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    Arquivo: Edição de 08-05-2012

    SECÇÃO: Crónicas


    CRÓNICAS DE LISBOA

    O alargamento das ligas do futebol profissional é um erro estratégico

    Pode dizer-se que o futebol português tem vivido num constante défice estrutural e sempre em fuga para a frente. Esgotadas algumas fontes de “financiamento”, logo outras se inventavam. Contudo, como vivemos agora também numa crise conjuntural, obviamente o futebol acaba também por sofrer ainda mais, porque já tem um crónico défice estrutural. Assim, muitos clubes desapareceram com as crises, mas outros se perfilam nesses destino, pois vivem em agonia financeira e em incumprimento nos pagamentos dos ordenados aos seus profissionais. Por exemplo a U.D. de Leiria, cuja ameaça de extinção da SAD parece ser uma realidade muito próxima.

    Perante aquelas duas razões (os dois tipos de crise), estranha-se que os dirigentes falem, insistentemente, no alargamento das duas ligas profissionais de futebol, como se essa fosse a “varinha mágica” para a resolução dos problemas no futebol profissional no nosso país. Se na atualidade os jogos com poucas centenas de espetadores são em grande número, nas duas ligas pretende-se aumentar esse número de jogos cujas receitas não cobrem as despesas inerentes? Isso é contribuir para o agravamento do défice, pois só os jogos em que intervêm os “grandes” clubes portugueses têm assistências dignas, exceção feita aos jogos entre eles, que enchem os respetivos estádios. Afinal, quem acaba por financiar a Liga são os quatro grandes, mas mesmo assim o défice deles e dos restantes é enorme. Numa decisão racional, a I e II Ligas portuguesas deveriam ser reformuladas, poupando-se nas despesas e ganhando-se mais no interesse dos jogos, quer do ponto de vista desportivo, quer no ponto de vista financeiro. É que tomando apenas as seis primeiras equipas da I Liga, aquelas que contam para as estatísticas internacionais do futebol, o nosso campeonato da I Liga “escapa”, mas se incluirmos as 16 ou as 18 equipas é um desastre, pois a maioria dos jogos não tem qualquer interesse em nenhuma das componentes atrás citadas. Nem a televisão o salva, ainda mais com a concorrência, agora em diversas horas e dias, das transmissões televisivas e em doses massivas de muitos jogos das grandes e competitivas ligas europeias. Ali, mesmo os jogos entre os mais “pequenos” têm 30 ou 40 vezes mais espetadores do que os da nossa I Liga, para não falar da II Liga, cujos campos têm meia dúzia de espetadores.

    Assim, o futebol profissional deveria assentar em:

    1) Uma I Liga constituída por 10 equipas, em vez das 16 atuais e da 18 pretendidas, e cuja prova seria disputada em 4 voltas, com 36 jornadas no total. No final, desceriam os 2 últimos clubes da classificação.

    2) Uma II Liga que seria dividida em duas zonas – N e S, cada uma com 12 ou 14 clubes. Concluída a primeira fase, em que todos jogariam contra todos e em duas voltas, os primeiros classificados de cada série (N e S – com o número de clubes a definir) juntar-se-iam numa única série nacional, e, a duas voltas, jogariam entre si para apurar o campeão nacional da II Liga e as equipas que subiriam à I Liga. O número de jornadas, nesta segunda fase, dependeria, obviamente, do número de equipas que passariam da primeira fase de cada uma das séries N e S.

    3) As últimas equipas classificados de cada série (N e S) voltariam a jogar entre si e a duas voltas, em cada série a que pertenceram na primeira fase, para definir as equipas que desceriam à 2ª Divisão Nacional.

    4) A II Liga começaria mais cedo a competir e teria as paragens mínimas durante a época.

    Nesta disputa pelos alargamentos estranha-se que os grandes clubes (Porto, Benfica, Sporting e Braga) não se manifestem contra (apenas um o fez), mas também outras entidades, porque o alargamento é um erro estratégico. Ele está a ser exigido pelos pequenos clubes da I e II Ligas, convencidos que com isso adquirem o equilíbrio financeiro. Puro engano, como o comprovam as últimas épocas. Aliás e se bem se lembram, a I Liga foi reduzida de 18 para 16 e ficou acordado que, posteriormente, baixaria para os 14, que já teve em tempos. O Presidente da LPFP está “amarrado” a um compromisso que tomou no processo eleitoral, e por isso muitos dos pequenos clubes votaram nele, e agora não sabe como “descalçar a bota”. Fuga para a frente até ao abismo? Senhores dirigentes, ponham os olhos na atual situação da U.D. de Leiria, mas não só, e através dela conseguirão ver o poço em que o futebol português está metido. Haja pois bom senso, em defesa do futebol, sem esquecer também a reorganização das competições do futebol “não profissional”, como parte integrante da pirâmide em que assenta o futebol.

    Por: Serafim Marques

     

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