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    Arquivo: Edição de 25-01-2012

    SECÇÃO: Local


    CARTAS AO DIRETOR

    Caminhos de cabras

    Hoje prevariquei. Quero pedir desculpa a todos os ermesindenses pelo sucedido, mas tenho de admiti-lo, penitenciar-me e assumir que prevarico muitas vezes, já que sou obrigado a tal, juntamente com centenas de condutores que pretendem sair da cidade em direção ao Porto. Passo a explicar: quem utiliza o carro para se deslocar constata que sair de Ermesinde é problemático; os fluxos estão estrangulados e, em condições normais, assiste-se todos os dias a filas inexplicáveis dadas as condições rodoviárias.

    A prevaricação que refiro prende-se com o facto de ser obrigado a passar em cima de traços contínuos, ocupar faixas contrárias e até passar nas chamadas “zebras”. Poderão achar que não será problemático, afinal todos o fazem, mas, pessoalmente, sinto-me um prevaricador que não tem em conta questões básicas de cidadania e que contribui para o tamanho das filas de trânsito, poluição, falta de bem estar e qualidade de vida da cidade.

    Quem passa atualmente na rua das Presas de Sá, além de ser obrigado a violar as regras do Código da Estrada que enunciei, é confrontado com obras a decorrer há meses, que a transformaram num autêntico “caminho de cabras” e que em alguns dias uns letreiros colocados sem qualquer regra nos obrigam a efetuar autênticas “gincanas” pelas ruas Duarte Lobo, Espírito Santo e Padre Américo. Desde já peço desculpa aos moradores da zona pelos incómodos que proporciono ao passar nesses locais, que habitualmente seriam áreas habitacionais calmas e serenas.

    Já que falo em “caminhos de cabras”, não posso deixar de mencionar que uma das alternativas ao fluxo de trânsito seria a rua José Joaquim Ribeiro Teles. Contudo, e mais uma vez, obras a decorrer no local fecharam a mesma ao trânsito. Desconheço a necessidade de coincidirem as obras no espaço temporal. Quero acreditar que foi mesmo necessário, mas deveriam ser estudadas alternativas válidas evitando esta situação ridícula.

    Mais ridículo foi, entretanto, abrirem a rua José Joaquim Ribeiro Teles e não terem finalizado as ditas obras. Sim, não acredito que as tenham finalizado porque encontrei tampas de saneamento desniveladas e o próprio pavimento colocado com problemas. Das duas uma, ou a pavimentadora utilizada estaria avariada ou o pavimento foi colocado à mão. Relativamente às tampas de saneamento reconheço que a tecnologia utilizada nesse serviço ainda não está muito desenvolvida na região; basta circularmos um pouco na zona e tropeçamos amiúde nesses malditos buracos metálicos.

    Outro aspeto interessante é que desconheço os donos das obras. Sendo públicas, não se compreende a falta de placas indicadoras dos donos, executantes, prazos de execução e custos. Não sei se será obrigatória essa indicação mas pelo menos ficava a saber quem é que está a gastar tão mal o dinheiro ao não exigir de quem executa alguma qualidade. E ficava a saber quem me obriga a prevaricar e a incomodar algumas pessoas com as “gincanas”. Uma coisa eu sei, seja quem for o dono teve poder para enviar a polícia municipal para junto dos “desvios” verificar se nos “desviamos”. Reconheço que cada vez que piso um traço contínuo junto a um agente da autoridade sem que ele me multe sinto um misto de alegria e vergonha; vergonha por pensar “ao estado a que isto chegou!”. Alegria por não ser multado.

    Na verdade devemos estar contentes por estarem a decorrer obras nesta altura. Será sinal que nem tudo está mal. Não discuto a necessidade das mesmas, ninguém no seu juízo perfeito faria obras sem necessidade. Discuto é a forma como estão a ser executadas. Se o trânsito em Ermesinde é aquilo que sabemos em condições normais, não será difícil deduzir o que acontece quando se fecham ruas desta maneira.

    Posto isto, mais uma vez peço desculpa aos ermesindenses, mas julgo que percebem o meu desalento e aposto que me irão desculpar, dada a situação.

    De qualquer forma, quando as obras terminarem, o problema dos fluxos de trânsito irá manter-se. Neste ponto os autarcas em funções têm responsabilidade no que se passa e esses, meus amigos, não lhes peço para os desculparem. Quem está na política sujeita-se ao sufrágio e deve tentar resolver estes problemas. Politiquice é diferente de política. Como acho que todos devemos contribuir para o bem de todos, ou seja, todos podemos fazer política, deixo uma ideia no ar e lanço um repto à Junta de Freguesia de Ermesinde. Porque não faz uma campanha pela utilização do transporte público? Sabiam que Ermesinde tem o privilégio de ter uma estação de comboios bem no centro, com 92 ligações ao Porto em 24 horas, com interface ao Metro e STCP? Com um trajeto de 11 minutos e médias de atraso anuais de 10 minutos? Em comboios mais modernos dos que os existentes na maioria das cidades europeias?

    Este é só um exemplo do que temos perto de nós e que, por uma questão sociocultural, não utilizamos como deve ser. Preferimos estar parados nas filas, mas dentro dos nossos carros a lamentarmos.

    Há muito que pode ser feito e devemos exigir de quem tem a responsabilidade política obras feitas como devem ser e, sobretudo, sem fecharem ruas desta forma. Contudo a contribuição para tentar melhorar a qualidade de vida nesta cidade começa, sob muitas formas, em cada um de nós.

    Valter Caetano

    Ermesinde, Janeiro 2012

     

     

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