produção, “Wikiterra” desfia o percurso humano, sempre numa dimensão de universalidade e de contemporaneidade muito arguta.
A peça põe em cena o homem primitivo, as lutas entre Egípcios e Gregos e entre estes e os Romanos, e depois entre estes e os Bárbaros, pela marca civilizacional dominante. Convoca Joana d'Arc, Galileu, traz Napoleão fora de tempo para a boca de cena, no que é um divertido recurso estilístico dramatúrgico, e segue por aí fora, até ao tempo da economia global, com passagem pelos momentos trágico-dramáticos da peste negra, da Revolução Francesa ou do Nazismo (e de passagem, pelas utopias ou pelas distopias que estão longe de perecer, umas e outras).
Parte da receita dos espetáculos de Ermesinde reverteram a favor de várias associações de solidariedade social que acordaram colaborar com a divulgação da peça.
FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA
Conceito, texto original, dramaturgia e espaço cénico
CRIAÇÃO COLECTIVA
Encenação e desenho de luz
HUGO SOUSA
Banda sonora original
PAULO COELHO DE CASTRO
Por:
LC
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