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    Arquivo: Edição de 25-09-2012

    SECÇÃO: Crónicas


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    Mitos e verdades

    Quem se vai habituando a ter paciência para ler os “post-it’s” que vou partilhando vai imaginar que eu, numa tarde de domingo, que tem o dígito 9, estou na tranquilidade do meu cantinho de ideias a divagar sobre o saber e o conhecimento com que a vida me vai presenteando e que tem permitido transformar-me num ser humano mais completo logo, melhor para mim, porque assim também é mais fácil conviver comigo mesma, a pessoa que sou nas 24 horas que o dia tem.

    Hoje, para mim, é fácil ter a ponta por onde quero começar enquanto vou dedilhando pelo teclado do computador ao som de música, em que me vão saindo as letras que formam as palavras, que por sua vez vão completar as frases que irão construir este texto onde vou tentar espelhar pequenas “partituras da vida”,

    Começo na emoção de ontem, em que após mais de 30 anos, voltei a entrar na “piscina de Leça da Palmeira”, agora a Piscina das Marés, num projeto de recuperação fantástico que teve a assinatura do arquiteto Siza Vieira e que nos dá a sensação de estarmos dentro de um pequeno braço de mar.

    Tive sorte porque, num final de tarde um pouco nublado, o tempo estava quente e ameno, favorecendo o evento a que ia assistir – o lançamento do livro escrito por dois jovens adultos que já tive o gosto de mencionar numa crónica publicada em 9/2/2012, “Onda de Entusiasmo” – pessoas que admiro pela sua coragem, ousadia e se calhar até atrevimento em desafiar a “má maré” de um país a quem eles, mais uma vez, se atrevem a mostrar obra feita.

    Num convite que me honrou e que aceitei precisava mesmo de olhar e conhecer pessoalmente estes rostos e poder perguntar-lhes o que os fazia mover. Parte das respostas obtive-as na intervenção que ouvi ao presidente da Câmara da “sua terra” que os elogiava e enaltecia a reviravolta que eles tinham incutido nas piscinas do concelho com o incremento de uma dinâmica que só mesmo as pessoas apaixonadas pelo seu trabalho poderiam ter extraído em tanta obra feita.

    Quando este presidente demonstrou toda a crença que tinha na sua equipa, aquela que o ajuda a levar avante os projetos de desenvolvimento cada vez mais exigentes por um orçamento cada vez mais reduzido, referiu-se naquele caso em particular, ao estilo da vereadora que liderava a área de desporto, associada a estes jovens a quem ela, por sua vez, tinha decidido deixar correr atrás dos seus sonhos, limitando-se muitas vezes a confiar, delegando – a atitude de bom senso que lhe permite poder libertar-se para abraçar outras áreas mais carentes de si e da sua equipa.

    Pelo que me foi dado presenciar, parece que o resultado tem superado as expetativas e, enquanto ouvia este presidente falar, recuei na minha memória uns dias, atrás quando passei por um processo de seleção e avaliação que eu fui medindo, em qualidade e como ser humano, desde o seu primeiro passo. Começou numa pessoa de nome Catarina, jovem e de atitude tão elevada no seu desempenho, que me fez ficar curiosa e seguir o passo seguinte dum processo que me conduziria a uma pessoa de igual “calibre”, de nome Carla, aquela que nos ouve, que nos respeita, que nos identifica o potencial de termos a ousadia e querermos contribuir com alguma coisa.

    Foto GL
    Foto GL
    Não se intimida ou amedronta porque, simplesmente “tem medo que lhe fuja o tapete” e toma a decisão de não decidir na retaguarda, antes faz-me ficar frente a frente com uma pessoa robusta de carácter que me ouve atentamente e perante a mulher que se apresenta como a que quer trabalhar na equipa dos melhores, dos “duros” e que teve como “endurance” a sua própria vida lhe estende uma mão, robusta também no seu cumprimento e selamos um contrato em que cada uma das partes dará o melhor de si.

    Num projeto que eu não contava abraçar e em que queria somente medir a minha capacidade de resistência foi efetivamente este tipo de atitude que me fez ficar – “o que podemos aprender consigo?” – humildade esta que contrariou completamente uma atitude também usual nos tempos de hoje – “onde estão os seus pontos fracos para atacarmos e fazê-la tombar?”.

    Aqui aprendi outra grande lição: as árvores também têm nobreza de carácter e aqui distingo o “Carvalho”, um nome forte ligado a este processo de que falo, e que na mitologia é considerada uma árvore bíblica, de poder curativo e de luz – a oportunidade, porque eu aprendi a ver em tudo uma oportunidade.

    Claro que soube bem tecer esta consideração numa reflexão feita juntinho ao mar e rodeada por tanta gente bonita como estava a acontecer naquele momento e quando o presidente passou a palavra aos autores eu ouvi-lhes os agradecimentos que, na sua primeira pessoa foram dirigidos aos seus e que me emocionou porque ouvia falar em avós que já tinham “mudado de estação” e outros vivos ,como era o caso de uma avozinha que lá estava entre mães, pais e tantos outros membros das suas famílias que marcavam a sua presença orgulhosos, como não poderia deixar de ser.

    No final deste evento eu precisei de regressar tranquilamente a pé. Esta caminhada ajudava-me a fazer as ponderações sobre as emoções daquela bonita tarde de sábado em que desenhava mentalmente uma crónica para a qual já procurava um nome e numa primeira escolha seria “João ao Cubo e o… Ricardo”

    João, o pai orgulhoso que não deixava passar a oportunidade de registar o acontecimento em fotografia, como se lá coubessem todas as emoções que vivenciava naquele momento. João o autor a par com o seu parceiro e também autor Ricardo, a quem numa dada altura do seu discurso chamava “irmão”. Claro que dá para perceber que assim ficava João ao quadrado, mas sempre se diz que por trás de um grande homem estará uma grande mulher e aqui a regra não foge à exceção, porque falta a João a menina de olhos azuis da cor do céu.

    Inexcedível na azáfama como se de uma anfitriã se tratasse, certo é que esta menina de sorriso doce que tem associada a si Maria como primeiro nome, sempre esteve atenta a tudo e a todos para que nada falhasse e tomou depois o lugar que era “legitimamente” dela, sentando-se na mesa onde eram autografados os livros: o braço direito de dois autores que espero bem cumpram a promessa que fizeram de dar seguimento a mais obra feita na publicação de novos trabalhos.

    Na paragem e enquanto esperava pelo autocarro abri o livro “Mitos e Verdades – Hidroginástica”, onde podia ler o currículo invejável destes dois e de seguida pensei que construir este pequeno apontamento era a forma de devolver ao João e ao Ricardo os votos de uma vida plena de conquistas que lá me escreveram a par com o agradecimento por “acreditar e partilhar com outros os seus caminhos”.

    Obrigado digo eu, por me ter sido dada a oportunidade de não ter conhecido “mitos” mas sim ter encontrado verdades, aquelas que têm rosto e representam o tal acreditar que ainda vi espelhado nos olhos de tantos que espero tenham a coragem de não deixar que lhes parem os sonhos, porque o sonho sempre há-de comandar a vida.

    Por: Glória Leitão

     

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    · O beijo

     

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